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Desobrigar máscaras disseminará o vírus pelo país, diz Drauzio Varella

Do VivaBem, em São Paulo

10/06/2021 19h18Atualizada em 10/06/2021 20h46

Alguns dos principais especialistas médicos do país criticaram a medida estudada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de desobrigar o uso de máscaras para pessoas vacinadas contra a covid-19 e que já foram infectadas pelo novo coronavírus.

Em entrevista à Globo News, o oncologista Drauzio Varella afirmou que a medida é uma "temeridade" e só tem uma justificativa

Ela só tem uma justificativa se for para disseminar ainda mais o vírus pelo país inteiro. Não consigo ver outra justificativa....É absurdo, parece uma loucura
Drauzio Varella

A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Margareth Dalcolmo viu hoje como um equívoco a medida que está sendo avaliada pelo governo. Em entrevista à Globo News, ela lembrou que a intenção de Bolsonaro desconsidera o alto risco de reinfecção e também a eficácia das vacinas, que não garantem 100% de proteção contra a doença.

Ao ar livre seria admissível. Em ambiente fechado, mesmo vacinado, nós que já tivemos a doença devemos estar de máscara o tempo todo, até porque a gente tem algo chamado reinfecção.
Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz

Na fala em que considerou a possibilidade, Bolsonaro atribuiu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a responsabilidade de elaborar um parecer para desobrigar o uso de máscaras.

Margareth estranhou a participação do ministro na iniciativa, e reforçou que vê a medida como equivocada.

Embora tenha ouvido o nome do ministro Queiroga, ele é um médico, e tenho certeza que uma medida dessa não deveria ser acatada porque ela é equívoca do ponto de vista sanitário.
Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz

Para Drauzio, a medida compromete mais a situação de Queiroga. "Nosso ministro da Saúde vive pisando em ovos. Era um homem respeitado como médico. Que estudo há necessidade de fazer para essa situação? Não há o que estudar aí, mais de 18 meses de epidemia já sabemos como funciona e como a máscara protege", afirmou, referindo-se à declaração do ministro de que fará um estudo sobre o assunto.

Como exemplo da ameaça real de reinfecção, Margareth ainda citou o histórico do Amazonas. No estado, que teve o seu pico da primeira onda de covid-19 em abril de 2020, uma segunda onda da doença foi muito mais letal no início do ano, ao ser impulsionada pela variante P1 e reinfecções.

Diferença para os Estados Unidos

A pesquisadora da Fiocruz também comentou sobre a diferença entre o Brasil e os Estados Unidos, que liberou o uso de máscaras para vacinados há pouco menos de um mês. No país, porém, segundo balanço do Our World In Data, 59,4% da população está totalmente imunizada. Já no Brasil, são apenas 11,06% vacinados com duas doses.

"A taxa de transmissão lá é completamente diferente da que ocorre hoje no Brasil. Há várias cidades no Brasil que voltaram a manter aquele RT [taxa de transmissão] muito perto de 1, que é aquele número perigoso", disse Margareth.

"Sugestão absurda"

Assim como a pesquisadora da Fiocruz, o presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, Carlos Magno Fortaleza, não concorda com a intenção de Bolsonaro. Em entrevista à CNN Brasil, Fortaleza disse que considera a sugestão do presidente absurda.

Eu entendo que nós temos uma situação em que se confunde o individual com o coletivo. Em um país como o Brasil em que nós temos pouquíssimas pessoas vacinadas e sabendo que as pessoas podem adquirir covid mais de uma vez, é absolutamente absurdo fazer uma sugestão como a que foi feita pelo presidente. Nós podemos tirar a máscara quando tivermos um impacto da vacinação sobre a circulação do vírus.
Carlos Magno Fortaleza, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia