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Descobri um câncer de tireoide na pandemia fazendo exames de rotina

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Ananda Portela

De VivaBem, em São Paulo

26/04/2021 04h00

Pelo menos uma vez ao ano, minha ginecologista pede que eu faça um monte de exames, o famoso check-up. Em dezembro do ano passado, fiz exames de sangue, ultrassom abdominal, da mama e da tireoide. Com os resultados dos de sangue em mãos, minha médica confirmou que eu desenvolvi Tireoidite de Hashimoto, uma doença autoimune em que meu corpo produz anticorpos contra a tireoide.

Essa inflamação provocada pelo meu organismo pode causar a destruição da tireoide ou a diminuição da atividade dela, o que pode levar ao hipotireoidismo. Mas, no meu caso, os hormônios T3 e T4 —quando alterados, indicam mau funcionamento da glândula— estavam normais. Sem os exames de imagem, tudo parecia bem.

Por conta da pandemia do novo coronavírus, que pegou em cheio minha família, só consegui fazer o ultrassom da tireoide no fim de janeiro. Minha ginecologista, com os resultados, identificou um nódulo na minha tireoide e já pediu a PAAF, punção aspirativa com agulha fina, uma espécie de biópsia.

A punção ficou pronta e eu já tinha o resultado em mãos, mas não quis olhar o significado do resultado no Google para evitar o estresse. Minha mãe sabia o que era.

Em 2001, ela teve câncer de tireoide. Aos 36 anos, ela precisou retirar a tireoide porque tinha três tumores malignos e dois benignos. Por isso, quando viu o resultado da minha punção, percebeu que eu tinha exatamente o mesmo tumor que ela: carcinoma papilífero, responsável por quase 80% dos tumores de tireoide. Aguardei o diagnóstico do médico.

No dia 6 de março, me consultei com um endocrinologista indicado por um médico da família e uma grande amiga. E tive uma aula de biologia por uma hora. Ele me explicou tudo com a paciência de um professor da educação infantil, entendi profundamente o momento pelo qual estava passando.

Segundo explicações do médico, de 10% a 15% da população brasileira tem ao menos um nódulo na tireoide; dessa porcentagem, 4% a 7% tem nódulos palpáveis e 37% a 68% têm nódulos apenas visíveis em ultrassonografia.

Nesse momento da consulta, ainda não sabia meu diagnóstico. Ele me explicava os graus de desenvolvimento de um tumor, que pode ser benigno ou maligno, na escala Bethesda, que vai até o número 6. O meu tinha grau 5, que caracteriza uma suspeita de malignidade, isto é, o tumor tem 60 a 70% de chance de ser maligno.

A certeza da malignidade só viria na hora de uma possível cirurgia; ao ver a tireoide e o tumor, o cirurgião avaliaria a condição do tumor.

Mas, vocês devem lembrar que minha mãe teve câncer na tireoide, um agravante bem considerável. Além disso, meu tumor tinha quase 2 cm. Por isso, o endocrinologista me disse que o tumor já era considerado maligno.

Foi um choque tremendo. Por mais que o câncer de tireoide seja tratável e tenha chances altíssimas de cura, receber o diagnóstico de um tumor maligno, ainda mais no meio de uma pandemia, é bem difícil.

O tratamento é cirúrgico e a decisão pela retirada completa ou parcial da tireoide depende da gravidade do caso. Por conta do histórico familiar, do tamanho do tumor e da situação da minha tireoide, que estava bastante alterada, o médico indicou a retirada completa da glândula.

Portanto, o próximo passo era me consultar com um cirurgião de cabeça e pescoço. E, mais uma vez, encontrei um anjo.

No dia 16 de março, conheci meu cirurgião, que conseguiu me acalmar e me fazer entender todos os processos que envolviam a retirada da tireoide. Tirei várias dúvidas e, dias depois, marcamos a data da cirurgia: 13 de abril.

Esse período, que durou quase um mês, foi bem complicado. Além da ansiedade de querer passar por tudo isso logo, tinha um agravante: a pandemia. Hospitais lotados e falta de medicamentos podiam atrasar a cirurgia, que precisava de certa urgência, já que minha tireoide estava muito inflamada.

Mas meu cirurgião, que só em 2021 operou 50 tireoides, me ajudou muito neste processo. Tinha certeza que estava em ótimas mãos. E deu tudo certo! No último dia 13, fui operada. A cirurgia foi um pouco mais complicada do que o cirurgião e sua equipe esperavam: encontraram quatro linfonodos atrás da tireoide.

Todos nós temos linfonodos, mas como disse o médico, esses quatro estavam "estranhos". Na hora da cirurgia, um patologista foi chamado e disse que os quatro aparentavam ser benignos e não ofereciam nenhum perigo.

Para evitar problemas futuros, não temos mais nada por aqui: tireoide e os quatro linfonodos retirados.

No último dia 20, recebi o laudo final da operação. Depois de uma análise extensa do que foi retirado do meu corpo e também de outros linfonodos na região operada, a situação parece favorável e, segundo meu endocrinologista, "provavelmente não precisaremos de nenhum tratamento adicional". Ufa!

Sem a menor sombra de dúvidas, vivo o momento mais tenso e complexo dos meus 26 anos. Em um período de três meses, perdi minhas duas avós para a covid-19 e descobri um câncer fazendo exames de rotina. E justamente desse ponto veio a vontade de escrever este relato: alertar para a importância de manter a saúde supervisionada.

Conversando com amigos, percebi que o hábito de realizar exames não é tão frequente como eu imaginava. Um me disse que não faz exames há três anos, outro que não lembra a última vez que fez um. Mesmo na pandemia, um pedido: passem por consultas, façam exames, cuidem da saúde.

Deixo aqui meu eterno agradecimento à equipe médica envolvida no meu processo e a todos os amigos que estão ao meu lado em um momento como esse. Obrigada!

Raio-X do câncer de tireoide

O câncer da tireoide é o mais comum da região da cabeça e pescoço e afeta três vezes mais as mulheres do que os homens. Na maior parte das vezes, a presença de um nódulo na tireoide não é câncer, mas é importante que ele seja investigado por um médico.

  • Fatores de risco: história de irradiação (ter sido submetido à radioterapia) do pescoço, mesmo em baixas doses; história familiar de câncer da tireoide e associação com dietas pobres em iodo.
  • Sintomas: aparecimento de nódulo palpável ou visível na região. Em alguns casos mais avançados, além da rouquidão, sintomas compressivos e até mesmo sensação de falta de ar e dificuldade em engolir alimentos podem ser sintomas sugestivos de malignidade diante de uma massa localizada na tireoide.
  • Tratamento: cirúrgico. A tireoidectomia (retirada da tireoide) total ou parcial (em casos indicados) é o tratamento de escolha.

Com informações do Inca (Instituto Nacional do Câncer)