Dimas: Dados da ButanVac indicam dobro de anticorpos do que outras vacinas
Rayanne Albuquerque, Ana Carla Bermúdez e Allan Brito
Do VivaBem, em São Paulo
17/06/2021 10h31Atualizada em 17/06/2021 15h58
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, falou ao UOL Entrevista na manhã de hoje sobre as expectativas a respeito do novo imunizante que será desenvolvido em território nacional, a ButanVac. Segundo o médico, há indícios de que a nova vacina contra o coronavírus produza o dobro de anticorpos que todos os outros imunizantes que existem no mercado.
Estamos perto de estudos clínicos e temos esperança grande que essa vacina nos dê independência. Pelos dados pré clínicos, ela terá eficácia maior que todas as outras vacinas. Do ponto de vista de produção de anticorpos ainda não temos doses definidas, [mas] nas doses regulares produz o dobro de anticorpos que produzem todas essas vacinas do mercado atualmente.
Dimas Covas
Ao ser questionado sobre os desafios da meta de vacinação de São Paulo até o final de setembro, Covas declarou que será necessário um "grande esforço logístico" para que os imunizantes cheguem ao braço dos brasileiros. Segundo o governador João Doria (PSDB), a previsão é que todos os paulistanos adultos, maiores de 18 anos, receberão pelo menos uma dose de vacina contra o coronavírus até o dia 15 de setembro.
Covas disse que o calendário de imunização previsto para o estado de São Paulo é possível, mas que é necessário levar em conta o quantitativo enviado pelo PNI (Programa Nacional de Imunização). Na avaliação do diretor do Butantan, o programa não tem respondido de forma adequada. Para conseguir atingir a meta, seria necessário acelerar a vacinação em até três vezes.
O PNI tem, de uma certa maneira, não respondido a esses desafios --e tem jogado para estados, que estão conduzindo seu programa estadual. Aqui em São Paulo tem seu grupo, que deve estar levando essas opções em consideração, fazendo isso em conjunto com municípios. Essas políticas têm que ser reforçadas.
Dimas Covas
Considerando esse cronograma, a imunização completa dos adultos no estado de São Paulo, com duas doses da vacina, deve se dar entre o fim de 2021 e o início de 2022, afirmou Covas. Isso porque cada imunizante tem um intervalo de tempo diferente entre as duas doses: para a CoronaVac, o ideal é quatro semanas; para a vacina de Oxford/AstraZeneca, por outro lado, esse período pode ser de 3 meses.
Mesmo assim, o médico destacou que, até o fim do ano, uma parcela da população já estará "totalmente coberta" por alguma vacina.
Dose de reforço e vacina dupla
Covas lembrou ainda que, para o controle da pandemia, possivelmente haverá necessidade de aplicação de uma dose de reforço das vacinas contra o coronavírus. Segundo ele, esse reforço deve ser anual e, idealmente, deve ser feito no Brasil no início de cada ano.
"Alguns países na Europa têm data [para a aplicação da dose de reforço] para outubro, para começar um reforço de inverno. Aqui no Brasil ainda não se iniciou essa programação, porque nem se cumpriu a primeira fase [da imunização]. Mas, obviamente, depois dela tem que se pensar na dose de reforço", disse.
"Para todas as vacinas, o que sabemos hoje é que a imunidade decai muito a partir do oitavo mês [da aplicação]. Isso serviu de base lá na Europa e também se aplica aqui. A minha previsão é que seja necessário um reforço anual, principalmente no início do ano. Aqui no Brasil não temos um inverno rigoroso, mas temos um aumento de doenças infecciosas respiratórias no outono e no inverno", afirmou.
Segundo Covas, o Butantan já se prepara para a aplicação de doses de reforço e estuda inclusive o desenvolvimento de uma vacina dupla, que funcionaria tanto contra o vírus da gripe como contra o coronavírus.
"É um desenvolvimento que leva em consideração a ButanVac e a vacina da gripe que o Butantan produz. As duas plataformas estão sendo munidas, estamos com desenvolvimento, prevendo uso necessário de uma vez por ano para o reforço para gripe e covid", declarou.
Venda de doses pelo Butantan
Covas declarou ainda que, além de um contrato para entrega de 54 milhões de doses da CoronaVac para o Ministério da Saúde, o Butantan irá entregar 30 milhões de doses para o estado de São Paulo a partir de setembro.
"O estado de São Paulo tem um acordo já assinado. Outros estados têm manifestado interesse, mas não temos contrato. E temos obrigações com países da América do Sul, esses sim com pré acordos em andamento, como Chile, Argentina, Peru, Bolívia", afirmou.
CoronaVac e ButanVac
Covas ainda explicou as diferenças entre a ButanVac, vacina contra o coronavírus que está sendo desenvolvida atualmente pelo Butantan, e a CoronaVac, imunizante produzido pelo instituto em parceria com a chinesa Sinovac. Enquanto a CoronaVac é produzida em uma plataforma celular, com o cultivo do vírus na indústria em bio-reatores, a ButanVac é feita em ovos embrionários de galinha.
"[A ButanVac] É feita em uma construção importante. Ela usa um vírus próprio de aves, o vírus newcastle, em que foi introduzida a proteína S do coronavírus. É um vírus que produz em grande quantidade a proteína S modificada. Tem capacidade imunogênica maior. É uma plataforma fácil", afirmou.
Covas disse ainda que isso permitirá que a ButanVac seja "mais barata e acessível" em comparação a outros imunizantes disponíveis no mundo, o que representaria um "grande salto" para os países pobres.
É interessante ver Nova York festejando vacinação. Mas, na África, tem países que não iniciaram vacinação. Se esses países não forem vacinados também, a pandemia será mantida e retornará a países vacinados através das variantes. A ButanVac pode ser alternativa para o mundo.
Dimas Covas
Críticas a Bolsonaro
Na visão de Dimas Covas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem sido um gerador de "fake news" sobre a CoronaVac. O presidente do Instituto Butantan reforçou que o imunizante tem um "excelente perfil de segurança e eficácia", comprovados, segundo ele, por estudos realizados em vários países, incluindo o Brasil.
Uma vacina que previne, no caso do projeto S, com 97% da população adulta vacina, essa vacinação depois de 15 dias da segunda dose preveniu 95% dos óbitos. Preveniu 86% das internações. 80% dos casos sintomáticos. Não só para vacinados. Fez proteção para não vacinados - crianças e adolescentes.
Dimas Covas
De forma indireta, Dimas rebateu as críticas de grupos negacionistas sobre os efeitos positivos dos imunizantes. Para ele, quem fala de ciência tem que "conhecer o mínimo".