Entenda o que é aracnoidite torácica, doença rara que matou Mabel Calzolari
Mabel Calzolari, 21, morreu nesta terça-feira (22) de uma doença rara chamada aracnoidite torácica. A atriz, que havia passado por diversas cirurgias para tentar reverter o quadro chegou a tranquilizar os fãs em março, após mais um procedimento.
Ela recebeu o diagnóstico em 2019, após ser submetida a uma punção na coluna espinhal chamada raquianestesia, um tipo de anestesia, durante o parto do filho.
No Instagram, a yotuber Monique Curi disse que Mabel teve morte cerebral após sofrer paradas respiratória e cardíaca. "Hoje tivemos a informação que não queríamos ter. Acabou. A Mabel não está mais entre nós. É inacreditável", lamentou.
O que é aracnoidite?
É a inflamação de uma membrana muito fina, que envolve todo o sistema nervoso central, chamada de aracnoide. A função dessa membrana é justamente isolar o sistema nervoso do sangue e de outras partes do corpo, para que ele se mantenha preservado o máximo possível.
A aracnoidite pode ser localizada no tórax, isto é, na coluna torácica, na coluna cervical (pescoço), na coluna lombar e no crânio, em volta do cérebro. Onde tem sistema nervoso central ou medula, tem aracnoide. Esse segundo nome dado ao caso de Mabel (torácica) é só a localização da inflamação.
Quando a aracnoide é inflamada, torna-se um problema muito difícil de tratar, porque os remédios nesses locais não atuam tão bem.
"Aracnoidite é muito raro. Não é uma complicação frequente e nem esperada. Normalmente não acontece aracnoidite quando se faz uma cesárea", explica Marcelo Valadares, médico neurocirurgião da disciplina de neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e médico neurocirurgião do Hospital Albert Einstein.
Como a doença pode surgir?
A aracnoidite ocorre quando algum elemento estranho, um agente biológico, como uma bactéria ou vírus, ou alguma substância tóxica entra nesse espaço da membrana aracnoide.
"Se a pessoa tem uma infecção grave de alguma natureza, ela também pode ter uma aracnoidite, por causa do agente infeccioso que atingiu a membrana", exemplifica Valadares, acrescentando que embora também seja raro, um projétil de arma de fogo também pode atingir a coluna e causar a inflamação, assim como uma injeção, como foi o caso de Mabel.
Trata-se de uma reação anormal do organismo a um elemento estranho que não deveria estar nesse espaço da membrana aracnoide, então ele vai produzindo cicatrizes e inflamações.
"Essas cicatrizes podem obstruir a circulação sanguínea, comprimir a medula, os nervos, causar sensação de fraqueza e até paralisias. Mas essas coisas não são tão frequentes", afirma Valadares. Vale destacar que a aracnoidite pode não surgir após um procedimento cirúrgico imediatamente, por exemplo, ela pode demorar horas, dias ou até meses para se manifestar.
Se for uma aracnoidite torácica, a pessoa pode ficar paraplégica, porque a medula torácica é responsável pela força das pernas. Mas se for na cervical, responsável pela força dos braços e das pernas, a pessoa pode ficar tetraplégica.
O principal sintoma é a dor, que pode ser no local da inflamação, ou atingir as nádegas, pernas, pés, entre outros lugares. Isso ocorre porque existe um processo inflamatório e, eventualmente, ele atinge o nervo, que dá sensibilidade e força, além de outras estruturas. Muito raramente, quando atinge a região do crânio, essa inflamação também pode dar cefaleia, sonolência e alteração mental.
Como é feito o tratamento?
"Aracnoidite pode ser curada, mas, principalmente, controlada, ou seja, os sintomas podem se estabilizar e parar de piorar. Então não necessariamente a gente vai ter uma doença que vai piorar cada vez mais, e é muito raro que a pessoa morra de aracnoidite", afirma Valadares, acrescentando que a maioria dos pacientes vão ter sintomas que vão surgir e desaparecer, e outros sintomas que vão precisar ser controlados.
Os pacientes recebem medicamentos principalmente para aliviar a dor e controlar a inflamação. Já os que desenvolveram a doença, mas ela foi controlada e ele segue apenas com dor crônica, eles podem, além de medicação, fazer um tratamento que costuma ser efetivo, chamado de estimulação modular.
"Alguns pacientes podem até parar de tomar medicamentos, mas isso é caso a caso. Alguns ficam bem e a inflamação melhora, outros usam medicamento de uso contínuo para sempre", diz Valadares.
Pacientes que pioram com perda de força precisam de cirurgia para tentar controlar os efeitos da doença. "Cirurgiões tentam retirar essas cicatrizes que vão se formando e vão comprimindo, mas a maior parte dos pacientes não precisa fazer cirurgias", enfatiza o especialista.
Fontes: Marcelo Valadares, médico neurocirurgião da disciplina de neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e médico neurocirurgião do Hospital Albert Einstein; Tatiana Vilasboas, neurocirurgiã do Hospital San Gennaro, pós-graduada em neuro-oncologia pelo Hospital Sírio-Libanês.
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