Idoso que cai da cama: entenda os riscos, como socorrer e evitar acidentes
Não é só criança pequena que cai da cama, idosos também, embora por trás desse tipo de acidente com eles os fatores sejam outros.
Para começar, acima dos 60 anos, a necessidade de se levantar no meio da noite para ir ao banheiro é maior. Tem a ver com alterações inerentes ao envelhecimento, então para além de o sono ficar mais leve e curto, aumentam a próstata (nos homens) e a recorrência de incontinência urinária (principalmente nas mulheres).
"Cair da cama também está muito relacionado com agitações decorrentes de problemas neurodegenerativos, como Alzheimer e Parkinson, que muitas vezes não afetam o raciocínio, a cognição, mas o sono, por vezes, cinco, dez ou até um pouco mais de anos antes de a pessoa começar a ter sintomas piores", destaca Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Na terceira idade, há também uma prevalência de apneia do sono, de redução da visão e da mobilidade, de aumento do uso de medicações que despertam, ou eventualmente alteram os níveis de consciência, ou dão uma vontade maior de fazer xixi, e tudo isso pode favorecer quedas, ainda mais se o quarto não estiver adaptado para garantir funcionalidade e segurança.
Altura é baixa, mas pode matar
Mesmo a 50, 60, 70 cm do chão, uma queda da cama pode resultar em tragédia. Mas isso vai depender, novamente, de como é o quarto do idoso, além de como ele caiu e o que bateu e de como está sua saúde.
Correm mais riscos idosos com idade mais avançada e com osteoporose, condição em que traumas banais podem resultar em fraturas que não ocorreriam em pessoas com ossos fortes.
"As fraturas de maior risco são as de coluna cervical e principalmente as de quadril. Podem ser mortais, porque exigem tratamento rápido, assim como as de fêmur. Fraturas sem tratamento rápido ou que requerem que o idoso fique imobilizado por muito tempo podem levar a um risco maior de trombose, embolia pulmonar, infecções de urina e pulmonares e evoluções ruins", informa Alexandre Stivanin, ortopedista especialista em cirurgia de joelho pela SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho) e do Hospital Samaritano (SP).
Estudos apontam maior mortalidade em idosos em até um ano após fraturas de quadril que envolvem risco. Fraturas de coluna também são piores quando causam danos neurológicos, além de exigirem cirurgias e podem deixar sequelas que limitam e aumentam o risco de complicações.
Quanto às fraturas de fêmur, cerca de 1/3 dos idosos acabam morrendo, mas não imediatamente. "Essas fraturas são sempre problemáticas. Acamado, o idoso perde músculo, engasga e contrai pneumonia, a causa mais comum de morte indireta", revela Camiz.
Com dor, vertigem e travado, não levante
As consequências da queda podem ser perceptíveis (quando há cortes, desmaio, hematomas), ou imperceptíveis (fraturas não expostas, lesão intracraniana), e variam de gravidade a depender dos seguintes fatores: tipo de queda, impacto e área afetada, se o idoso faz uso de medicamentos que aumentam sangramentos e se tem doenças crônicas não controladas.
Por isso, quando o assunto é primeiros socorros, o cuidado deve ser redobrado.
"Se estiver consciente, sem dor e conseguir se mover, sem problema em ajudar a levantar, mas depois é preciso levá-lo ao médico e investigar se ocasionou algum tipo de fratura, se trincou algum osso", orienta Natan Chehter, geriatra da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
"Agora, se o idoso se queixar de muita dor [principalmente na pelve e na coluna cervical], não conseguir mexer os membros, ou não recuperar o equilíbrio, não é indicado levantá-lo, para não ocorrer um agravamento do quadro. É preciso acionar o resgate no 192, que fará sua imobilização e o transportará com segurança para o hospital", complementa o geriatra.
Não assuma o risco de tentar diagnosticá-lo por conta própria ou tratá-lo com métodos caseiros.
Cair da cama pode ser evitado
Em uníssono, os médicos concordam que esse tipo de acidente doméstico pode ser evitado, mesmo que o idoso seja frágil ou comprometido física e cognitivamente, estando até mesmo limitado a seu leito.
"Para prevenir, o ideal é que a cama do idoso não seja muito alta [não deve ultrapassar o nível do joelho], para facilitar o deitar e o levantar", sugere Alexandre Fogaça Cristante, ortopedista, cirurgião de coluna e membro da diretoria da SBC (Sociedade Brasileira de Coluna).
Quanto ao colchão, precisa ter certa resistência para que não balance muito enquanto o idoso se movimenta. Cristante afirma que é preciso haver sempre uma fonte de luz —o que inclui interruptores— próxima do idoso para que ele se localize melhor.
Pode ser um abajur ou até mesmo uma lâmpada acesa na passagem que dá acesso ao quarto, que preferivelmente deve ser mantido com a porta entreaberta e sem tapetes e fios soltos, móveis baixos e com quinas pontudas nas laterais da cama e animais de estimação, que podem contribuir para tropeções.
Dependendo das condições de saúde, podem ser indispensáveis a supervisão e ajuda de um cuidador durante as idas ao banheiro, ainda mais se o idoso apresentar artrose nos joelhos, ou utilizar bengalas e andadores. Se as quedas forem frequentes, instalar barras nas laterais da cama também ajuda.
"Vale rever ainda os fatores intrínsecos, como o uso de medicamentos que possam causar tontura e queda de pressão e se estão adequados calçados, óculos, órteses e até próteses auditivas, que ajudam o idoso a se orientar melhor no espaço", lembra Chehter.
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