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'Nuvem de cocô' permanece no ar em banheiros após descarga, diz estudo

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Imagem: Istock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

02/05/2021 12h22

Se você já precisou usar um banheiro público, sabe que todo cuidado é pouco— já que o fluxo de pessoas nesses espaços costuma ser grande e, bom, a limpeza nem sempre acompanha esse ritmo.

Um novo estudo, publicado no periódico Physics of Fluids, só confirma o que já desconfiávamos: esses ambientes têm alto número de partículas contaminantes por toda parte. Inclusive no ar.

Na análise, os pesquisadores da Florida Atlantic University's College of Engineering and Computer Science avaliaram o volume de partículas contaminantes que eram despejadas no ar após a descarga de vasos sanitários e mictórios.

Três horas e mais de 100 descargas depois, os pesquisadores notaram um aumento substancial nos níveis de aerossóis do ambiente.

Aerossóis são partículas microscópicas que ficam suspensas no ar por muito tempo— uma espécie de "nuvem" que pode carregar cocô, urina, vômito e até microrganismos causadores de doenças nos seres humanos.

Esse material costuma ficar acumulado no vaso sanitário e nos mictórios. O problema é que, ao dar descarga, dependendo do fluxo de água liberado, eles acabam se espalhando pelo ar, aumentando as chances de contaminação de quem está no ambiente.

Como o estudo foi feito?

Os pesquisadores analisaram um banheiro público que foi limpo um dia antes da análise. O sistema de ventilação padrão, disseram, estava funcionando normalmente.

A medição foi feita a partir de um contador de partículas posicionado em várias alturas do vaso sanitário e mictório para detectar a quantidade e o tamanho das gotas geradas após a descarga.

O teste foi feito tanto em vasos sanitários com tampa (o que não é frequente nos banheiros públicos dos EUA, onde a pesquisa foi feita) como nos sem tampa.

Ambos geraram grandes quantidades de gotículas com menos de 3 micrômetros de tamanho— o que apresenta um risco de transmissão significativo caso elas estejam contaminadas com algum patógeno, já que essas gotas podem permanecer suspensas por muito tempo, disseram os pesquisadores.

Os pesquisadores notaram que, quando os vasos têm tampas e elas são fechadas antes da descarga, o volume de partículas jogadas no ar é menor— mas não muito, o que sugere que as gotículas acabam escapando pelos espaços entre a louça e o assento.

Os autores do estudo sugerem que é preciso melhorar a qualidade do sistema de ventilação desse tipo de ambiente para evitar o acúmulo de partículas contaminantes.

'Nuvem de cocô' e coronavírus

Em 2020, pesquisadores chineses da província de Guangdong conseguiram isolar uma amostra viável do novo coronavírus nas fezes de um paciente que morreu por conta da ação do microrganismo.

O estudo indicava que a possibilidade de contaminação por contato fecal-oral ou fecal-respiratório é real e pode acontecer por meio de aerossóis fecais —uma espécie de "nuvem de cocô" que conteria vírus viável para infectar outras pessoas.

Para comprovar isso, eles descreveram o caso específico de um dos pacientes que teve amostras com resultado positivo para o novo coronavírus. O indivíduo tinha 78 anos e passou pouco mais de um mês hospitalizado antes de morrer.

Amostras de fezes foram coletadas dele entre 17 e 28 dias após o início dos sintomas; todas testaram positivo para o vírus, que foi encontrado em sua forma viável para infecção. A carga viral, aliás, era maior do que nas amostras recolhidas do trato respiratório. Após esse período, no entanto, apenas pedaços do RNA (que não provocam a doença) foram encontrados nas fezes.

Os médicos então compararam o resultado a uma situação ocorrida em 2003, durante a epidemia de Sars no país. Naquela época, famílias de um condomínio residencial foram contaminadas com o vírus mesmo estando em isolamento.

Uma análise posterior mostrou que a forma como o esgoto era armazenado e recolhido no local provocou a formação de aerossóis fecais contaminados —ou a tal "nuvem de cocô"— e que isso seria provavelmente a fonte de contaminação daquelas pessoas.

Embora ainda existam poucos estudos a respeito da transmissão via cocô, o estudo conseguiu trazer mais dados a respeito da ação do vírus no corpo —e também comprovar que ele pode, sim, permanecer em sua forma viável também nas fezes das pessoas contaminadas.

Por isso, os autores recomendam tomar os devidos cuidados com a limpeza dos ambientes, especialmente em hospitais em que pacientes graves ou que morreram foram atendidos.