Onze estados esperam vacinar todos os adultos contra covid-19 até outubro
Resumo da notícia
- Estados fazem cálculo para 1ª dose com base nas projeções do Ministério da Saúde
- Capital do MA, São Luís pode encerrar início da vacinação em julho; CE prevê agosto
- Promessas descumpridas, porém, faz com que 15 estados evitem fazer estimativa
- Chegada de mais imunizantes pode acelerar a chegada da vacina ao fim da fila
Ao menos 11 estados prometem vacinar até outubro toda a população adulta com a primeira dose de imunizantes contra a covid-19, segundo levantamento feito pelo UOL. Entre eles, há estados que dizem acreditar ser possível imunizar seus cidadãos até antes, como o Ceará, que estima vacinar todos acima de 18 anos de idade até o final de agosto. Na capital do Maranhão, São Luís, a expectativa é que seja ainda mais rápido: final de julho.
A projeção dos estados leva em consideração os cronogramas do Ministério da Saúde sobre entregas de doses. Mas o histórico de promessas descumpridas faz com que 15 unidades da federação prefiram não arriscar uma estimativa sobre quando terão aplicado ao mesmo uma dose em todos os adultos.
Quando aplicarão a primeira dose para a população adulta:
- Até agosto: Ceará;
- Até setembro: Rio Grande do Sul, Sergipe, Maranhão e Pará;
- Até outubro: Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Piauí;
- Sem definição: Paraná, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Tocantins, Rondônia, Roraima, Amazonas, Acre e Amapá;
- Não respondeu: Alagoas.
Até a última quinta-feira (10), o Brasil já havia iniciado a imunização de cerca de 53 milhões de pessoas. Delas, aproximadamente 23,5 milhões já completaram o esquema vacinal, com a aplicação da segunda dose.
O Ministério da Saúde estima que a população vacinável do Brasil neste momento é de cerca de 161 milhões de adultos. Assim, ainda seria necessário iniciar a imunização de aproximadamente 110 milhões de brasileiros.
Esse número pode crescer em breve, já que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a aplicação da vacina da Pfizer em crianças com 12 anos ou mais; o ministério, porém, ainda não indicou se deve liberar a imunização de menores de idade.
No terceiro trimestre, de julho a setembro, o ministério diz que deve receber cerca de 175 milhões de doses. Até o final de junho, serão ao menos mais 25 milhões de doses. A soma dessas quantidades —mesmo aquém das previsões iniciais da pastas— faz com que gestores e especialistas acreditem ser crível a projeção de vacinar todos os brasileiros com uma dose até o final de outubro —e, talvez, até antes.
"Acho que ela é bem realista", diz Cynthia Molina Bastos, diretora da CEVS (Centro Estadual de Vigilância em Saúde) do Rio Grande do Sul, estado que projeta aplicar a primeira dose em todos os adultos até setembro. "A gente tem uma possibilidade que é real, palpável, baseada em cálculo matemático, mas que milhares de coisas podem afetar para um lado ou para outro."
Mais otimista que gaúchos, maranhenses e paraenses estão os cearenses. A Secretaria de Saúde do Ceará disse ao UOL que acredita que poderá vacinar toda sua população com a primeira dose até o final de agosto.
Para isso, a secretaria diz considerar as "negociações de compra direta de vacinas de outros laboratórios e o recebimento regular de imunizantes distribuídos pelo Ministério da Saúde". "Existe uma projeção de vacinar a população em geral, com primeira dose, até o fim do mês de agosto, se todos os cenários forem favoráveis", diz em nota.
No caso do Maranhão, há uma estimativa mais veloz para região da Grande Ilha, que inclui a capital São Luís. Se, para todo o estado, a projeção é para o final de setembro, na Grande Ilha é o final de julho.
Neste momento, a capital maranhense já vacina quem tem 30 anos de idade. A velocidade diferente é em razão das 300 mil doses destinadas a São Luís e cidades vizinhas após a identificação da variante indiana no mês passado.
Maranhão e Ceará não disponibilizaram representantes para explicar seus cálculos. O Ministério da Saúde também não retornou os pedidos da reportagem.
Para Bastos, a indicação de um calendário é importante para mostrar à população que a vacinação "é possível" depois de mais de um ano de pandemia. "Dá para as pessoas um fio de esperança."
