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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Hospitais usam redinhas e ajudam no sono e na evolução de bebês prematuros

Carlos Madeiro

Colaboração para VivaBem, em Maceió

10/06/2021 04h00

Bebês prematuros sempre foram uma preocupação para a neonatologia, que busca sempre melhorar o atendimento para reduzir a mortalidade desses pequenos pacientes.

Para ajudar no desenvolvimento e no relaxamento desses pequenos pacientes, o uso de pequeninas redes ganhou espaço nos hospitais e é elogiada por profissionais da área.

Recém-nascidos prematuros, muitas vezes, têm constantes irritações. A técnica com rede tenta reproduzir um ambiente do útero da mãe e ajudar no alívio desse estresse, favorecendo o sono —fundamental para o desenvolvimento.

bebê em redinha - Instituto de Campina Grande - Instituto de Campina Grande
Imagem: Instituto de Campina Grande

O uso de redinhas é citado no manual técnico do Método Canguru, do Ministério da Saúde, lançado em 2017.

"Existem critérios específicos para o uso no recém-nascido, e o início desta terapia deverá ser após 72 horas de vida, prevenindo a hemorragia intracraniana", diz o documento.

A redinha usada é confeccionada de tecido hipoalergênico (flanelado ou lycra) e é de uso individual.

Hospital em Fortaleza comemora

No Hospital Geral Doutor César Cals, em Fortaleza, a prática traz bons resultados, segundo explica Pollyana Azevedo, fisioterapeuta com especialização em neonatologia.

"A redinha oferece aos bebês uma experiência sensorial e motora que remete ao ambiente uterino da mãe. Eles têm aconchego, balanço e proteção", conta.

Dentro da UTI, toda equipe participa do processo e se reveza para fazer o balanceio. "O bebê vai para redinha, normalmente, quando está em um momento de maior irritação. A gente o coloca justamente como conduta para minimizar esse estresse. Com o balanceio geralmente o bebê fica tranquilo e dorme", explica.

Por dia, um bebê deve ficar de uma a três horas na redinha. O tempo de balanço sempre é definido levando em conta a tolerância do recém-nascido e os indícios de que ele está confortável.

A técnica ajuda em questões importantes do tratamento fisioterápico neonatal. "A gente atua para oferecer técnicas que ofereçam além do conforto respiratório, experiências adequadas para o melhor desenvolvimento neuropsicomotor e prevenção de posturas patológicas que prejudiquem esse desenvolvimento", assegura.

Segundo a fisioterapeuta, os bebês reagem de forma muito positiva quando colocados na redinha. "De imediato noto uma mudança comportamental: eles ficam mais organizados, menos irritados, e conseguem dormir de forma mais profunda. Essa mudança favorece muito a diminuição do gasto energético e favorece o ganho de peso", explica.

Neonatologistas veem ganhos

Entre médicas neonatologistas que usam as redinhas, a técnica é elogiada porque traz bons resultados no desenvolvimento do recém-nascido.

"O método permite que o bebê tenha melhor postura dentro da incubadora. Isso também traz benefícios porque acalma, dá essa ideia de mais aconchego e acaba melhorando o tônus [estado involuntário de contração natural dos músculos corporais], a postura do bebê, os reflexos. Ou seja, contribui para o desenvolvimento e melhora mais rápida da UTI", diz Ana Daniele Andrade Vitoriano, chefe do Centro de Neonatologia do Hospital Doutor César Cals.

Na unidade em Fortaleza, diz a pediatra, os profissionais usam as redinhas nos bebês prematuros com estabilidade clínica entre 1 kg e 2 kg.

A neonatologista Denise Amorim, do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, em Campina Grande (PB), também comemora o sucesso no uso das redinhas e cita nove pontos positivos que percebe no tratamento dos bebês que usam a redinha:

  • Ajuda no desenvolvimento motor e sensorial
  • Traz estabilidade na respiração
  • Amplia o ganho de peso
  • Melhora o sistema imunológico
  • Faz com que tenha respostas mais rápidas ao tratamento
  • Dá uma sensação de conforto, como se estivessem na barriga da mãe
  • Evita lesão por pressão
  • Reduz o estresse
  • A longo prazo, previne alteração no formato da cabeça

"A redinha garante um atendimento humanizado. Para os bebês que podem ir para ela, garante-se calma, tranquilidade e melhora na qualidade do sono", completa.

Uso no Norte e no Nordeste

bebê em redinha na incubadora - Thiago Freitas/Ascom HGCC - Thiago Freitas/Ascom HGCC
Imagem: Thiago Freitas/Ascom HGCC

Segundo Marynea Silva do Vale, do Departamento de Neonatologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a redinha ajuda no desenvolvimento dos bebês prematuros —algo que sempre teve grande atenção da medicina.

"A prematuridade é um dos grandes problemas de saúde pública no mundo, e a ciência tenta sempre evoluir no tratamento desses bebês", conta, citando que há vários problemas que podem ser causados por ela.

"Além da mortalidade, ela leva muito à morbidade; e um desses problemas é o neurodesenvolvimento. Esse é um ponto que trabalhamos para minimizar as consequências. E nessa fase tentamos ajudar no desenvolvimento psicomotor. É baseado nisso que vem a ideia da redinha", explica.

Vale afirma que, até por questões culturais, a redinha é mais usada em hospitais do Norte e do Nordeste do pais. "Mas há várias unidades de outras regiões do país que também usam a técnica, mas em menor número", conta.

Segundo ela, o método é usado dentro da metodologia canguru, criada para humanizar o atendimento a esses bebês, valorizando o toque pele com pele.

"Podem usar bebês que estão estáveis do ponto de vista clínico, que não estão mais recebendo assistência ventilatória e não estão sendo monitorizados por muitos aparelhos", diz.

Apesar de ver vários benefícios, a neonatologista diz que faltam ainda estudos mais conclusivos para que o método seja indicado para todos os hospitais que tratam bebês prematuros.

"Há necessidade de mais estudos para se fazer uma recomendação formal. Mas é inegável que o uso causa um aconchego, que melhora o posicionamento do bebê, que estimula o desenvolvimento sensorial e motor ao reproduzir o comportamento intrauterino. Ela também promove o relaxamento. A gente faz mais como humanização do que como uma recomendação científica", finaliza.