Cócegas fazem rir, mas servem para alertar corpo e, em excesso, causam dor
Tem gente que se diverte ao receber cócegas, outros já as odeiam. Isso é normal e tem explicação.
Embora acompanhadas de gargalhadas, essas sensações provocadas por toques ou leves fricções da pele em determinadas partes do corpo têm como função principal nos alertar sobre perigos externos. Assim, há quem não suporte as cócegas por se sentir vulnerável.
"As cócegas funcionam como um sistema de defesa, então as terminações nervosas da pele enviam sinais ao seu cérebro para que você reaja antes de sofrer algum ataque. Quanto mais intensas, maiores a área cerebral ativada e a resposta física. Por isso, involuntariamente, chutamos ou repelimos quem nos faz cócegas", informa Carla Guth, psicóloga especialista em neuropsicologia pela FCM-SCSP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo).
Mas o outro lado das cócegas, mais prazeroso, é que também foram assimiladas pelos humanos como uma maneira de brincarem juntos e estreitarem relações sociais.
São uma importante ferramenta de comunicação tátil, como as "cosquinhas" saudáveis, agradáveis e estimulantes que as mães costumam fazer em seus bebezinhos, relata Robert Provine, neurocientista da Universidade de Maryland (EUA) em seu livro "Laughter: A Scientific Study".
Da pele para o cérebro
O processo das cócegas começa na pele. Sob ela existem os chamados receptores táteis, terminações nervosas que ao serem estimuladas enviam sinais elétricos (sobre temperatura, pressão, vibração, textura) ao cérebro, ativando nele uma área responsável pelas sensações e que tomada de surpresa libera respostas instintivas, como sorrir, contrair, arrepiar etc. Se a surpresa for grande, também ocorrem mudanças nos batimentos, respiração e vocalização.
Mas quando o cérebro prevê o ato da cócega, principalmente quando tentamos realizá-la em nós mesmos, as respostas tendem a ser freadas, por isso não sentimos nada ou quase nada.
"Existem teorias de que para não sentir cócegas vale colocar a própria mão sobre a da pessoa que nos 'ataca' com elas e isso enganaria o cérebro", explica Deborah Moss, neuropsicóloga mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo).
"Porém, não existe treino para não sentir cócegas, porque essa é uma reação espontânea do organismo. O que dá para tentar é se autocontrolar quando a situação está instalada, mas ainda assim é difícil, pois envolve antecipar esse estímulo para o cérebro", acrescenta Moss.
Quais lugares são mais sensíveis?
As áreas mais propensas a cócegas são as que possuem grande concentração de receptores táteis e são vulneráveis por serem mais delicadas, ou estarem expostas, como plantas de mãos e pés, pescoço, barriga, axilas, costelas e virilhas.
Não à toa, as cócegas acompanham os seres humanos desde os primórdios, quando mais facilmente éramos alvos de escorpiões e aranhas.
Agora, questionada por que alguns sentem mais cócegas do que outros, Máira de Magalhães Mariano Astur, especialista em dermatologia pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), responde que depende de como o sistema nervoso de cada pessoa assimila essa informação
"Não tem a ver, necessariamente, com a espessura da pele, mas com o nível de sensibilidade ao toque e com as diferentes concentrações de terminações nervosas, que variam de indivíduo para indivíduo e local. Tanto que o mesmo toque pode desencadear prazer e dor".
Diferentemente dos adultos, as crianças também gargalham com mais empolgação porque seus mecanismos de defesa estão em formação. Nelas, cócegas levinhas ainda estimulam todos os sentidos, deixando-as mais atentas, e reforçam o bom desenvolvimento cognitivo, pensamentos positivos e lembranças agradáveis.
Há quem defenda que as cócegas então favoreceriam a conexão entre pais e recém-nascidos.
Cócegas em excesso...
Também podem ser prejudiciais. Afinal, do ponto de vista psicológico, rir nem sempre é sinal de algo positivo, uma reação agradável e divertida.
O tema requer aprofundamento, pois é complexo e ainda deixa muitas perguntas no ar, mas, em comum, os médicos concordam que cócegas só são bem-vindas como uma brincadeira quando prazerosas para ambas as partes.
"Tudo que é demais não é bom e tem criança que não gosta. Fazer muita cócega no bebê pode levar a uma sensação de falta de confiança, porque a criança entende que essa cócega em exagero é dolorosa para ela, algo que não quer e pode passar a ter receio do toque, então os pais precisam ter muito bom senso", adverte Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra, neonatologista e membro da Academia Americana de Pediatria.
Cócegas em excesso e com toques muito fortes, além de dor, podem causar na criança ou até mesmo no adulto vontade de fazer xixi nas calças.
Contra a vontade é um tipo de abuso físico, ainda mais quando a vítima não consegue se comunicar.
"Vale ressaltar que aqui estamos pensando numa cócega que não é saudável e estimulante, que não nos relaxa e descontrai. A cócega abusiva era usada principalmente no Japão e na China Imperial como método de tortura, onde se exagerava até a pessoa passar mal", completa a psicóloga Carla Guth.
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