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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


'Era muito explosivo e as artes marciais me trouxeram equilíbrio emocional'

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Imagem: iStock

Roseane Santos

Colaboração para o VivaBem

26/04/2021 04h00

Para algumas pessoas, pode parecer contraditório ouvir que um dos benefícios das artes marciais é ajudar os praticantes a atingirem o equilíbrio emocional e aprenderem a controlar melhor a raiva e o temperamento explosivo.

Mas é exatamente o que acontece e o mestre Renato*, 33, é exemplo disso. Ele mudou completamente seu comportamento e até sua história de vida graças ao judô, modalidade que começou a praticar aos 13 anos.

"Eu tinha muitos problemas de controle emocional. Era agressivo e na escola vivia brigando com outros alunos, tanto que fui expulso de 12 colégios num período de quatro anos. Após iniciar no judô, não tive mais nenhum problema de atrito com outros estudantes", diz Renato.

O atleta conta que a mudança no temperamento não foi seu principal objetivo ao procurar o esporte. Inicialmente, ele viu ali no tatame uma oportunidade de ascensão social e de um futuro melhor.

"Morava em uma comunidade simples e vi na modalidade uma chance de mudar de vida, o que realmente aconteceu em diferentes aspectos. Eu me tornei um atleta e passei a trabalhar com artes marciais. Mas, muito antes disso, o judô me ajudou a me tornar uma pessoa melhor. Quando comecei a treinar, passei a ter notas boas na escola e a ser um dos melhores alunos da turma", lembra.

Portas abertas pelo judô

A luta realmente mudou o caminho de Renato e contribuiu para uma vida melhor. Após se destacar nos treinos e em competições nacionais, ele foi convidado a integrar a equipe de judô do Flamengo. Lá, foi campeão brasileiro, conseguiu ser medalhista pela CDE (equipe de rendimento do exército) e medalhista brasileiro universitário.

Depois do judô, se apaixonou pelo boxe e o jiu-jítsu. "O mais fabuloso disso tudo é que continuo me considerando uma pessoa de temperamento difícil. O que acredito ter mudado com a prática de artes marciais foi que aprendi a controlar todas as emoções, que antes ultrapassavam os limites. Sigo passional, mas consigo passar essa transparência de frieza por conta dos ensinamentos que as artes marciais proporcionaram", diz o mestre.

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Imagem: iStock

Como a luta ajuda a alcançar o equilíbrio

Ao praticar uma arte marcial, os alunos aprendem a desenvolver a disciplina, o autocontrole físico e emocional e a respeitar seu oponente. E tudo isso na grande maioria das vezes acaba sendo replicado pelos atletas em outras áreas da vida e não só no treinos.

A psicóloga Flávia Focaccia Justus, mestre em educação física pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e especialista em psicologia do esporte, fala que os próprios Senseis (mestres e os professores das artes marciais), ao identificar algum grau de agressividade e explosividade do aluno, juntamente com o ensinamento da técnica e do trabalho da parte física, reforçam o desenvolvimento dessa parte comportamental para que o atleta entenda que o objetivo da luta é justamente ter autocontrole e não machucar o oponente.

A explicação para o controle emocional promovido pelas artes marciais não está no "conceito" do esporte e também tem base fisiológica.

Segundo o médico Fabio Peralta Mathias, diretor científico da SMEERJ (Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro), muitos estudos confirmam que os praticantes de artes marciais apresentam melhora e manutenção do equilíbrio, da função cognitiva e saúde psicológica.

Esses benefícios podem ser obtidos independentemente da idade de início da prática e, como falamos, ocorrem não somente graças aos ensinamentos passados pelos mestres, mas também porque o exercício estimula a produção de neurotransmissores no organismo que regulam as emoções, reduzem o estresse e melhoram o convívio social, como a serotonina e a oxitocina.

*Nome foi alterado a pedido do personagem