"Estar vacinada me salvou", conta médica após 21 dias internada com covid
Por conta da pandemia, a médica alagoana Fátima Born, 61, ficou afastada da obstetrícia por oito meses. Repleta de comorbidades, deixou o trabalho ainda em março de 2020 para se prevenir da covid-19.
Agora em 2021, ela recebeu as esperadas duas doses da vacina CoronaVac: a primeira no dia 25 de janeiro, e a segunda no dia 8 de março —a demora além dos 21 dias indicados entre as doses ocorreu pelo atraso na chegada ao hospital onde atua, em Paulo Afonso (BA).
Mesmo após o período de 15 dias de conclusão do ciclo, ela adoeceu de covid-19 e teve sintomas moderados, que a levaram a precisar ficar internada por 21 dias.
Sem dúvida, seria bem mais complicado se eu não tivesse tomado a vacina. Com certeza ela foi primordial em minha recuperação.
A médica de hipertensão, diabetes, obesidade e é cardiopata. Além disso, em 2017, teve leucemia e curou-se.
Do afastamento à volta
Fátima tem uma longa história na obstetrícia, com 36 anos de atuação. "Meus netos nasceram comigo. Fiz o parto do primeiro bebê nascido no ano 2000, em Maceió, foi televisionado e tudo", conta orgulhosa.
Logo no início da pandemia, em março de 2020, ela relata que atuava no Hospital Metropolitano, em Maceió, e durante um plantão teve um episódio de queda de pressão e precisou ficar dois dias internada.
"Tive tontura, náusea e minha oximetria baixou. Estava na terceira de seis cesarianas previstas, quando minha pressão caiu a 9 por 5. Fui internada, e meu irmão —que também é médico— disse, quando voltei para casa, que não iria voltar a trabalhar até sair a vacina", conta.
Born seguiu afastada até outubro de 2020, quando seu contrato com o hospital em Maceió acabou. "Foi aí que precisei, e resolvi reabrir meu consultório em Arapiraca [a 120 km de Maceió], onde moro; e também fui chamada para retomar meus plantões em Paulo Afonso", diz.
Os dias internada
Com o ciclo vacinal, a obstetra admite que começou a trabalhar mais aliviada. "Fiquei um pouco mais descontraída após ter tomado as duas doses da vacina, sim", explica.
Depois de mais de três semanas da segunda dose, percebeu sintomas que apontaram que ela poderia estar infectada. "Meus sintomas iniciaram no dia 30 de março. Me contaminei no plantão no fim de semana entre os dias 27 e 28", afirma.
Tudo começou, diz, com uma dor de cabeça. "Na terça mesmo de manhã acordei com uma dor de cabeça estranha, que nunca havia sentido. Tinha tramal [analgésico] em casa e tomei, mas não passou. A dor de cabeça só passou quando tomei um comprimido de prednisona [corticoide] de 20 mg", conta.
Ela então decidiu fazer o teste de antígeno e deu positivo. E os sintomas foram se agravando, entre eles coriza e dor na garganta.
Born decidiu então vir até Maceió, onde foi internada em um hospital particular. "A partir do sétimo dia da doença, com o início da fase inflamatória, minha saturação caiu muito". Ela conta que a saturação chegou a ficar em 87 [o normal é acima de 95].
"Não precisei ser intubada, mas usei máscara de Hudson —que fornece 15 litros de oxigênio por minuto. Fiquei 21 dias internada", completa.
Um dos maiores problemas durante o período hospitalar foi a necessidade de usar medicamentos com efeitos colaterais por suas comorbidades. "O uso de corticoide forte na fase inflamatória fez aumentar a glicose. Ela chegou a bater 500. Além disso, fizeram uso de antibiótico fortíssimo por sete dias. Meu quadro acabou mais arrastado por conta das comorbidades", diz.
Um dos fatos que chamou a atenção dela é que teve apenas 5% de acometimento pulmonar —quando o normal seria ter ao menos 25%. "Por isso que falo que a vacina foi fundamental para que o quadro não avançasse. Escapar desta doença é uma bênção", alega.
A obstetra afirma que tem algumas sequelas da doença, como o cansaço fácil. "Hoje mesmo saí e fui ao supermercado, mas cansei depois. Minha saturação às vezes ainda fica baixa, vou ter que fazer fisioterapia motora e respiratória", conta.
Adoecimento não é surpresa
Segundo Vera Magalhães, infectologista e doutora em doenças tropicais pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o adoecimento de covid-19 após o ciclo vacinal completo é algo que pode ocorrer com qualquer pessoa, e o caso da médica alagoana não é uma surpresa.
"Nenhuma vacina é 100% eficaz no sentido de impedir a infecção pelo coronavírus, nem mesmo os casos de covid. A CoronaVac vai reduzir em 50,38% a possibilidade de possuir a doença sintomática. Não houve estudo relativo à infecção assintomática [ou seja, quanto tem a infecção viral, sem manifestação clínica]. A eficácia da maioria das vacinas foi avaliada em relação à covid, ou seja, a doença sintomática", explica.
Ainda de acordo com a infectologista, a CoronaVac também apresentou um índice de eficácia de 78% para as formas graves da doença, que necessitam de cuidado médico —o que torna "esperado" o adoecimento de forma moderada de 22%.
"As vacinas que estão liberadas e sendo aplicadas no país reduzem muito tanto as formas graves, que necessitam de hospitalização, como os óbitos. É muito provável que a vacina tenha realmente ajudado essa paciente a não ter a forma grave da doença", finaliza.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.