Antes, durante e depois: como a fisioterapia auxilia em quadros de covid-19
Resumo da notícia
- Fisioterapia é uma atividade essencial no tratamento da covid-19
- Desde o início da pandemia, profissionais notaram maior valorização da área
- Práticas cientificamente comprovadas também auxiliam na prevenção de quadros graves de covid e na reabilitação
Se teve algo que a pandemia do coronavírus trouxe foi a percepção da importância da fisioterapia. No Brasil, é uma área "nova" da ciência, com o primeiro curso, técnico, criado em 1951. Só em 1969 é que a fisioterapia foi reconhecida como um curso de nível superior.
E, não, os profissionais da área não fazem "massagem". São técnicas cientificamente comprovadas que auxiliam na reabilitação, prevenção e também na cura de algumas doenças. Assim como qualquer outra área da ciência, existe uma gama imensa de atuação: intensivista, respiratória, neurológica, cuidados paliativos, traumato-ortopédica e por aí vai.
"É claro que existe uma falta de conhecimento, mas a pandemia veio aí para colocar a fisioterapia como uma profissão essencial no tratamento de pacientes com covid-19, não só no pós-covid, mas também durante todo o processo da doença", diz Neto Siqueira, fisioterapeuta do Hospital Regional de Santarém, no Pará.
Como a fisioterapia atua no tratamento da covid-19?
Os especialistas podem atuar de forma preventiva, ou seja, antes da contaminação da doença, promovendo a manutenção e bom funcionamento do pulmão. A fisioterapia também tem grande papel durante uma internação no hospital e na reabilitação de pacientes. Confira abaixo:
- Antes
Os profissionais têm atuado, principalmente, durante a internação de pacientes, mas a prática auxilia ainda de forma preventiva, segundo Renato de Paulo, fisioterapeuta da clínica Trato Ubuntu, no Rio de Janeiro, e membro do Crefito-2 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 2ª Região).
"A fisioterapia preventiva já impede que os danos da covid sejam ainda maiores, caso a pessoa seja infectada. Nós fazemos exercícios físicos com o suporte da fisioterapia", explica.
O fisioterapeuta do Hospital Regional de Santarém conta que esse tipo de atividade auxilia na manutenção do pulmão, inclusive em pessoas não infectadas. "É uma prevenção para qualquer alteração respiratória e funcional [não apenas para covid-19]. Isso, claro, deve ser acompanhado de isolamento social e uso de máscara", explica Siqueira.
Veja algumas dicas de exercícios neste vídeo:
- Durante
O fisioterapeuta atua mais quando o paciente já está internado no hospital, de diversas formas, a depender do quadro de saúde dele. O especialista pode incentivar as caminhadas no quarto ou realizar atividades respiratórias caso o paciente consiga realizá-las, além de promover a prática de exercícios motores em uma pessoa já acamada.
Ainda em caso mais moderados, o profissional faz atividades físicas para evitar que o desconforto respiratório evolua para um quadro grave e a pessoa necessite de uma intubação —ponto de extrema importância na evolução da doença.
"Com esses exercícios respiratórios, conseguimos expandir o pulmão para que o ar ventile melhor. Isso evitará que ele seja intubado no hospital", conta Siqueira. Mas, se for intubado, todas essas práticas auxiliam no processo de recuperação, evitando mais complicações neste período.
Além disso, os profissionais cuidam ainda do paciente quando ele necessita da VNI (ventilação não-invasiva), que possui vários tipos, mas uma das mais conhecidas é feita com auxílio de uma máscara facial. Isso pode ser necessário para prevenir uma intubação, por exemplo —o apresentador Geraldo Luís foi um dos que precisou passar pelo procedimento.
Quando a equipe médica opta pelo procedimento mais invasivo, que conta com a ventilação mecânica, é o médico que realiza a intubação no paciente, mas é o fisioterapeuta que fica responsável pela ventilação. Entre as principais funções, são eles que:
- Acoplam o paciente ao ventilador;
- Escolhem o modo ventilatório do aparelho e os parâmetros;
- Fazem leituras do exame de gasometria do paciente para corrigir algo no ventilador;
- Realizam pronação [pessoa de bruço] junto a equipe médica;
- Fazem ajuste ventilatório no geral.
"Toda essa parte ventilatória é de comando do fisioterapeuta. O médico também pode atuar, é claro, mas é o fisioterapeuta que está mais à frente dessas condutas de um paciente em recuperação de covid", explica o profissional do Hospital Regional de Santarém.
- Pós-covid
Como a doença atinge diversos órgãos, é esperado que as sequelas também sejam das mais variadas. O Sars-CoV-2 tem essa característica de se comportar, em cada pessoa, de uma forma. Por isso, o tratamento pós-covid vai depender da evolução da doença. Se for possível, um check-up médico é válido para trazer uma visão mais global do quadro de saúde.
Indivíduos que ficaram internados, intubados principalmente, podem necessitar de uma reabilitação motora e física. Há também quem tenha passado por alterações neurológicas (déficit de memória, por exemplo) e precisem de uma reabilitação focada nisso.
