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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Acorda com o coração acelerado? Nem sempre é pesadelo; veja outras causas

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Imagem: Getty Images

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

18/05/2021 04h00

É madrugada, você dormindo começa a sentir desconforto, vira de um lado para o outro da cama e acorda ofegante e com o coração batendo tão forte que só falta saltar pela garganta. Já passou por isso ou conhece alguém que descreveu situação semelhante? Cuidado: sintomas desse tipo não devem ser subestimados, pois podem alertar que há algo de errado com a saúde.

Sono ruim de vez em quando é normal e pode estar associado a estresse, ansiedade, uso de medicamentos e consumo de alimentos estimulantes.

Porém, quando se tem pesadelos muito recorrentes e que terminam bruscamente com palpitações, sensação de falta de ar, suor frio, insônia, sofrimento emocional, como medo de voltar a dormir, e no dia seguinte dificuldades como cansaço, vertigem, falhas de memória e de concentração, procure um médico.

Ataque de pânico noturno

Segundo Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), crises de ansiedade são as que mais cursam com palpitação, dores no peito e angústia de sufocamento.

Quando muito agudas e intensas (de 10 a 15 minutos) e levam a pessoa a acreditar que está tendo um ataque cardíaco, ou enlouquecendo, podem ser consideradas ataques de pânico.

"Pelo menos um terço dos pacientes com transtorno do pânico tem crises desse tipo que os acordam de madrugada. O ataque é parecido com o diurno e em ambos os casos não fica muito claro qual o fator desencadeante da crise", ele explica, acrescentando que o processo noturno se caracteriza por um despertar repentino, com um sentimento de terror, além das características físicas de um ataque diurno: fora as já citadas, náuseas, tontura, tremores.

Embora sinta que é chegado seu fim, se a pessoa não apresentar graves problemas cardíacos ou de pressão arterial, isso não ocorrerá.

Outras causas psicológicas para agitação noturna incluem estresse pós-traumático (lembranças de acontecimentos trágicos voltam ao dormir), depressão (descompensado, o padrão do sono causa despertares e sonhos ruins) e Parkinson (o neurotransmissor dopamina quando em baixa pode desencadear o transtorno de pesadelo).

Roncos e até infecção viral

O ritmo cardíaco acelerado (taquicardias) pode ter relação, em maior ou menor grau, com os quadros anteriormente mencionados, mas ainda alterações no coração (arritmia, hipertensão, aterosclerose, insuficiência cardíaca, cardiomiopatia), na tiroide (hipertireoidismo), nos pulmões, baixa de açúcar no sangue (hipoglicemia noturna), apneia do sono e disautonomia.

"Acordar com o coração acelerado, sem motivos aparentes, é uma das reclamações mais comuns de quem sofre com apneia do sono. Isso acontece porque a apneia provoca breves e repetidas interrupções respiratórias durante a noite e o cérebro 'acorda' para que o reflexo da respiração seja retomado", informa o cardiologista André Gasparoto, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Quando a obstrução é completa a pessoa ronca e sente engasgar.

Já a disautonomia, desequilíbrio no sistema nervoso autônomo, responsável por funções independentes do organismo (respiração, digestão, batimentos, circulação sanguínea), também pode provocar sintomas noturnos desconfortáveis, incluindo diarreia, e tem chamado bastante atenção atualmente.

"Para além das doenças neurodegenerativas, genéticas e autoimunes, sabemos agora que o novo coronavírus também pode estar por trás do quadro", afirma o neurocirurgião Júlio Pereira, médico pela UFB (Universidade Federal da Bahia).

Não tema o anoitecer

A boa notícia sobre passar mal à noite é que pode ser evitável. Como prevenções, os médicos aconselham manter bons hábitos, que na prática se traduzem em não exagerar nas refeições antes de deitar e nem em álcool, café, cigarro e alimentos energéticos; estabelecer horários para dormir e acordar; se desligar das telas e dos assuntos pesados; não praticar atividades físicas tardiamente e no dia a dia controlar peso, estresse, vícios e eventuais comorbidades.

Casos envolvendo transtornos psicológicos exigem ansiolíticos e psicoterapia, e diante de uma crise de pânico noturna é indicado que se sente na cama, respire fundo, tente racionalizar os pensamentos e se levante devagar.

Não melhorando ou caso fique com dores e sintomas persistentes, como tontura, formigamentos e dificuldade em mover alguma parte do corpo, peça ajuda e vá ao pronto-socorro para descartar um princípio de infarto, AVC, ou outra condição de urgência.

"Agora, em se tratando de apneia, alterações cardiovasculares crônicas e para cada sintoma e tipo de disautonomia, o tratamento é específico", esclarece Fábio Porto, neurologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

O paciente pode ter que usar aparelhos intra-bucais, que favorecem a respiração adequada, fazer terapia voltada para o sono, usar medicamentos, como anticoagulantes e antiarrítmicos, cirurgias, eliminar fatores de risco e manter uma rotina de exercícios e dieta balanceada.