Estudo: 45% dos pacientes com câncer fizeram químio no último mês de vida
Um estudo inédito apresentado no ASCO Annual Meeting 2021, no último dia 5 de junho, ainda sem publicação em revista científica, aponta que a taxa de uso de quimioterapia no último mês de vida permanece alta entre os pacientes com câncer no Brasil.
O encontro, realizado virtualmente para garantir a segurança em meio à pandemia do coronavírus, é organizado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica e considerado o maior congresso sobre câncer do mundo.
De acordo Munir Murad Junior, principal autor da pesquisa e oncologista da Oncomed BH, clínica especializada de referência em prevenção e tratamento de doenças neoplásicas, as taxas de quimioterapia no fim da vida variam em todo o mundo, mas são altas no Brasil e não apresentam sem benefícios claros.
"O uso do tratamento com a doença já muito avançada, quando o paciente está incapacitado fisicamente de realizar tarefas simples, pode aumentar ainda mais a debilidade e prejudicar a dignidade. A quimioterapia deve ser pensada de forma individualizada para não trazer mais mal do que bem", diz o médico.
Como o estudo foi feito
- A análise contou com base de dados de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). A população estudada é composta por todos que iniciaram o tratamento oncológico entre 2009 e 2014 e que estiveram internados pelo menos 1 vez após o início do tratamento.
- Já para abordar a indicação de cuidados paliativos, foram selecionados os pacientes cujo óbito ocorreu no prazo de um ano após a primeira internação.
- Conforme o trabalho apresentado, um total de 299.202 pacientes iniciaram o tratamento contra o câncer naquele período e 62.249 morreram 1 ano após a internação. Entre os pacientes falecidos, a mediana de idade foi de 62 anos, 50,9% deles estavam em estágio IV e 34,1% em estágio III e 46% residiam na região sudeste do país.
- Cerca de metade (45,4%) dos pacientes fez quimioterapia nos últimos 30 dias de vida. As taxas de uso de quimioterapia no último mês foram de 44% para câncer de pulmão, 74,4% para câncer de cólon, 50,2% para câncer gástrico e 51,8% para câncer de mama.
A conclusão mostra que, apesar das recomendações internacionais sobre não utilizar quimioterapia em casos muito avançados, a prática ainda é comum. "Isso mostra que, em muitos casos, a quimioterapia não está bem indicada. O cuidado se mostra muito focado na doença e não nas necessidades daquele paciente", aponta o oncologista.
Por que a quimioterapia continua sendo aplicada em pacientes com câncer em estágio avançado?
Na opinião do pesquisador, alguns pontos podem explicar por que a quimioterapia continua sendo aplicada.
O primeiro deles é a carência de equipes que façam cuidados paliativos no Brasil. "Essa equipe deve ser incluída no cuidado precocemente e em paralelo ao tratamento oncológico — não é só quando não precisa mais da quimioterapia. Isso ajuda no entendimento do paciente sobre a doença, na qualidade de vida, controle dos sintomas e não piora nenhum resultado", explica Murad.
Outra questão é o desconhecimento dos profissionais de saúde de que a prática pode ser nociva. "Às vezes a equipe recomenda como uma tentativa de compensar pela falta de quimioterapia nos estágios iniciais. Não quer dizer que está sobrando insumos para o tratamento, sobretudo na rede pública", completa.
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