Aumento na quantidade
Quando a imunização no Brasil começou, situações envolvendo as duas primeiras vacinas à disposição fizeram com que as projeções de especialistas e do governo variassem entre o final de 2021 e o ano que vem para que a imunização chegasse a todos os brasileiros.
Entre as razões para isso estavam o intervalo mais curto da CoronaVac, de 28 dias, e a dificuldade de se ter uma entrega mais constante dela e também da vacina AstraZeneca. O quantitativo contratado de ambos os imunizantes também não cobria toda a população: cerca de 310 milhões de doses. O país ainda recebe doses do consórcio internacional Covax Facility, mas as remessas têm sido irregulares desde o princípio, tendo somado cerca de 5 milhões entre março e maio.
Porém, desde o final de abril, o Brasil passou a contar com o fornecimento da vacina da Pfizer, dando novo ritmo à vacinação. Até o final de setembro, serão 100 milhões de doses do imunizante, sendo que cerca de 8 milhões já foram entregues até este final de semana. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz já ter contratado mais 100 milhões, a serem entregues até o final do ano.
Como o intervalo das vacinas AstraZeneca e da Pfizer são mais longos, de três meses, acelerar o início do esquema vacinal dos brasileiros tornou-se viável. Elas serão as que estarão em maior quantidade no país.
Pensando em velocidade, inclusive, o ministério foi contra a bula da Pfizer, que recomenda um intervalo de 21 dias. A estratégia, adotada pelo Reino Unido, traz controvérsias. "Se usar a da Pfizer em 21 dias, eu diminuo muito o número de pessoas que poderiam ser vacinadas, não posso usar tudo que vem", diz Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações). "Essas que têm calendário mais longo permitem a gente ampliar a cobertura de primeira dose", lembra Bastos.
Mais doses de outros imunizantes também devem começar a ser aplicadas no Brasil em breve, como as vacinas Sputnik e Covaxin, aprovadas com restrição pela Anvisa. Nos próximos dias, o país deve receber a primeira remessa da vacina da Janssen, que precisa de apenas uma dose para garantir a imunização.
Cautela
Entre os estados que não apresentam uma projeção para aplicar a primeira dose, a justificativa dada é que não querem criar "falsa expectativa" na população. A secretaria de Saúde do Distrito Federal, por exemplo, disse que tem como prioridade "vacinar a população no menor tempo possível". "No entanto, para isso, depende do envio de vacinas por parte do Ministério da Saúde. Desta forma, não apresenta cronograma de vacinação de longo prazo para não criar expectativa que possa não se concretizar."
Linha parecida foi adotada pelo secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo. Em pronunciamento no dia 2 de junho, ele chegou a considerar o final de outubro como possível para encerrar a imunização de primeira dose, mas disse que "tem dificuldade" em fazer uma previsão "com tanta convicção". "Tivemos, em todos os meses, uma quebra na expectativa de entrega de vacinas por conta de alguma dificuldade na entrega de insumo, na produção."
Outra reclamação comum foi o fato de o ministério não detalhar por mês o cronograma de entrega nos próximos trimestres. No mais recente, na última quarta-feira (9), apenas foi apresentado um recorte para julho, algo que não se conhecia até então. Em seus últimos informes técnicos, o ministério inclusive pede para que os estados considerem o último mês de cada trimestre como prazo para recebimento das doses previstas.
"Infelizmente, a insegurança de um calendário com quantitativo nos impede de realizarmos a projeção", diz, em nota, a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte.
"No momento, não é adequado fazer previsões com base em entregas realizadas a conta-gotas por parte do governo federal", diz a Bahia.
Cunha, da SBIm, avalia que os cronogramas mais recentes do ministério —com oscilações menores, mas também com antecipação de remessas— têm dado mais confiança para o planejamento.
Apesar dos problemas apresentados pelo ministério, o presidente da SBIm diz que é possível acreditar que a vacina chegue aos brasileiros com mais de 18 anos ao longo dos próximos três meses. "Gostaria de dizer agosto, mas vamos também ser cautelosos. No pior cenário, acho que outubro. E, no melhor cenário, acho que teria condições, sim, a partir do final de agosto alguns estados já conseguirem essa meta de vacinar a população adulta com a primeira dose."
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