É aí que o fisioterapeuta pode agir. Qualquer atividade de rotina que era feita e, pós-covid, ficou mais difícil ou não é mais realizada, já é um motivo para procurar os profissionais.
"É muito comum recebermos, em clínica de reabilitação, queixas de dores articulares, até de pessoas não internadas porque, com a pandemia, os hábitos de vida mudaram, há mais sedentarismo e uso prolongado de relaxantes musculares", explica Siqueira.
Mas, para pacientes internados e intubados é diferente, pois envolve sedação, ventilação mecânica e a inativação da musculatura. "Eles evoluem com uma perda de massa muscular que faz com que a reabilitação seja mais longa. É o paciente que precisa reaprender a andar, por exemplo, porque ele perde a força global do corpo", completa.
Neste caso, as pessoas podem acionar um fisioterapeuta para uma reabilitação multifatorial, que vai olhar de forma ampla para aquele paciente, realizando exercícios para a respiração, movimentação do corpo, entre outras.
A fisioterapia na prática...
Famosos que tiveram covid-19 postam vídeos e fotos mostrando algumas estratégias adotadas pela fisioterapia. Um deles é Celso Zucatelli, que realiza a fisioterapia respiratória com ventilação não-invasiva associada a uma bicicleta ergométrica.
A atividade tem finalidade de recuperar lesões no pulmão, aumentando a capacidade respiratória, além de auxiliar nas funções motoras.
"É possível associar a VNI com a esteira ergométrica ou com a bicicleta. Isso ajuda o paciente a retomar a rotina e atividades diárias. O tempo de recuperação depende da lesão, cada paciente tem uma porcentagem de como o pulmão foi afetado. Mas como qualquer ferida e machucado, ela também cicatriza. A fisioterapia vem para recuperar essas áreas e suprir as funções pulmonares", diz Siqueira.
Acesso ao serviço de fisioterapia
Assim como outras especialidades, a fisioterapia em alguns serviços específicos na rede pública ainda carece de acesso, mas essa realidade já está mudando, motivada principalmente pela pandemia, segundo Edmilson Gomes, fisioterapeuta intensivista do Hospital Distrital Dr. Evandro Ayres de Moura, em Fortaleza, no Ceará, e mestrando de Saúde Coletiva na UECE (Universidade Estadual do Ceará).
"A fisioterapia foi a última categoria que foi inserida no NASF [Núcleo Ampliado de Saúde da Família] e é disponibilizada pelo SUS [Sistema Único de Saúde] também para atendimentos às síndromes gripais, fortalecendo a porta de entrada da assistência à saúde, porém, os recursos para esse setor podem ficar mais carentes através das últimas reformas na Política Nacional de Atenção Básica, além da tendência de focar apenas nos cenários hospitalares, sendo necessário um contato maior com a comunidade para educação em saúde, por exemplo. O cenário, entretanto, está mudando, e os gestores e pesquisadores estão mais sensibilizados", explica.
"Alguns hospitais do SUS também já criaram ambulatórios que focam na reabilitação pós-covid-19", completa Gomes.
Ainda segundo os especialistas consultados, é possível procurar a fisioterapia em universidades públicas que possuem serviço gratuito ou faculdades particulares que podem oferecer o tratamento sem custo ou muito mais barato. Há também outras iniciativas sendo criadas para auxiliar a população com essa alta demanda por conta da pandemia.
Universidades oferecem atendimento gratuito
Para auxiliar quem teve alterações físicas e neurológicas por causa do coronavírus, a Unip (Universidade Paulista) implantou o programa "Atenção Fisioterapêutica a Pacientes com Sequelas Pós-Covid".
O atendimento é realizado por alunos do último ano da faculdade de fisioterapia, com supervisão de professores e coordenadores do curso. Gratuito, o serviço é realizado nas clínicas de fisioterapia dos campi da Unip em São Paulo (capital e interior), Goiânia, Brasília e Manaus --a exceção é a unidade Pompeia, na capital paulista, que cobra uma taxa simbólica ao mês.
Para participar, o paciente deve passar por uma triagem, em que tem de apresentar os exames médicos realizados e o receituário. Via de regra, é necessário encaminhamento médico para iniciar o tratamento, porém a equipe de fisioterapeutas analisa caso a caso. A triagem deve ser marcada por telefone na clínica de interesse. Os contatos e endereços estão disponíveis no site da universidade.
O curso de Fisioterapia da Universidade Cruzeiro do Sul (SP) também está promovendo atendimentos gratuitos aos pacientes que apresentam sequelas respiratórias e motoras após a contaminação do novo coronavírus.
Os interessados deverão levar um documento com foto e o encaminhamento médico para inscrição. O agendamento deve ser feito pelo telefone (11) 2037-5800 ou comparecendo à Clínica-Escola de Fisioterapia, no Campus São Miguel, na Vila Jacuí, em SP.
A assistência ocorre gratuitamente todas as sextas-feiras, das 8h30 às 11h30 e das 14h às 17h. Os atendimentos serão realizados por professores e alunos do último período do curso de Fisioterapia.
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