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Menina de 3 anos morta pela covid-19 não tinha comorbidades, diz mãe

Mãe acredita que criança não foi infectada na escola - Reprodução
Mãe acredita que criança não foi infectada na escola Imagem: Reprodução

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

11/06/2021 21h13

A assistente administrativa Fabíola Bezerra, 41 anos, mãe da menina Alice, de 3 anos, que morreu de covid-19 na quarta-feira (9) em Santos, litoral de São Paulo, afirma que, apesar do que foi alegado pela Secretaria de Educação (Seduc) do município, a criança não tinha comorbidades. Ela também acredita que a filha não pegou a doença na escola.

A família de Alice ainda está muito abalada com a morte da criança. Fabíola garante que, apesar dela apresentar um grau de autismo leve, não possuía nenhuma doença preexistente que corroborasse para a evolução de um quadro tão grave da doença.

Fabíola conta que, quando a pandemia teve início, se viu obrigada a suspender os atendimentos que a menina recebia. A criança ficou isolada, em casa, e os pais se revezavam nos cuidados. O pai, motoboy, ficava com Alice durante o dia e, quando a mãe chegava do trabalho, no final da tarde, ele saía para trabalhar.

Em abril deste ano, no dia 17, Fabíola passou a sentir os primeiros sintomas do que suspeitou ser covid. Ela alegou ter sofrido muita dor de cabeça e cansaço excessivo. No dia 22, o exame que havia feito para confirmar a doença deu positivo. Poucos dias depois, o pai da menina também passou a ter os sintomas.

"Graças a Deus, tivemos apenas sintomas leves, nada grave. E a Alice não desenvolveu nenhum sintoma durante a nossa quarentena. Além do mais, a gente lia em vários lugares que crianças da idade dela não pegam covid, ou que seriam assintomáticas".

Passada a quarentena do casal, no dia 12 de maio, Fabíola acreditou que estava na hora da menina retornar às atividades. As aulas da rede municipal haviam sido retomadas e Alice precisava do acompanhamento dos professores e especialistas.

"No fundo, eu não queria mandar ela para a escola. Mas pensei: ela precisa voltar a interagir com as pessoas, com outras crianças, isso é essencial para o desenvolvimento dela. Então decidi que era hora de eu voltar a trabalhar e ela, de estudar".

Início dos sintomas

Na madrugada do dia 15, sábado, Alice começou a se sentir desconfortável e ela apresentou febre. No dia seguinte, domingo, a mãe começou a se preocupar. A menina não queria mais comer.

Na segunda-feira, dia 17, Fabíola levou a criança para o Hospital Ana Costa, quando informou à médica que a atendeu que ela e o marido haviam contraído a covid-19. A médica fez vários exames, mas disse que não havia necessidade de realizar testagem para covid. A menina foi medicada e retornou para casa.

Fabíola levou a menina na quarta-feira, dia 19, novamente ao hospital, informando mais uma vez aos médicos que ela e o marido haviam contraído covid um mês antes da menina começar a ter os sintomas. "Mas eles falavam para eu me tranquilizar, que crianças da idade da Alice eram assintomáticas ou tinham sintomas leves no caso da covid."

A menina foi internada em observação, devido à falta de apetite. Na quinta, os médicos descobriram que ela havia sofrido um derrame pleural, entretanto, insistiram no diagnóstico de dengue. A criança foi levada para a UTI, para realizar uma drenagem no pulmão. Antes mesmo do procedimento, ela sofreu três paradas cardíacas.

"Foi quando uma plantonista da UTI nos chamou para dizer que ela deveria estar mesmo com covid. Nos deixaram vê-la e eu fiquei chocada quando vi que estava intubada". Após a visita, Alice teve uma parada cardíaca. Conseguiram reanimá-la e ela foi transferida para uma UTI especializada em covid e o exame foi solicitado na sexta-feira (21).

No domingo, dia 23, chegou a confirmação que Fabíola temia: Alice estava mesmo com covid-19. Ela conta que o coração da menina já estava fraco, e que ela havia ainda sofrido um pneumotórax, quando o ar vaza para o espaço entre os pulmões e a parede torácica.

Os rins da criança já estavam quase parando e o pulmão inchou tanto que começou a comprimir o coração.

A partir daí, a saúde da menina foi oscilando entre melhoras e pioras até que, no dia 9 de junho, ela não resistiu e acabou morrendo. Fabíola conta que a equipe de saúde tentou de tudo, mas ela já apresentava uma síndrome multissistêmica que era irreversível.

Segundo os médicos explicaram para a família, a doença deveria estar incubada na criança. Informaram que a covid-19 pode ficar por até seis semanas "oculta", então Fabíola não acredita que Alice pegou a doença na escola.

"Deve ter pegado de mim, quando eu adoeci. Eu não sei se peguei no VLT, no serviço...A gente tomava todos os cuidados. Usávamos máscaras, quando a gente chegava do trabalho, as roupas iam para a máquina e a gente tomava banho", afirmou.

Faço um apelo para as mães, faço um alerta. Não acreditem que as crianças estão livres desse vírus. Elas são tão vulneráveis quanto eu e vocês."

Por meio de nota, a diretoria do Hospital Ana Costa se solidarizou com a família de Alice e informou que prestou todo o suporte necessário durante sua internação.

"A paciente foi submetida a uma série de exames de diagnóstico, conforme evolução das hipóteses clínicas, e recebeu o tratamento mais adequado ao seu quadro de saúde. No entanto, apesar do esforço das equipes médicas e de cuidados intensivos, o agravamento do estado de saúde culminou no óbito da paciente."