Mayra mostra resultado de jejum; prática pode incitar transtorno alimentar
Na semana passada, Mayra Cardi informou pelas redes sociais que iria iniciar um jejum de sete dias, que foi concluído nesta quarta-feira (28). "Não imaginava que iria ser tão mágico", escreveu no Instagram. Em seguida, ela publicou uma foto, com a barriga definida, como resultado da prática. Apesar de dizer que não era pelo emagrecimento em si, a coach foi muito criticada pelos internautas.
"A Mayra Cardi ficou 7 dias sem comer, mostrou a barriga chapada, fez uma publi para um produto de emagrecimento e, em seguida, disse que o próximo jejum será de 14 dias. A gente está falando de alguém que está publicamente promovendo transtorno alimentar para 6 milhões de pessoas", escreveu uma usuária do Twitter. Os outros comentários seguiram a mesma crítica: o incentivo a distúrbios alimentares.
E essa afirmação faz sentido, segundo Fernanda Imamura, nutricionista do Ambulim (Programa de Transtornos Alimentares) do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP). "Esse tipo de publicação é extremamente irresponsável, pois promove comportamentos alimentares inadequados e pode ser gatilho para o desenvolvimento de transtornos alimentares", explica.
"É um perigo e uma irresponsabilidade tanto do ponto de vista da saúde física como também da saúde mental", afirma Elenice Pereira Moraes, psicóloga especializada em transtornos alimentares também do Ambulim. Isso porque distúrbios alimentares são transtornos psiquiátricos graves que podem gerar inúmeras consequências para a saúde física e mental.
Para quem já tem um transtorno alimentar, com anorexia ou bulimia, esse tipo de conteúdo é ainda mais prejudicial, pois pode ser um gatilho para a piora dos sintomas e agravar o quadro. Além disso, a psicóloga do IPq explica que ler esse tipo de informação também é algo extremamente ansiogênico. "Ouvir isso reforça a crença de uma incapacidade: 'Como ela consegue e eu não?'. Isso esbarra na parte de saúde mental, incentivando depressão, ansiedade e outros gatilhos", diz.
Quem não lida com problemas alimentares também pode ser afetado da mesma forma, com o desenvolvimento de um quadro depressivo e de ansiedade e até uma baixa autoestima pela sensação de incapacidade em não conseguir fazer o mesmo.
"Sempre há uma insatisfação corporal, algo que incomoda, principalmente nas mulheres. Quando ela vê esse discurso de passar sete dias sem comer, tenta fazer igual e percebe que não consegue, por ter uma queda na pressão, desmaio, tontura, ela enxerga como uma incapacidade dela'", conta Moraes.
"Hoje mesmo, uma paciente me perguntou por que a moça consegue fazer isso e ela não. Aí entra um trabalho para mostrar que aquilo que é publicado nas redes não condiz com a realidade. Pode até ser que ela faça, mas por trás sempre tem um aspecto midiático".
Durante uma pandemia, isso é ainda pior...
De acordo com as especialistas da USP, muitas pessoas acabam usando a comida como um conforto, como um regulador emocional, o que é normal. "É compreensível recorrer àquilo que nos traz segurança em meio a tanta instabilidade. E a comida pode ser esse lugar de conforto e afeto. Não é necessário se culpar por isso, pois ninguém estava preparado para viver tudo isso", diz Imamura.
Outro ponto é que, quando a pandemia de covid-19 chegou ao Brasil, cerca de 125 milhões de brasileiros sofreram com algum grau de insegurança alimentar no ano passado. O questionamento que fica é: não é indelicado divulgar que ficará sem comer por sete dias enquanto outras pessoas sequer têm comida para um dia? "É um comportamento totalmente inadequado e negacionista com a atual realidade que vivemos", afirma a psicóloga.
Como reconhecer um transtorno alimentar e quem procurar
É considerado um transtorno alimentar quando a relação com a comida gera sofrimento e desconforto. Mesmo quando a pessoa apresenta apenas alguns sintomas, sem diagnóstico fechado, é necessário procurar tratamento, pois isso pode ajudar na prevenção de um possível transtorno.
É indicado procurar ajuda com um psiquiatra com especialização em transtorno alimentar, que realizará o diagnóstico. Caso seja confirmado o transtorno, o tratamento é feito com psiquiatra, psicólogo e nutricionista também especializados no tema e que vão atuar em conjunto.
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