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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Quais são os sinais da puberdade precoce em crianças e como preveni-la

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Imagem: iStock

Juliana Tiraboschi

Colaboração para VivaBem

27/04/2021 04h00

A pandemia do coronavírus tem trazido diversas consequências para a saúde mental de crianças e adolescentes, como mais casos de ansiedade e depressão. Mas um outro aspecto do isolamento social tem chamado a atenção de médicos e merece um olhar mais apurado dos pais: o aumento no número de crianças que vêm apresentando um aceleramento nos sinais da puberdade, ou seja, o processo de maturação sexual do indivíduo.

Algumas décadas atrás, uma menina que menstruasse aos 10 anos iria causar espanto. Hoje em dia, esse cenário não é mais anormal. E os sinais da puberdade também têm aparecido mais cedo, o que deixa mães e pais muito preocupados.

Essas mudanças vêm acontecendo historicamente principalmente por três motivos: alimentação mais calórica, exposição a produtos químicos e exposição a estímulos visuais inadequados para a idade.

Por isso, é importante esclarecer o que é normal, do ponto de vista científico, e o que exige acompanhamento e, dependendo do caso, tratamento.

O que é normal e o que é precoce

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É considerado normal que os primeiros sinais da puberdade apareçam a partir dos oito anos, para as meninas, e a partir dos nove anos, no caso dos meninos.

Para elas, esses primeiros sinais são o aparecimento do broto mamário, o "peitinho", e o surgimento de pelos pubianos e/ou axilares. E, para os meninos, os sintomas iniciais da puberdade são o crescimento no tamanho dos testículos e também o aparecimento de pelos pubianos.

É importante diferenciar a penugem natural que algumas crianças podem apresentar na região pubiana do pelo da puberdade. Enquanto os primeiros são mais finos e claros, como os pelos do braço, o segundo é mais grosso e escuro. Para ambos os gêneros, o odor axilar também é um sinal importante.

Nas meninas, a primeira menstruação, chamada menarca, costuma vir cerca de dois anos depois do aparecimento desses primeiros sinais.

A puberdade é considerada precoce quanto os sintomas surgem antes dos oito anos (ou antes dos nove, no caso dos meninos), ou a menarca surge antes desse intervalo de dois anos.

Um alerta: nos meninos muitas vezes é difícil para os pais detectarem o crescimento testicular. Por isso é importante sempre fazer o acompanhamento pediátrico de rotina e, em casos de dúvidas, a consulta com um endocrinologista pediátrico.

Pandemia tem acelerado o aparecimento dos sinais

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Imagem: Thinkstock

As três médicas entrevistadas por VivaBem relataram um aumento nas consultas de famílias com crianças com puberdade precoce, ou que começaram a apresentar sinais de puberdade na idade prevista, mas que estão progredindo de maneira acelerada demais, o que configura a chamada puberdade rapidamente progressiva.

Um dos principais motivos para esse fenômeno é o ganho excessivo de peso, já que as crianças estão confinadas em casa, praticando menos atividade física, passando mais tempo em frente às telas e se alimentando de forma excessiva ou pouco saudável.

O segundo fator é uma hipótese ainda sem confirmação científica, mas baseada na prática clínica, e corresponde ao excesso de telas e exposição a filmes, séries ou games inadequados para a idade, que podem despertar a sexualidade antes da hora.

Outros fatores que aumentam o risco de um quadro de puberdade precoce ou acelerada são a exposição excessiva a produtos químicos que são disruptores do sistema endócrino, como agrotóxicos, parabenos e bisfenol-A, e a ingestão em exagero de produtos à base de soja, já que a planta possui uma substância parecida com o estrogênio, o principal hormônio envolvido no desenvolvimento das características sexuais femininas.

Diagnóstico, tratamento e prevenção

A detecção da puberdade precoce é feita por meio de exame clínico, exames de sangue e de imagem. Um deles é o raio-X de mãos e punhos para determinar a idade óssea da criança, ou seja, avaliar se o nível de amadurecimento dos ossos está compatível com a idade cronológica. Esse exame avalia o quanto o paciente ainda pode crescer, já que a puberdade precoce, se não tratada, pode inibir esse crescimento.

Na grande maioria dos casos de puberdade precoce em meninas, cerca de 90%, o distúrbio é considerado idiopático, ou seja, não tem causa definida.

Já nos meninos o cenário é bem diferente. Em dois terços dos casos, a puberdade precoce é sintoma de alguma outra doença, com um tumor de hipófise ou hipotálamo. Por isso os exames são tão importantes, já que ajudam a determinar uma causa para o problema.

A melhor maneira de prevenir esse processo precoce ou estagná-lo é promover uma alimentação saudável, priorizando ingredientes orgânicos, se possível, coibir o excesso de telas e não expor os pequenos a conteúdos impróprios para a idade, não usar cosméticos feitos para adultos nas crianças e, mesmo nos produtos infantis, ler os rótulos e prestar atenção aos componentes.

O tratamento para a puberdade precoce é feito com uma medicação análoga ao hormônio liberador de gonadotrofina (GRH) e regula a fabricação dos hormônios que estimulam os ovários e testículos. É como se ele desligasse a "chave" da puberdade.

O tratamento é administrado até o momento em que o médico considera que já pode liberar o processo da puberdade para que continue a acontecer naturalmente, sem prejudicar o desenvolvimento do paciente.

Em alguns casos é necessário também combinar ao tratamento o hormônio do crescimento, em situações em que a idade óssea está muito avançada para a idade, por exemplo. Esse hormônio acelera o desenvolvimento do corpo enquanto as cartilagens ainda não se fecharam completamente, ou seja, enquanto ainda a criança tem espaço para crescer.

Porém, os casos que realmente precisam do hormônio do crescimento são exceção.

Mãe conversa com filha criança sobre menstruação, menarca, absorvente - iStock - iStock
Imagem: iStock

Além de preservar o crescimento normal do corpo, o tratamento da puberdade precoce nas meninas traz outros benefícios, como prevenção de um futuro câncer de mama, já que diminui a exposição da criança ao estrogênio.

A postergação da menstruação também ajuda a preservar a fertilidade. A mulher nasce com uma quantidade definida de óvulos, que vai decaindo ao longo da vida. Uma menarca postergada ajuda a aumentar o tempo de vida desses óvulos.

Sem contar que a menstruação muito precoce acaba estimulando um sentimento de inadequação social na menina que passa por esse processo, que vai ter que se preocupar com cólicas e troca de absorventes em uma idade em que ainda não tem maturidade emocional para lidar com essas questões.

"Às vezes a criança está com um desenvolvimento normal e os pais querem bloquear a puberdade. Nós temos que tratar o que é doença, não dá para escolher a data da menarca", diz a endocrinologista Iluska Medeiros, professora de pediatria da UFRN.

É por isso que os médicos batem tanto na tecla da prevenção, que é a maneira mais natural e saudável de adiar a primeira menstruação, e também insistem no acompanhamento periódico com o pediatra de rotina, que conhece a evolução da criança e vai saber identificar quando é o momento de frear um desenvolvimento acelerado demais.

Fontes: Lidiane Indiani, endocrinologista pediátrica do Sabará Hospital Infantil (SP); Iluska Medeiros, professora de pediatria na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e Louise Cominato, endocrinologista pediátrica do Instituto da Criança do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).