Sem calendário nacional, promessas de vacinação variam pelo país
Nos últimos dias, estados e municípios têm antecipado as projeções de quando vão terminar de aplicar a primeira dose da vacina contra covid em toda a população adulta. Sem um calendário nacional unificado, uns prometem para agosto, já outros falam em setembro ou outubro.
Essa diferença ocorre embora os cálculos levem em conta a mesma fonte: o cronograma de entregas de vacinas do Ministério da Saúde —o qual, inclusive, não mudou significativamente da semana passada para esta.
É importante ressaltar que a distribuição de doses respeita o tamanho da população, ou seja, em tese, todos deveriam ter doses suficientes para a imunização em datas em um período semelhante.
Alguns estados preferem não fazer projeções por cautela em razão do histórico de promessas não cumpridas do ministério desde o início da imunização. E é justamente o grau de cautela que explica a diferença entre os calendários.
A vacinar
Até quinta-feira (17), o Brasil aplicou a primeira dose em cerca de 60,3 milhões de pessoas, sendo que 24,1 milhões já completaram o esquema vacinal, ou seja, tomaram as duas doses.
Como o Ministério da Saúde considera que a população vacinável no país é composta por cerca de 161 milhões de pessoas, ainda é preciso começar a imunização de cerca 100 milhões.
Até o final de setembro, o ministério deverá receber aproximadamente 190 milhões de doses, mas desse número é preciso levar em conta que 35 milhões de pessoas precisam receber a segunda dose.
O país também tem cerca de 30 milhões de doses já distribuídas que ainda serão aplicadas ou já foram aplicadas, mas ainda não constam no sistema do ministério.
Para esse período, o Ministério da Saúde conta com três imunizantes: CoronaVac, e as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca. Em breve, o Brasil poderá contar com outras três: Covaxin, Sputnik V e a vacina da Janssen, sendo que esta última precisa de apenas uma dose.
Vai se concretizar?
A SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) acredita que, no melhor cenário, é possível que a população adulta esteja vacinada até o final de agosto. No pior, final de outubro.
Cronogramas mais consistentes do ministério na gestão de Marcelo Queiroga dão mais confiança para se fazer esse planejamento, como avaliou para o UOL o presidente da SBIm, Juarez Cunha, na semana passada.
Consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Raquel Stucchi diz que a possibilidade de antecipar calendários é "fantástica". "Desde que ela se concretize de fato." Stucchi diz acreditar que as projeções podem se concretizar em razão da possibilidade da chegada de mais imunizantes.
É a desconfiança com o cronograma que faz estados como Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, entre outros, prefiram não fazer uma projeção para toda a população adulta.
"Não é adequado fazer previsões com base em entregas realizadas a conta-gotas por parte do governo federal", diz a secretaria estadual da Saúde da Bahia.
"Corrida"
Outros locais, porém, já apostam em um calendário. Ontem, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), deixou claro que as atualizações de calendário viraram uma "corrida". "Passamos o João Doria [governador de São Paulo]! Falei para não me desafiar!".
Paes agora promete imunizar que tem 18 anos ou mais até o final de agosto. Apesar da promessa do prefeito, o governo estadual do Rio de Janeiro mantém a previsão de vacinação para adultos até o final de outubro, como disse em nota ao UOL ontem. A secretaria estadual não respondeu sobre a diferença com a projeção municipal.
Já em São Paulo, no último domingo (13), Doria antecipou para 15 de setembro o fim do calendário com a vacinação de adultos no estado. Dias antes, ele havia apontado meados de outubro. E não houve alteração no cronograma do ministério nesse intervalo.
"Não atrasaremos por conta de mais uma 'não entrega' do Ministério da Saúde", disse ontem a coordenadora programa paulista de imunização, Regiane de Paula.
"Segurança da entrega"
Acompanhando Paes ontem, o ministro Queiroga citou as antecipações de entregas que conseguiu fazer em sua gestão e que isso levou a uma "previsibilidade" do calendário para os gestores locais. Ele reforçou que, até o final do ano, todos os adultos estarão vacinados. "Há uma segurança da entrega dessas doses."
Queiroga ressaltou que, na quinta (17), o país vacinou mais de 2 milhões de pessoas e quem questionar o programa de imunização "vai quebrar a cara".
Stucchi diz acreditar que o anúncio da antecipação das faixas etárias faz parte de um "jogo político". "Assim como foi, em 2020, o início da vacinação", diz. "Mas é um jogo político que, ao que parece, tem chances de se concretizar. Agora, a gente vai ter para que aconteça."
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