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Prontuário afetivo: atendimento humanizado ajuda na melhora de pacientes

Equipes de hospitais se unem para acolher pacientes com iniciativas personalizadas - Hospital Universitário Cajuru/Divulgação
Equipes de hospitais se unem para acolher pacientes com iniciativas personalizadas Imagem: Hospital Universitário Cajuru/Divulgação

Do VivaBem, em São Paulo

12/06/2021 14h15

Em um lado do corredor do hospital é possível ouvir pop, samba e rock. Do outro, o que toca é rock. Há espaço para todos os gêneros musicais, dependendo do que o paciente mais gosta.

É assim que os hospitais têm humanizado os prontuários das pessoas internadas nas UTIs, com informações sobre o gosto musical, atividades de lazer, apelido que prefere ser chamado e até fotos dos amores da vida de cada um. A ideia é ir além do prontuário convencional, que foca em questões técnicas da saúde do paciente, como alergias e medicamentos, horários das refeições e troca dos lençóis.

O prontuário afetivo, como é chamado, já é usado em diferentes UTIs e enfermarias pelo Brasil. O objetivo é acolher os pacientes e familiares por meio de um atendimento mais humanizado. No Hospital Universitário Cajuru, que atende pacientes 100% pelo SUS em Curitiba, no Paraná, o prontuário foi implementado tendo em vista esse momento de pandemia, que impossibilita ou restringe visitas familiares

"O modelo é bem simples, mas tem um impacto grande para o paciente, principalmente para quem está sedado ou saindo de uma sedação. Chamá-lo pelo apelido ou colocar uma música que a pessoa gosta estimula áreas do cérebro e resgata memórias positivas, além de ser um acolhimento para os próprios familiares que ficam como acompanhantes quando possível", conta Sidnei Evangelista, psicólogo e integrante da pastoral do Hospital Universitário Cajuru.

O paciente Felipe da Silva Maia, de 27 anos, sofreu um acidente de moto e ficou sedado por 10 dias. A mãe, Regina Isabel da Silva, conta que o prontuário afetivo e a equipe foram muito importantes nesse momento.

"Nós preenchemos o prontuário com os estilos musicais que ele mais gostava, sertanejo e eletrônica. Esse simples gesto me deixou mais segura, sabendo que o meu filho estaria em boas mãos. Como eu não podia estar com ele na UTI, a equipe fazia chamadas de vídeo para que eu pudesse vê-lo. Foi importante para mim e tenho certeza que para meu filho também. Hoje ele já está acordado e se recupera bem", comenta.

A psicóloga do hospital, Maria Eduarda Pianaro Chemin, conta que o prontuário beneficia tanto os pacientes quantos os familiares e profissionais da saúde.

"O prontuário afetivo surge com esse objetivo de poder apresentar para a equipe quem é esse paciente que está aqui conosco e como é a vida dele fora do hospital. Essa é uma estratégia de humanização que no nosso hospital está em uma fase de projeto-piloto, mas já temos conseguido resultados bem positivos. Para a equipe, que percebe a influência no tratamento do paciente, podendo conversar e abordar temas que ele gosta; para a família, que se sente mais confortável sabendo o atendimento humanizado que seu ente querido está recebendo; e também para o paciente, que se sente mais acolhido e apresenta uma melhor recuperação", diz.

Técnica também é usada em cuidados paliativos

O cuidado paliativo é caracterizado pela assistência mais humanizada dada aos pacientes terminais ou em estágio avançado de determinada doença. O objetivo é oferecer aos pacientes um tratamento digno e diminuir o sofrimento deles.

"Nesse processo de acolhimento a pacientes terminais, é importante que as informações sobre eles sejam compartilhadas entre nós, profissionais da saúde, e o prontuário afetivo vem para garantir essa dinâmica mais leve. Com ele, conseguimos identificar se ele é um paciente mais aberto, até para receber visitas de palhaços e voluntários, ou se ele é mais fechado, além de proporcionar visitas com músicas já de acordo com o gosto de cada um", conta Sidnei Evangelista. O prontuário afetivo foi introduzido nas UTIs do Hospital Universitário Cajuru para "resgatar as memórias afetivas positivas dos pacientes que estão internados".

O que importa para você?

Outra iniciativa que tem acolhido os pacientes no ambiente hospitalar é o dia do "O que importa para você?", uma campanha mundial celebrada em junho que busca incentivar o diálogo entre profissionais da saúde e pacientes, criando mais empatia e aprimorando o cuidado centrado na pessoa.

O gaúcho Fábio José de Oliveira está há 46 dias internado no Hospital Marcelino Champagnat, devido a complicações da covid-19. Ficou 19 dias intubado e, embora tenha dado entrada lúcido, disse que demorou cinco dias para se situar a respeito da cidade em que estava.

Com um filho de 5 anos, que é a sua paixão, ele conta que deixou de trabalhar no início da pandemia para cuidar do garoto e que o melhor momento da internação para ele foi quando liberaram a entrada do menino. "Foram apenas alguns minutinhos. Só que ver é diferente de abraçar e, quando eu receber alta médica, a primeira coisa que eu quero fazer é abraçar meu filho e minha esposa. A família é a coisa mais importante. Filho, esposa, mãe e pai são nosso alicerce, é o que dá esperança de sair o quanto antes", conta.

Mas nem sempre visitas assim são possíveis, mesmo que o paciente não esteja no hospital internado pelo coronavírus. Por isso, algumas atitudes simples e diárias dão conforto.

A nutricionista do Grupo Marista, Patrícia Conter Lara Prehs, responsável pelo setor de Nutrição e Dietética dos hospitais Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, conta que a equipe conversa sempre com os pacientes para conhecer seus gostos alimentares e fazer adaptações, respeitando a dieta alimentar de cada um.

"Algumas coisas simples acabamos adequando no dia a dia, quando o paciente quer um arroz com ovo ou que viu um familiar comendo um pudim em uma chamada de vídeo e ficou com vontade. Mas também já chegamos a servir refrigerante para um paciente que havia ficado longo tempo intubado, após a evolução da dieta, assim como batata frita, pizza e hambúrguer. Claro, que com a liberação médica", exemplifica.

Comida de hospital - Hospital Universitário Cajuru/Divulgação - Hospital Universitário Cajuru/Divulgação
Imagem: Hospital Universitário Cajuru/Divulgação