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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Hormônios, traumas e genética podem estar ligados a masturbação compulsiva

Imagem: iStock

Carol Firmino

Colaboração para VivaBem

25/05/2021 04h00

Sentir prazer sozinho em tempos de pandemia da covid-19 já virou questão de sobrevivência para alguns. Não à toa, a OMS (Organização Mundial da Saúde) sugere que a masturbação é o tipo de sexo mais seguro no momento e, para quem não tem um parceiro sexual dividindo o mesmo teto, essa pode ser a melhor alternativa.

No entanto, ainda que a prática possa ajudar a diminuir a ansiedade e aumentar a sensação de bem-estar, o excesso também pode ser um problema. Isso quer dizer que uma pessoa que se masturba todos os dias necessariamente tem um comportamento compulsivo? A resposta é não.

Na verdade, as emoções envolvidas no ato são mais importantes do que a frequência com que ele acontece. Mesmo assim, especialistas alertam que qualquer exagero precisa de atenção.

Diagnóstico de masturbação compulsiva

Para homens e mulheres, a masturbação pode ser encarada como mais uma forma de autoconhecimento. Por meio dela, o indivíduo descobre sobre seus gostos sexuais, enquanto permite que o corpo produza diversos hormônios capazes de gerar felicidade e satisfação. Ou seja, não há nada de errado em se masturbar, ainda que o ato tenha sido historicamente associado apenas ao prazer masculino durante anos.

O problema surge quando o indivíduo concentra tanto tempo na prática que começa a prejudicar suas atividades cotidianas como trabalho, estudos ou vida social. Segundo o psiquiatra Eduardo Perin, considera-se o diagnóstico de um masturbador compulsivo para alguém em que a necessidade de ter orgasmos ou ejacular causa algum tipo de sofrimento ou interferência brusca na rotina.

"Passar grande parte do dia se masturbando ou pensando em fantasias sexuais não é considerado saudável, já que a rotina desse indivíduo gira em torno daquele desejo sexual. Além disso, se a pessoa apresenta ansiedade, irritabilidade ou inquietude quando há abstinência da masturbação, mais uma vez, o mal-estar está presente" explica.

Ainda de acordo com o especialista, o transtorno é diagnosticado cerca de oito vezes mais no sexo masculino do que no feminino, embora não haja estudos sobre a questão, trata-se de uma observação de consultório.

O problema pode ter início em qualquer idade, sendo mais comum na adolescência, geralmente na segunda metade, por volta dos 15 anos, ou no início da vida adulta.

Comportamentos preocupantes

Imagem: AleksandarGeorgiev/Getty Images

Conforme afirma o também psiquiatra Lucas Bifano, "a masturbação compulsiva faz com que o indivíduo perca o controle sobre esse comportamento, que vem cheio de sentimento de culpa, vergonha, estresse e vazio". Para avaliar o quadro, é possível levar em conta alguns fatores, como:

  • O indivíduo passa mais tempo do que o pretendido em atividades sexuais
  • Tentar reduzir ou controlar o comportamento e não conseguir
  • Deixa de cumprir outras atividades do dia a dia em decorrência da masturbação
  • Apresentar comportamento agressivo quando não pode se tocar
  • Sentir necessidade de aumentar a frequência da masturbação para atingir o prazer

A participação do ginecologista ou urologista também é significativa em situações de comportamento compulsivo, ainda que não seja possível identificar por meio de exames físicos prováveis lesões relacionadas ao problema.

Isso porque, diante da realidade da saúde no Brasil, talvez esses sejam os únicos médicos com os quais as pessoas se consultem durante um longo período. Muitas vezes, eles atuam até mesmo como "confidentes", quando relatos sobre dificuldade de ereção, de chegar ao orgasmo e impotência sexual emocional aparecem.

Possíveis causas

O que se sabe sobre a masturbação compulsiva é que existem indicadores genéticos envolvidos, além de algumas pessoas precisarem mais de sexo do que outras. Entretanto, Perin alerta que é importante considerar situações de trauma, como negligência ou abuso sexual, físico ou psicológico na infância e adolescência, que estão relacionados a um risco maior de compulsão sexual.

Além disso, questões hormonais também podem desencadear o comportamento, ou seja, se o indivíduo possui alguma condição física que aumente a produção de testosterona ou se há algum tipo de reposição de testosterona, ele também está sujeito a isso.

Segundo Bifano, por trazer bem-estar, aliviar o estresse e provocar sensações prazerosas como o cigarro, o álcool, o jogo e outros vícios fazem, é como se essa fosse uma forma de fugir dos problemas momentaneamente.

