Vacina AstraZeneca: grávidas não devem receber a imunização por enquanto
Causou preocupação em muitas gestantes a suspensão pela Anvisa do uso da vacina AstraZeneca/Fiocruz contra o novo coronavírus em grávidas.
A nota técnica emitida pelo órgão segue a investigação feita pelo Ministério da Saúde de um caso com uma grávida de 23 semanas que morreu no Rio de Janeiro após ter sido imunizada com a vacina.
Ainda segundo a agência, a paciente foi hospitalizada dois dias antes, em 5 de maio, "com cefaleia excruciante [dor de cabeça muito forte] e diagnóstico de AVC hemorrágico, plaquetopenia e D-dimero alterado".
É importante dizer que o caso ainda está em investigação— ou seja, não é possível afirmar que a morte ocorreu em decorrência do uso da vacina. Mas o evento adverso grave já foi avaliado pela Anvisa como "possivelmente relacionado ao uso da vacina administrada na gestante".
"O que existe por enquanto é a relação temporal", afirma a epidemiologista e pesquisadora Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). "A investigação é um procedimento normal e que deve ser feito analisando o histórico da paciente", afirma.
Qual o risco?
Enquanto a investigação acontece, a Anvisa recomenda que seja seguida a bula da vacina AstraZeneca— que não tem a liberação do uso em grávidas.
Embora seja extremamente raro, um dos possíveis efeitos adversos da vacina é a ocorrência de trombose. No entanto, o quadro é diferente do que já conhecemos: enquanto a trombose clássica tem como uma das características a contagem alta no número de plaquetas (o que aumenta o risco de coágulos no organismo), a trombose no caso de quem tomou a vacina tem como característica uma queda no número de plaquetas.
No caso das grávidas, a gestação costuma aumentar o risco da trombose clássica, que surge especialmente (mas não apenas) nos membro inferiores. No entanto, pelas mudanças que o corpo passa durante a fase, é possível que a vacina também aumente o risco desse evento.
Mas, então, por que esse imunizante foi liberado para grávidas? De acordo com Agnaldo Lopes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), o Ministério da Saúde tomou a decisão de liberar a vacina com base no cenário brasileiro.
"A mortalidade de gestantes no Brasil é muito grande e sabemos que as grávidas têm mais risco de complicações pela covid-19", avalia. "Elas, então, foram incluídas nos grupos prioritários para tentarmos barrar isso."
Ele acredita que a decisão de interromper a vacinação foi correta. "São eventos raros, mas que precisam ser investigados pois são graves", afirma. "Por enquanto, o melhor é aguardar as novas orientações dos órgãos reguladores."
Comunicação não foi feita de forma eficaz
Para Larissa Cassiano, médica ginecologista e obstetra e colunista de VivaBem, a forma como a comunicação foi feita assustou as pessoas— e acabou aumentando a desconfiança nos imunizantes, que já eram vistos de forma enviesada antes.
"Faltou explicar o que é a investigação, por que ela é conduzida, mostrar os dados, e isso causou um pânico desnecessário", avalia. "A preocupação é legítima, mas devemos conduzir a questão de forma organizada, ou teremos uma resistência ainda maior à vacinação contra a covid", acredita.
A especialista espera agora que o Ministério apresente dados consistentes nas próximas decisões. "Por enquanto, estou recomendando às pacientes que aguardem novas orientações", afirma.
Vacinas estão em falta
Na opinião de Ethel Maciel, o Ministério da Saúde errou ao não reservar as doses da vacina da Pfizer apenas para as grávidas. "Essa é a vacina que temos estudos, evidências científicas, de que é segura para as gestantes", diz.
Ela lembra ainda que até mesmo a Coronavac era uma opção melhor para esse público. "A plataforma da vacina é a de vírus inativado, semelhante à da gripe, e sabemos que essa tecnologia também é segura para grávidas", avalia.
Agora, no entanto, o problema é outro: sem a possibilidade de usar a vacina inglesa, e com a falta das outras vacinas nos postos, as gestantes estão virtualmente sem opções para serem imunizadas.
"Infelizmente, mais uma vez, a falta de planejamento das ações de combate à doença está prejudicando a população", avalia a pesquisadora.
Tomei a primeira dose. E agora?
Os especialistas consultados por VivaBem garantiram que a decisão da Anvisa não deve ser motivo para pânico entre as grávidas que já foram imunizadas com a vacina AstraZeneca.
Se você já tomou a primeira dose há menos de 15 dias, deve observar qualquer tipo de reação que tenha relação com trombose: falta de ar, dor no peito, inchaço na perna e dor abdominal persistente, além de dor de cabeça persistente e visão turva. Nesses casos, procure ajuda médica imediata.
Mas, se você já foi imunizada há mais de 15 dias e não apresentou nenhuma reação, não há motivo para se preocupar.
Todas as gestantes, no entanto, devem aguardar as novas orientações da Anvisa e do Ministério da Saúde sobre a retomada ou não da vacinação e se devem ou não tomar a segunda dose.
É importante também manter o obstetra que acompanha a gravidez ou outro médico de confiança informado sobre qualquer dúvida ou intercorrência, e discutir com ele os riscos e benefícios de tomar ou não a vacina.
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