Médico, nutricionista, psicólogo: o papel de cada um na perda de peso
De acordo com os números da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2019, a cada dez brasileiros, seis apresentavam problemas de excesso de peso ou obesidade, o que aumenta o risco de ter problemas de saúde como diabetes, hipertensão, AVC, infarto, apneia do sono.
Apesar de muitos pensarem que o excesso de gordura corporal ocorra somente por causa do sedentarismo ou da má alimentação, a condição é multifatorial. Ou seja, ela pode ter inúmeras causas —que geralmente estão associadas—, como genética, questões emocionais, distúrbios do sono, alterações hormonais (por causa de doenças ou uso de certos medicamentos), o ambiente em que a pessoa vive etc.
Justamente por o excesso de peso não ter uma única causa, para ter bom resultado no tratamento é necessário que a pessoa que deseja emagrecer tenha um acompanhamento multidisciplinar, com orientação de especialistas de diferentes áreas, como médico, nutricionista, psicólogo, profissional de educação física.
Essa equipe multidisciplinar vai oferecer tratamentos e abordagens diversas; estabelecer metas saudáveis, factíveis e condizentes com a realidade do paciente; identificar barreiras; e fazer ajustes constantes de conduta. Tudo isso com o objetivo de aumentar a chance de ter bom resultado no emagrecimento e reduzir o risco de a pessoa voltar a engordar em um curto ou médio prazo. A seguir, explicamos o papel e a importância de diferentes profissionais na perda de peso.
Médico endocrinologista
O médico avalia se a perda de peso é realmente necessária e orienta o paciente quanto aos riscos e benefícios dos tratamentos --essa indicação para emagrecer também pode ser feita por um cardiologista, um clínico geral e outros especialistas, mas o endocrinologista é quem acompanha o processo de emagrecimento do início ao fim, por isso a orientação de buscar esse profissional.
O primeiro passo do endocrinologista é conhecer a história médica do paciente, como o peso que ele tinha ao nascer, em que momento começou a engordar, se existe um fator que desencadeou o ganho de peso e se já tentou emagrecer outras vezes.
Também solicita exames para identificar se há uma causa endocrinológica (alterações hormonais, por exemplo) e avaliar se a pessoa tem doenças associadas ao excesso de gordura, como diabetes ou pré-diabetes, hipertensão, colesterol alto, síndrome metabólica, gordura no fígado (esteatose hepática não alcoólica) etc.
Com essa análise, o médico define (às vezes em conjunto com outros especialistas da equipe multidisciplinar) qual será a melhor conduta para a perda de peso: se o paciente irá adotar apenas mudanças de hábitos ou se há necessidade do uso de medicamentos para emagrecer ou de intervenção cirúrgica, como a bariátrica.
Nutricionista
Avalia os hábitos alimentares da pessoa que busca emagrecer e identifica mudanças que podem ser implementadas na rotina do paciente, para melhorar a qualidade da alimentação, o aporte de nutrientes e a redução do consumo de energia. Uma alimentação hipocalórica balanceada somada à orientação nutricional resulta em perda de peso clinicamente significativa, com maior possibilidade de manutenção do peso corporal em longo prazo.
O tratamento orientado pelo nutricionista visa uma reeducação alimentar sem radicalismo. O profissional vai ajudar o paciente a compreender melhor os alimentos e o papel de cada nutriente; entender como fazer boa escolhas, elaborar um prato saudável e não exagerar nas porções; explicar por que alguns alimentos —como doces, frituras e ultraprocessados— devem ser consumidos esporadicamente etc. O foco é a mudança do comportamento alimentar, para permitir que a pessoa não só emagreça, mas também mude hábitos, sinta prazer em comer de forma saudável e consiga manter esse novo cardápio "para sempre", auxiliando no controle do peso controlado.
Além de orientar a alimentação, o nutricionista —assim como o profissional de educação física e o médico— pode realizar no paciente avaliações antropométricas (medir a cintura, circunferência abdominal etc.), de composição corporal (porcentagem de gordura e massa magra) e de fatores de risco. O nutricionista ainda pode diagnosticar a obesidade e solicitar exames para avaliar se o paciente tem deficiências nutricionais (falta de vitaminas e/ou minerais no organismo), anemia, hiperglicemia (associada ao diabetes) etc.
Psicólogo e/ou psiquiatra
O ganho de peso muitas vezes está associado a questões emocionais: a pessoa é muito ansiosa ou estressada e acaba usando a comida como uma forma de se "recompensar" e/ou aliviar esses sentimentos —e, para isso, geralmente busca frequentemente alimentos que não são saudáveis (doces, fast-food) ou exagera nas porções (come uma pizza inteira em vez de só dois pedaços).
Além disso, pessoas obesas são muito estigmatizadas e discriminadas, sofrem preconceitos e violências que abalam o bem-estar emocional. Portanto, quadros de ansiedade e depressão são muito comuns nesses pacientes.
O papel do psiquiatra e/ou do psicólogo é investigar essas condições emocionais e orientar o tratamento, buscando a solução para cada caso.
Ao tratar doenças psiquiátricas, aprender a lidar melhor com as emoções e buscar alternativas para controlá-las (exercícios físicos, meditação, hobbies etc.) a pessoa tende a melhorar a relação comida, o que facilita a adesão ao cardápio proposto pelo nutricionista e favorece a perda de peso.
Profissional de educação física
É o responsável por elaborar o programa de exercícios, que visa aumentar a massa muscular, melhorar a aptidão cardiorrespiratória e favorecer o déficit calórico (fazer com que a pessoa gaste mais energia do que ingere), para ajudar na redução de gordura corporal.
O foco, como sempre, não pode ser só o emagrecimento e, sim, a saúde e a mudança de hábito. O treinador precisa orientar o paciente para que a atividade física se torne "para a vida toda" —ajudando no controle do peso em longo prazo—, não apenas algo que traga resultados imediatos e depois a pessoa desista de fazer.
Não existe uma "fórmula mágica", um ou outro exercício que seja muito melhor para emagrecer. O programa deve ser individualizado, dentro das possibilidades e gostos do paciente. Geralmente, engloba atividades aeróbicas (caminhada, ciclismo, natação) e de força muscular (musculação, treino funcional), pois o foco é a perda de gordura com a preservação da massa muscular, importante para a saúde e longevidade.
No processo de emagrecimento, a atividade física ainda tem um papel importante para ajudar a controlar a ansiedade, o estresse e os sintomas depressivos —que, como já explicamos, podem fazer com que a pessoa "desconte" as emoções na comida e não consiga se alimentar bem. Está vendo como tudo está interligado no processo de emagrecimento e por isso o acompanhamento multidisciplinar é fundamental?
FONTES: Guilherme Giannini Artioli, professor doutor da EEFE-USP (Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo) na área de fisiologia aplicada e nutrição; Bárbara de Paula Pires, formada em educação física, mestre em fisiologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e doutora em ciências médicas pelo Instituto D'Or; Fabio Gomes de Matos e Souza, professor titular de psiquiatria da UFC (Universidade Federal do Ceará) e coordenador do Cetrata (Centro de Tratamento de Transtornos Alimentares), do Ambulatório de Transtornos Alimentares do Hospital Universitário Walter Cantídio, da UFC; Cintia Cercato, endocrinologista, professora da disciplina de obesidade da pós-Graduação da USP (Universidade de São Paulo) e presidente da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica); Alexandre Igor Araripe Medeiros, doutor em ciências do desporto pela Universidade do Porto (Portugal) e professor de dducação física da UFC (Universidade Federal do Ceará).
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