"Por outro lado, a pessoa que sofre com a masturbação compulsiva não tem controle sobre seus pensamentos e se entrega aos seus desejos sem questionar se aquilo é adequado ou não", diz.

Ele também destaca como o consumo de pornografia pode piorar esse contexto, já que as expectativas sobre o sexo acabam distorcidas.

"Além de piorar a vida sexual com o parceiro, pode fazer com que o indivíduo consiga sentir prazer apenas com a masturbação, que é quando o pensamento vira terreno fértil para criar algo que no mundo real não é possível. Por não conseguir reproduzir isso em outras relações, acaba fazendo com que o ato se torne compulsivo e nocivo", argumenta.

O que acontece no cérebro de um masturbador compulsivo?

Existe no sistema cerebral um centro de prazer chamado núcleo accumbens, responsável por memorizar tudo aquilo que é prazeroso. "Então, se eu como uma comida agradável, uso uma droga prazerosa, faço sexo de uma forma prazerosa, essa área do cérebro produz dopamina e causa prazer. O núcleo accumbens memoriza essa experiência e 'pede' novamente por ela", descreve Perin.

Assim, no cérebro de um masturbador compulsivo, a pessoa fica dependente desse estado de recompensa e começa a buscar por esse mesmo prazer diversas vezes, porque os outros prazeres da vida passam a ser menores ou menos importantes.

"É como se a masturbação fosse a principal fonte de prazer", explica o psiquiatra.

Tratamento da compulsão

Imagem: iStock

Quando a condição de preocupação com a masturbação compulsiva é relatada, o psiquiatra precisa investigar também outras patologias que podem estar associadas a essa dependência sexual, como ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de personalidade, além de outras dependências químicas e comportamentais.

"Em um segundo momento, o tratamento é feito com diferentes tipos de medicações voltadas para a compulsão, como antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor, cannabis medicinal e outros", detalha Perin.

A psiquiatra Lívia Beraldo de Lima Basseres afirma ainda que a intervenção tem como propósito reduzir os sentimentos negativos, controlar o impulso e recuperar o interesse em desfrutar do sexo de outras maneiras.

Para isso, ela considera necessário um tratamento multidisciplinar, com a participação de psicólogos ou terapeutas sexuais: "O objetivo nunca será eliminar totalmente o comportamento de masturbação, apenas fazê-lo voltar a ser um hábito saudável".

Para as pessoas que acreditam possuir o transtorno e que desejam tentar alguma melhora antes de buscar a psicoterapia, Basseres orienta definir um cronograma com objetivos curtos. Por exemplo, evite se masturbar a cada poucas horas.

Em seguida, aumente o tempo até que os dias tenham se passado e a prática seja menos comum. No entanto, a psiquiatra faz o alerta: "O apoio psicológico é necessário para lidar com os sentimentos associados, especialmente se você não conseguir diminuir o hábito depois de tentar fazer isso sozinho", conclui.

Fontes: Adriane Branco, psicóloga especialista em sexualidade humana pela USP (Universidade de São Paulo) e em terapia cognitivo-comportamental pelo Centro Psicológico de Controle do Stress, atualmente é pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Comportamento e Sexualidade; Eduardo Aliende Perin, médico pela Famema (Faculdade de Medicina de Marília), psiquiatra e mestrando pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), terapeuta cognitivo-comportamental pela USP, terapeuta sexual pelo Instituto Paulista de Sexualidade, coordenador da Comissão Temática de Saúde Mental da Sociedade Brasileiro de Estudos em Cannabis Cativa e membro da Doctoralia; José Norberto Arcanjo Mesquita Filho, psicólogo pela UFCE (Universidade Federal do Ceará) e membro do Zenklub; Liliana Seger, psicóloga, mestre em psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP, coordenadora do Programa para o Transtorno Explosivo Intermitente do Programa do Ambulatório dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP; Lívia Beraldo de Lima Basseres, psiquiatra e mestre em psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da USP; Lucas Bifano, psiquiatra especializado em gestão e cuidados de medicina de família pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e psiquiatria pelo Instituto Ipemed de Ciências Médicas; Rodrigo Ferrarese, médico pela Universidade São Francisco, em Bragança Paulista (SP), com residência em ginecologia e obstetrícia no Hospital do Servidor Público Estadual; Rodrigo Wilson Andrade, médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e urologista do Hospital Albert Sabin de São Paulo.

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