Pandemia: como lidar com o vai e vem de emoções e proteger a saúde mental?
Viver uma montanha-russa de emoções em apenas uma semana virou o "novo normal" desde que a pandemia se instalou por aqui. Alegria, euforia, tristeza, melancolia, desinteresse... É possível sentir de tudo em um curto período de tempo —tão curto que pode acontecer até mesmo em um único dia. Esse cenário atual de incertezas pode funcionar como um gatilho para a pessoa se sentir soterrada pelas próprias emoções e ter problemas na saúde física e mental.
A paulistana Debora Popolile, 40, que atua na área de TI de um hospital, está entre as pessoas que acabaram sentindo efeitos físicos dessa gangorra emocional "patrocinada" pela chegada da covid-19. "Me casei pouco antes da pandemia e, naquela época, por conta da ansiedade da preparação, comecei a ter um pouco de refluxo. Mas passou a ser muito mais forte desde que a pandemia começou e vejo que é meu corpo reagindo a essa tensão", diz.
Já a jornalista e estudante de psicanálise Marina Moreli, 31, também de São Paulo, disse que tem que conviver com o medo e a angústia com mais frequência do que esperava. "Engravidei e pari na pandemia e isso fez com que minha ansiedade aumentasse muito. Minha rede de apoio é super-restrita por conta da covid, quase ninguém da minha família e amigos conhece a minha filha e essa falta de previsão para saber quando isso poderá acontecer é desesperador, para dizer o mínimo", desabafa.
Como o corpo e a mente reagem
"Nosso corpo não está programado para lidar com o estresse de longo prazo gerado pela pandemia", explica Luciana Sarin, psiquiatra e coordenadora da clínica do Observatório da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Especialista na identificação precoce de transtornos mentais em alunos de medicina, ela diz que essa situação de estresse crônico impacta negativamente a saúde física e mental e pode causar diversos sintomas, entre eles:
- Mudanças no apetite, na energia, nos desejos e interesses;
- Sentimentos de medo, raiva, tristeza, preocupação ou frustração;
- Dificuldade de concentração e tomada de decisões;
- Problemas para dormir e maior presença de pesadelos;
- Reações que podem ser até mesmo físicas, como dores de cabeça, no corpo, problemas de estômago e erupções cutâneas.
De acordo com o psicólogo Yuri Busin, mestre e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio), na incerteza, ficamos mais inseguros e maior é a elevação dessas emoções negativas que nos fazem ter mais tendência ao sofrimento. "Eu diria que a nossa consciência vive um momento de dificuldade para entender o que é fato e o que não é, quais são os riscos reais ou imaginários, tudo isso leva a sentimentos de insegurança e desconforto", afirma o especialista. "Nesses casos, é preciso um gerenciamento maior da nossa consciência, porque as emoções negativas são muito custosas para o nosso organismo".
O que fazer?
Mas o que fazer se a pessoa estiver se sentindo mais melancólica ou triste que o habitual, ou ainda extremamente ansiosa? Para Sarin, se as oscilações emocionais forem aumentando de intensidade e duração, interferindo de forma mais intensa no funcionamento da pessoa, é importante pedir ajuda.
Entretanto, se não for algo muito duradouro ou frequente, é possível nivelar a montanha-russa emocional, para que as quedas não sejam tão acentuadas. A médica recomenda algumas saídas para ajudar a lidar de maneira mais saudável com o estresse, além das conhecidas recomendações de dormir bem, alimentar-se de forma saudável e praticar exercícios. Veja a seguir:
Pratique a atenção plena ou mindfulness
Ambos ajudam a manter o foco, a calma e permanecer enraizado no presente. As práticas ajudam a compreender que não é possível controlar o futuro. A médica recomenda fazer o seguinte exercício: "É melhor dizer a si mesmo 'Não vou poder encontrar meus amigos hoje' do que 'Não vou estar com meus amigos até o final do ano'. Comece o dia se perguntando 'O que posso fazer hoje?'".
Evite o uso excessivo de álcool, tabaco e outras substâncias
"As pessoas às vezes recorrem ao aumento de consumo de álcool, doces e carboidratos simples e drogas que podem fornecer um alívio temporário, mas na verdade apenas agravam os problemas", reforça a médica.
Cuide de seu tempo de lazer
Muita gente ainda não se deu conta do quanto é importante arranjar tempo para relaxar. "Tente fazer atividades das quais goste, conecte-se com outras pessoas, converse com pessoas externas nas quais você confia sobre suas preocupações e como está se sentindo", recomenda a médica.
Monitore o consumo de notícias
É necessário pausas para ver, ler ou ouvir notícias, especialmente nas redes sociais. "É bom estar informado, mas ouvir sobre a pandemia constantemente pode ser preocupante", diz. "Considere limitar as notícias a apenas algumas vezes por dia e desconectar-se por um tempo. O excesso de más notícias gera medo e sobrecarga, o que leva à perda de motivação".
Foque nos aspectos positivos
De acordo com a psiquiatra, refletir sobre as coisas boas que aconteceram ajuda muito. "Ter mais tempo de qualidade com a família, avaliar os novos hobbies, aprendizados e oportunidades que surgiram e encontrar pequenas coisas que trazem felicidade a cada dia", ensina. "É viver um dia por vez".
Peça ajuda
Essa parte é bastante importante. "O estresse contínuo pode desencadear depressão e ansiedade, especialmente se a pessoa já teve episódios no passado ou tem familiares com histórico dessas condições. Se você ou alguém que você ama começar a sentir-se triste, ansioso ou irritado de forma persistente, é útil consultar um profissional para avaliar se esse estado necessita de uma intervenção específica. Durante períodos de estresse extremo, as pessoas também podem ter pensamentos suicidas, nesse caso é sempre importante pedir ajuda profissional".
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