Covid: capitais têm diferença de até 31 anos na idade mínima para vacinação
Se você mora em São Luís, tem 29 anos e vive sem comorbidades, desde ontem pode se vacinar contra a covid-19. Já quem mora em São Paulo, mesmo que tenha 59 anos, ainda tem de aguardar para ser imunizado.
A diferença de critérios utilizados e até na quantidade de vacinas recebidas levou estados e municípios a terem vacinação em ritmos e regras distintas, criando distorções especialmente entre faixas etárias para imunização de pessoas sem comorbidade —que ontem era de 31 anos entre capitais.
O UOL consultou, na sexta-feira, as informações disponíveis em todas as capitais do país e viu diferença não só na idade mínima de quem já pode tomar a primeira dose, mas também no uso de vários critérios, que incluem e excluem profissões ao cruzar uma divisa.
Após a vacinação (ao menos de uma dose) de idosos e grupos prioritários estabelecidos no PNI (Programa Nacional de Imunizações), não houve uma definição clara do governo federal sobre quem passaria a receber as doses. Com isso, estados e municípios estabeleceram regras próprias.
A maioria, porém, usa a regra de vacinação decrescente por idade. A capital mais avançada do país é São Luís, que ontem começou a vacinar pessoas a partir de 29 anos sem comorbidades. Enquanto isso, quatro capitais ainda não liberaram as doses para pessoas com menos de 60 anos sem comorbidades.
A vantagem de São Luís, porém, tem uma explicação: o estado recebeu 300 mil doses extras de imunizantes em maio, após a descoberta de seis casos da variante Delta, descoberta na Índia.
Sem doses extras, o caso que mais chama a atenção é o do Recife, que já está vacinando pessoas a partir de 43 anos. É a única capital do país sem doses a mais que já entrou na faixa dos 40 anos.
O critério de distribuição de doses dentro de Pernambuco, porém, é alvo de reclamação de prefeituras do interior, que afirmam não terem recebido doses para avançar na faixa etária e igualar a capital.
Outro critério muito usado pelas prefeituras é a inclusão de trabalhadores de profissões específicas --e que ficaram de fora das prioridades do PNI.
Jornalistas, por exemplo, estão incluídos na fase atual de Cuiabá e São Luís. Os garis foram vacinados em Maceió, enquanto os de São Paulo fizeram até greve pedindo a inclusão. Já os bancários estão inclusos no novo cronograma de Teresina, mas lutam em muitas outras cidades pelo direito à vacinação.
Diferença em números
Segundo levantamento da CNM (Confederação Nacional dos Municípios) divulgado ontem, a imunização de pessoas abaixo de 60 anos sem comorbidades teve início em apenas 53% dos municípios. Enquanto isso, há 3,3% das cidades que imunizam pessoas abaixo de 40 anos. O levantamento foi feito entre os dias 7 e 10 de junho e ouviu 3.129 prefeituras.
"Nós não temos um programa uniforme, homogêneo, com regras definidas no país. Aqui em São Paulo, por exemplo, o maior número de mortes está na periferia, nas zonas sul e leste, mas a maior parte das doses foi dada na parte rica da cidade", o pesquisador Miguel Nicolelis, professor titular do Departamento de Neurobiologia da Duke University (EUA).
Isso mostra bem a falta de um planejamento adequado. A vacinação tinha de atingir primeiro onde está ocorrendo mais mortes. Mas foi tudo feito no tranco. É mais um ponto em que fomos mal nessa política contra a pandemia.
Miguel Nicolelis, pesquisador
Outra diferença aconteceu na vacinação de gestantes e puérperas sem comorbidades, que teve início apenas em 47% das cidades ouvidas no levantamento. Para esse público, só podem ser ministradas as vacinas CoronaVac e Pfizer e há uma orientação de especialistas para que todas essas mulheres sejam imunizadas.
Falta critério nacional
Segundo o diretor do CNM e prefeito de Santarém (PA), Nélio Aguiar (DEM), a escassez de doses e a falta de um critério nacional motivaram as prefeituras e os estados a criarem critérios para ordenar as prioridades da vacinação.
Não é boa essa desconformidade. O ideal seria ter todos vacinando no país nas mesmas faixas etárias, e assim cobrando o Ministério da Saúde e os estados que distribuam doses para que todos estejam no mesmo nível. Mas não é isso que a gente está vendo.
Nélio Aguiar, diretor do CNM
Para Aguiar, apesar do uso de regras não previstas em planos por várias cidades, a melhor forma de dar transparência seria usar a idade como critério único.
"Isso iria oportunizar que todos os municípios vacinassem ao mesmo tempo. Vemos hoje estados em que a capital está lá na frente, e o interior, lá atrás. Além de não considerarmos uma boa estratégia, acaba criando uma desigualdade na garantia de direito no acesso à vacinação", explica.
Segundo o Ministério da Saúde, o critério usado para a divisão e distribuição de doses das vacinas é proporcional à população por estado. Cabe aos governos estaduais, porém, distribuir entre os municípios.
Aguiar, porém, afirma que deve haver falha nesse cálculo e cita que municípios que paralisaram a vacinação em idades elevadas por falta de doses.
"Esse cadastro de quantidade de pessoas por faixa etária é informado no sistema do ministério, qualquer secretaria acessa isso. O que a gente percebe é que pode estar ocorrendo uma diferença no momento em que o ministério distribui para os estados, e depois quando secretarias estaduais distribuem para os municípios. Não está havendo uniformidade", diz.
Ainda segundo o ministério, a estratégia de distribuição de doses "é revisada semanalmente em reuniões entre União, estados e municípios, observando as confirmações do cronograma de entregas por parte dos laboratórios". "O objetivo é garantir a cobertura do esquema vacinal", completa.
Já foram destinadas 109,1 milhões de vacinas aos estados, com 75 milhões de doses aplicadas.
Idade mínima para vacinação em capitais *:
SUL
- Porto Alegre - 55
- Florianópolis - 52
- Curitiba - 56
CENTRO-OESTE
- Campo Grande - 50
- Cuiabá - 55
- Goiânia - 52
- Brasília - 58
SUDESTE
- São Paulo - 60
- Vitória - 45
- Belo Horizonte - 56
- Rio de Janeiro - 54
NORDESTE
- Salvador - 51
- Aracaju - 55
- Maceió - 52
- Recife - 43
- João Pessoa - 50
- Natal - 57
- Fortaleza - 56
- São Luís - 33
- Teresina - 55
NORTE
- Belém - 58
- Macapá - 50
- Manaus - 52
- Porto Velho - 60
- Rio Branco - 60
- Palmas - 60
- Boa Vista - 60
* Data de referência: sexta (11/6), até as 13h
Fonte: prefeituras
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