Estudante de 22 anos sem comorbidade morre de covid após 15 dias na UTI
Defensor da vacinação em massa e do isolamento social nas redes sociais, o estudante Matheus Lopes de Carvalho, de 22 anos, acabou se tornando mais uma vítima de complicações provocadas pela covid-19.
Sem apresentar nenhuma comorbidade, doença crônica ou congênita, ele morreu na Casa de Saúde de Santos, litoral de São Paulo, às 4h15 de ontem, após ser acometido por uma infecção generalizada (sepse), após mais de 15 dias em tratamento contra a doença na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital.
A mãe de Matheus, Katherine Lopes de Oliveira, de 42 anos, afirmou ao UOL que o rapaz passou o último um ano e meio trancado em casa, só saindo para visitas à farmácia ou ao supermercado.
"Ele tinha muito medo de contrair a covid. Não tanto por ele, mas por minha causa e também pela avó dele, que tem 77 anos. Eu sou asmática e hipertensa. Então ele, que já não era um menino de ir em baladas ou ficar de bobeira na rua, ficou ainda mais alerta", detalhou a mulher pouco depois do enterro do filho, no Cemitério da Filosofia, no bairro do Saboó.
Médicos Sem Fronteiras
Antes da pandemia, Matheus fazia cursinho pré-vestibular com o objetivo de disputar uma vaga para o curso de medicina em uma universidade pública.
Ele carregava o sonho de ser médico desde os 8 anos e desejava se voluntariar para trabalhar no projeto Médicos Sem Fronteiras, que atua minimizando o impacto de doenças em países que vivem conflitos sociais, econômicos e políticos.
Quando o novo coronavírus começou a se espalhar pelo Brasil, Matheus suspendeu a presença nas aulas presenciais e passou a estudar em casa. Sua biblioteca conta com mais de 200 volumes de livros técnicos e tratados sobre Medicina.
"Seu prazer, sua maior paixão era o conhecimento. Ele passava horas e horas lendo, escrevendo, estudando. E, à medida que via que o número de jovens morrendo de covid crescia, passou a ser um ativista nas redes sociais. Twitter, Facebook, Instagram. Ele usava as redes para passar o seu conhecimento e fazer alerta sobre a importância da vacinação em massa e do isolamento social", conta a mãe do rapaz.
Primeiros sintomas surgiram após visita a ótica
Katherine acredita que o filho se contaminou no dia em que teve de ir buscar um par de óculos em uma ótica da cidade.
No dia, o rapaz que sempre andava com duas máscaras e face shield teria sido convencido pela atendente a retirar as proteções para que pudesse provar os novos óculos antes de levá-los para casa, já que seus graus de astigmatismo e miopia eram muito elevados.
Cerca de cinco dias depois, em 12 de maio, os sintomas começaram. Febre e muita dor de cabeça. Preocupada, a mãe o levou a um hospital da cidade, onde o estudante recebeu medicação e uma guia para fazer o teste de covid-19. O resultado foi positivo.
"Quando chegamos em casa, ele chorou muito. Ficava pedindo perdão por estar doente e implorava para que eu e minha mãe, a avó dele, ficássemos distantes. O médico receitou antibiótico e corticoide, mas o tratamento não deu certo. Levei ele mais algumas vezes ao PS, mas continuavam afirmando que ele não precisava ficar internado", detalha ela.
No dia 20 de maio, Katherine teve que chamar o SAMU para socorrer o filho. Ele já não conseguia mais falar ou andar, tamanha a falta de ar que sentia. Ele foi então levado à Casa de Saúde de Santos, local onde, coincidentemente, havia nascido.
Fístula na traqueia
Em uma semana, entre melhoras e pioras, Matheus teve de fazer uma tomografia de emergência após um tratamento com oxigenoterapia. Ele estava com uma fístula na traqueia, e o oxigênio estava vazando para cavidades internas do corpo, no peito e no pescoço, provocando inchaço e desconforto.
Na mesma hora, Matheus foi levado para a UTI. A mãe conta que tentava tranquilizá-lo e ele a fez prometer que tomaria a primeira dose da vacina e disse que a acompanharia pessoalmente quando ela fosse receber a segunda.
"Antes de entrar na UTI, ele disse, segurando a minha mão: 'Eu te amo, mãe'. Essas foram as últimas palavras do meu filho", lembra Katherine. "Agora entendo que devo continuar o trabalho dele, de conscientizar as pessoas para a gravidade dessa doença. Por isso, faço um alerta aos jovens sem comorbidades, como ele. Não aglomerem, não corram riscos à toa. Essa doença é letal, é perigosa. E mata até mesmo jovens saudáveis como vocês", concluiu.
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