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Desequilíbrio da microbiota na infância aumenta risco de asma em adultos

Risco pulmonar é maior quando há excesso de fungos nos primeiros meses de vida - iStock
Risco pulmonar é maior quando há excesso de fungos nos primeiros meses de vida Imagem: iStock

Alexandre Raith

Agência Einstein

28/04/2021 11h50

O equilíbrio da microbiota intestinal é mantido graças a barreiras naturais que inibem a proliferação exacerbada de microrganismos, como acidez gástrica, secreção mucosa, resposta imune e sais biliares. A proliferação em excesso provoca agravos à saúde do sistema digestório.

Mas existe relação entre fungos no intestino e asma? É possível. Segundo pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), o risco dessa doença pulmonar pode aumentar na fase adulta em caso de crescimento excessivo de uma levedura intestinal nos primeiros meses de vida. A explicação são as alterações no sistema imunológico, cujo desenvolvimento logo após o nascimento é crítico.

Estudos anteriores já haviam demonstrado que alterações nas bactérias intestinais que produzem compostos anti-inflamatórios, chamados de ácidos graxos de cadeia curta, no início da vida estavam associadas à asma. Agora, a pesquisa canadense, publicada no periódico eLife, revelou que a presença em excesso da levedura intestinal Pichia kudriavzevii em recém-nascidos está relacionada a um aumento do risco da doença pulmonar.

"Neste estudo, pretendíamos replicar essas descobertas em crianças de um ambiente industrializado e identificar como os fungos da microbiota intestinal afetam o desenvolvimento do sistema imunológico", explica Rozlyn Boutin, uma das autoras e pesquisadora do Departamento de Microbiologia e Imunologia da Universidade da Colúmbia Britânica.

A equipe de cientistas descobriu que o crescimento excessivo de Pichia kudriavzevii durante os primeiros três meses de vida estava associado a um maior risco de asma após analisar as fezes de 123 recém-nascidos. Devido ao tamanho da amostra e as condições de aquisições dos dados, ainda é necessário realizar mais estudos para complementar os achados.

Para entender a associação entre o supercrescimento da levedura na infância com o risco de doença pulmonar na fase adulta, os pesquisadores aplicaram Pichia kudriavzevii em camundongos com microbiota intestinal imatura. Os resultados apontaram que os animais recém-nascidos nestas condições apresentaram mais inflamação pulmonar do que aqueles que não foram expostos. Além disso, os de idade mais avançada não exibiram reação em excesso.

Segundo Boutin, os dados obtidos pela pesquisa comprovam que "há uma janela crítica no início da vida em que as perturbações na microbiota intestinal causadas por Pichia kudriavzevii afetam o desenvolvimento do sistema imunológico e aumentam o risco e a gravidade da asma no futuro".

O estudo científico também identificou que os efeitos anti-inflamatórios de ácidos graxos de cadeia curta produzidos por bactérias intestinais inibem o crescimento da levedura Pichia kudriavzevii.

Na opinião do professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade da Colúmbia Britânica, as respostas imunológicas às perturbações dos micróbios intestinais no início da vida têm consequências de longo prazo para as doenças do sistema imunológico.

"O estudo adiciona à nossa compreensão da asma associada à microbiota e sugere que inibir o crescimento excessivo de leveduras com ácidos graxos de cadeia curta no início da vida pode ser uma abordagem eficaz para prevenir esta condição", ressalta o professor Brett Finlay, autor sênior da pesquisa.