Idosa faz tatuagem em homenagem à filha que morreu de covid: 'Revivi'
Lenimar Callado Joia, uma senhora de 82 anos moradora de Ibatiba, na região sul do Espírito Santo, decidiu homenagear com uma tatuagem sua filha que morreu de covid-19.
O gesto foi visto pela mãe como uma forma de ir superando gradualmente o luto vivido com a falta da filha do meio, uma das mais de 498 mil pessoas que morreram da doença.
"Eu perdi a minha filha há alguns meses e não me conformava, porque ela era uma filha amiga, companheira. Não me conformei com a morte dela. Fiquei muito triste, chorava muito", relata Dona Lenimar em conversa com VivaBem.
Ela contou que um dia estava olhando para o céu e pensando na filha, que tinha o mesmo nome que a mãe, quando teve a ideia de prestar uma homenagem a ela.
Lenimar Callado, chamada carinhosamente por seu apelido, Leninha, havia sido internada há um ano, devido a problemas no coração. No hospital, ela contraiu o novo coronavírus e acabou não resistindo às complicações da doença em setembro do ano passado aos 58 anos.
A mulher era apaixonada por tatuagens. "Ela era toda tatuada, acompanhou o meu início na tatuagem e era uma das minhas incentivadoras", diz a sobrinha, Iuli Callado, bacharel em direito e tatuadora, que possui um estúdio de tatuagem e piercing em Iúna, no sul do Espírito Santo.
Uma surpresa
"Minha avó nunca tinha pensado em fazer uma tatuagem. Ela falava que nunca faria uma tatuagem, ela é filha de militar, esposa de militar. Então a forma que ela foi criada, fazer tatuagem não estava dentro da realidade dela", explica Iuli.
Mas tudo mudou quando Dona Lenimar foi internada com suspeita de covid-19 em um hospital de Cachoeiro de Itapemirim, no sul capixaba.
"Sofri mais que passarinho em mão de criança", brincou a idosa. "Graças a Deus não era covid".
"[Depois dessa internação] Resolvi fazer essa homenagem. Estava tão ansiosa para essa tatuagem, eu sentia que essa tatuagem ia mudar a minha vida", declarou a senhora.
Lenimar surpreendeu até mesmo a neta, que foi autora da arte na pele da avó, no domingo (13). Antes da sessão, a jovem pensava que iria apenas fazer sobrancelha definitiva na idosa.
"Eu fiquei assim 'não acredito, o que está acontecendo?'. [...] Desde quando minha tia morreu, eu só via minha avó chorando", comenta a tatuadora.
Iuli diz que a perda da filha mudou Dona Lenimar, conhecida antes por sua personalidade brincalhona.
"Eu não lembrava da última vez que eu falei com minha avó e ela não chorasse a morte da minha tia. Exatamente um ano depois que a minha tia foi hospitalizada, minha avó fez a tatuagem", completa a neta.
A homenagem
O desenho escolhido para a primeira tatuagem de Lenimar foi um símbolo do infinito, com o apelido da filha e também dois corações, o maior representando o de Dona Lenimar e o menor o da filha.
Apesar do gesto da demonstração de amor, nas redes sociais, a idosa também vem recebendo críticas pela homenagem. Mas ela destaca que não leva em consideração os comentários negativos.
"Tem muitas pessoas criticando, mas não importa. O que importa é a intenção que eu tive de homenagear a minha filha através de uma tatuagem que vou levar comigo para sempre. [Quero] Que outras pessoas parem de chorar, o mundo está sofrendo", ressalta.
Transformação
A neta da idosa, Iuli, enfatiza que a homenagem da avó veio também para romper barreiras e preconceitos daqueles que relutam em fazer tatuagens.
"Ela teve que desconstruir uma ideia que ela tinha [sobre tatuagens] e construir uma nova, transformando um pouquinho de lágrima em sorriso, porque ela merece", diz a neta.
"Depois da minha tatuagem, por incrível que pareça, eu revivi", afirma Dona Lenimar.
"Não estava me alimentando [direito]. Agora já consigo sorrir, já consigo falar [da minha filha] sem chorar. Graças a Deus estou feliz com a tatuagem e lá de onde ela está eu sei também que ela está feliz com a homenagem", conclui a senhora de 82 anos.
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