Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Fratura como de Chris Weidman, que não é incomum, requer cirurgia simples

Chris Weidman deixa o octógono após quebrar a perna na luta contra Uriah Hall - Alex Menendez/Getty Images
Chris Weidman deixa o octógono após quebrar a perna na luta contra Uriah Hall Imagem: Alex Menendez/Getty Images

Bárbara Paludeti

De VivaBem, em São Paulo

25/04/2021 14h08

O americano Chris Weidman quebrou a perna neste sábado (24) durante uma luta do UFC nos EUA. Ele sofreu uma lesão idêntica à do brasileiro Anderson Silva em 2013.

Diante do jamaicano Uriah Hall, o lutador fraturou a perna direita ao ter seu chute bloqueado pelo rival com 17 segundos de confronto. A cena é impressionante, já que dá a impressão que a canela de Weidman fica amolecida, parecendo uma borracha.

Segundo Brian Coimbra, ortopedista formado no Hospital das Clínicas de São Paulo e membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), a fratura em questão é três vezes mais comum nos homens e também a mais frequentes nos ossos longos do nosso corpo.

Carlos Tucci, ortopedista do Instituto Vita (SP), comenta que não se trata de uma lesão incomum, por mais incrível que pareça. "É um tipo de fratura que se vê com frequência. É muito comum esse tipo de fratura no meio do osso, por exemplo, no futebol ou numa queda do cavalo", explica.

"A perna tem um osso mais grosso, a tíbia, e um mais fino, a fíbula. O jeito que ele bateu na canela do outro atleta foi exatamente o mecanismo que precisava para quebrar os dois ossos na metade deles. Ele bateu com força necessária para quebrar. A sensação de borracha é porque quando um osso se quebra, músculo e pele se mantêm intactos", afirma Tucci.

Para que a perna apresente uma deformidade elástica tão grande e fique com este aspecto de borracha, você tem que fraturar, obrigatoriamente, os dois ossos, a tíbia e fíbula. A tíbia, conforme se aproxima do tornozelo, vai ficando mais fina, o que a deixa mais frágil, além disso, na parte da frente tem menos "proteção" de músculos, o que a faz absorver mais energia e aumenta o risco de fraturas.

"Justamente por ele ser um atleta, consegue acertar o chute no oponente com alta velocidade. No caso do Weidman, ele teve a infelicidade de bater a perna no joelho do oponente. Bateu a parte fina da tíbia dele [a canela] na parte grossa da tíbia do oponente [o joelho]", ressalta Coimbra.

Para o ortopedista da SBOT, um fator complicador é a fratura ter sido exposta, ou seja, ter havido rompimento da pele, o que pode facilitar a entrada de bactérias na ferida, aumentando o risco de uma infecção.

Fator de risco

Ana Paula Simões, ortopedista, médica do esporte e presidente da SPAMDE (Sociedade Paulista de Medicina Desportiva), conta que esse tipo de fratura já é esperada em atletas de alto rendimento por causa da chamada síndrome do déficit energético.

Os atletas, principalmente em esportes que precisam entrar em determinada faixa de peso, como o UFC, param de consumir certos alimentos que proveem a energia necessária para o organismo e têm uma diminuição de massa gorda o que leva o corpo encontrar energia em outros lugares: fonte óssea, mineral, massa magra, favorecendo as lesões caso não seja feita uma reposição nutricional adequada.

"O osso pode ficar amolecido, o que chamamos de osteopenia, mas só com exames dá para saber como estava a densidade mineral óssea dele [Weidman] para afirmar que o osso estava amolecido junto com essa questão do déficit energético. Nos esportes de luta, se o osso já está fragilizado, parece mesmo mais impactante", acrescenta Simões.

Para ela, é possível, sim, e muito provável, que ele tivesse desmineralização óssea por falha de metabolismo, sobrecarga de treino ou déficit energético.

Tratamento e recuperação

O tratamento para uma fratura como a Weidman é cirúrgico. "Como você tem geralmente muito inchaço na região, precisa primeiro estabilizar as lesões com um fixador externo —espécie de parafuso— por cerca de 10 dias e aí você faz a cirurgia definitiva", explica Coimbra.

A cirurgia, que leva de 1h a 1h30 e é simples, segundo Tucci, vai fixar a tíbia com uma haste intramedular metálica [dentro do osso] e, teoricamente, no dia seguinte, o paciente já pode colocar o pé no chão e ter alta, mas respeitando o limite de dor e, normalmente, com uso de muletas.

Segundo os três especialistas consultados por VivaBem, a recuperação leva de 6 a 8 semanas, dependendo da cicatrização e da consolidação óssea. E não é porque ele é um atleta de alto rendimento que o prazo muda. O acompanhamento é feito por radiografias.

Mas, no caso de um atleta, a questão é mais psicológica. "O atleta vai ter um abalo na sua confiança, de recuperar movimentos e golpes. O retorno a uma atividade de elite pode levar mais de um ano", ressalta Coimbra.

Simões acrescenta: "Não adianta só colar o osso, ele precisa recuperar mobilidade, força, potência e condicionamento físico, e isso vai demorar um pouco mais. O tempo que ele vai ficar parado acaba descondicionando-o, por isso ele vai precisar de uma boa equipe para manter o condicionamento físico enquanto se recupera da fratura. Dá para estimar, no mínimo, uns 12 meses", finaliza.