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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Há vários tipos de amizades tóxicas; veja como identificar e lidar com elas

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Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

17/06/2021 04h00

Amizades surgem por diversas razões e sob várias circunstâncias. O vínculo afetivo é um dos principais pilares que as sustenta, mas nem sempre se mostra suficiente para o relacionamento ser saudável. A troca e o respeito mútuo, fatores essenciais para qualquer relação saudável, podem não fazer parte do pacote.

O problema é que muita gente não sabe que mantém uma amizade tóxica. Idealização, dificuldade em estabelecer limites, questões emocionais, dependência e até sentimentos confusos podem impedir uma visão mais clara das coisas.

Entender como essa convivência nociva se desenrola é o primeiro passo para quebrar o padrão, seja ressignificando o convívio ou deixando-o de lado em prol da própria saúde mental.

Para isso, vale conhecer como agem os principais tipos de amigos tóxicos:

Amigo vítima

É aquele que sempre se coloca como mártir e sofredor das situações. Não importa o quanto você tenta ajudar a pessoa a se fortalecer, ela insiste em se manter numa postura de lamúrias e reclamações. É uma relação que, com o tempo, se mostra disfuncional. Primeiro, porque leva você a se sentir constantemente insuficiente e até inútil por não conseguir ajudar. Segundo porque, conforme especialistas, onde há uma vítima geralmente há também um carrasco. Não é raro, ainda, começar sentir culpa por questões que você sequer provocou ou tem responsabilidade. Por fim, a vitimização pode carregar doses de manipulação à medida que você vai fazendo o que o outro deseja, mesmo sem se dar conta, para minimizar a sua dor e apaziguar suas queixas.

Amigo que irradia inveja

Não é um processo simples reconhecer a inveja em quem gostamos, porque muitas vezes ela não é tão evidente. Por isso, vale prestar atenção se você não tem desvalorizado e até mesmo ocultado as próprias conquistas e vitórias para que o amigo não se sinta mal ou diminuído. O amigo tóxico vive uma busca constante de uma posição de destaque ou de superioridade, o que o leva a desqualificar as vitórias e ideias dos outros, como se fossem inúteis e de pouco valor. Ele fica extremamente incomodado com o sucesso e ou felicidade alheia, não torce por você nem vibra com suas conquistas, e vai, pouco a pouco, minando a sua autoconfiança.

Amigo competitivo

Você acabou de comprar um carro novo? O do amigo, embora velho, não "bebe" tanto combustível. Acabou de ler um livro incrível? Essa é uma "obra menor" do autor, bom mesmo é um romance desconhecido escrito há duas décadas. O desânimo com o trabalho tomou conta da sua vida nos últimos meses? Sua amiga nem sabe como tem conseguido levantar da cama ultimamente! Para o bem ou para o mal, a situação do outro sempre é pior/melhor, dependendo do contexto. A questão é que amigos verdadeiros impulsionam, incentivam ao crescimento, nutrem a confiança para as realizações e celebram as conquistas, dificilmente embarcando em competições ou antagonismos.

Amigo pessimista

Uma pessoa é pessimista por conta da forma como vê o mundo e essa característica pode ter a ver com formação social, convívio familiar, contexto a que foi submetida, noção de vitória e de derrota. Em alguns casos, as reações negativas diante de tudo e de todos podem ser, na verdade, um pedido de socorro e até mesmo um transtorno do humor. Quem tem amigos e é sensível tem como identificar a necessidade de ajuda e oferecê-la. Porém, há momentos em que o pessimista se recusa a buscar/receber auxílio e pode contaminar quem está em volta.

Amigo que fere "sem querer"

É aquele que expõe suas vulnerabilidades ou faz chacota de você em público, mas de um jeito "despretensioso", "livre de maldade", "não intencional". Quando se deu conta, já escapou —só que não é bem verdade, porque tal atitude é frequente, repetitiva, insistente. Pode ser um comportamento inconsciente, mas nem por isso deixa de magoar ou de ferir.

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Como lidar?

Antes de escolher dar um tempo no convívio ou colocar um ponto final na amizade, é preciso refletir sobre alguns pontos:

O amigo sabe como você se sente? Muitas vezes acreditamos que o outro "percebe" nossas reações, mas nem sempre isso acontece. Por egoísmo, individualismo, narcisismo e falta de sensibilidade ou atenção, entre outros fatores, algumas pessoas ignoram os sentimentos alheios. Se você quer modificar o padrão da amizade, precisa pontuar o que incomoda de uma maneira clara, tranquila e assertiva.

A pessoa é tóxica ou está sendo tóxica? Pondere se a maneira como seu amigo vem agindo é reflexo de um momento de autoafirmação ou de uma fase ruim em algum campo da vida —trabalho, amor, vida familiar, esfera financeira. A percepção disso pode sugerir caminhos para uma conversa franca e necessária.

Você quer manter essa relação? É importante avaliar a importância da pessoa na sua vida. Em alguns casos, o afastamento, ainda que temporário, é o mais prudente para a manutenção da sua saúde mental. O distanciamento pode fazer com que o amigo tome consciência das próprias atitudes e se prepare para um futuro diálogo e acerto de contas. Antes de escolher dar um tempo no convívio, vale a pena posicionar o motivo e o incentivar a procurar orientação profissional.

Você enxerga um padrão abusivo nas suas amizades? Nesse caso, talvez seja a hora de você buscar ajuda de um psicoterapeuta, que, com as ferramentas adequadas, poderá fazer com que você identifique os motivos para procurar relacionamentos assim e, a partir daí, aprenda a formar vínculos construtivos e saudáveis.

Fontes: Ana Maria Collete Chalfun Puech, psicóloga e psicoterapeuta especialista em relacionamentos e autoestima, de São Paulo (SP); Blenda de Oliveira, psicóloga e psicoterapeuta pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e psicanalista pela SBPSP (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo); Vanessa Jaccoud, psicóloga clínica e psicóloga residente no Ambulatório de Psicossomática da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental), em São Paulo (SP).