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Demanda de 2ª dose da AstraZeneca pode diminuir vacinação no país em julho

Brasil terá aumento de demanda por segunda em julho, sem vacinas suficientes para manter ritmo - Foto: GUILHERME DIONíZIO/ESTADÃO CONTEÚDO
Brasil terá aumento de demanda por segunda em julho, sem vacinas suficientes para manter ritmo Imagem: Foto: GUILHERME DIONíZIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Carolina Marins e Lola Ferreira

Do UOL, em São Paulo e no Rio

27/06/2021 04h00

Nos primeiros 24 dias de junho, o Brasil registrou média de 1 milhão de pessoas vacinadas contra a covid-19 por dia. Em julho, porém, crescerá a demanda pela segunda dose especialmente do imunizante da AstraZeneca, e não há previsão de o Brasil receber um volume de doses suficiente para supri-la e manter o mesmo ritmo acelerado visto no mês atual.

Do início da campanha de vacinação até o dia 20 de junho, o Ministério da Saúde distribuiu 46,6 milhões de doses de AstraZeneca destinadas à primeira aplicação. O imunizante, que no Brasil é fabricado pela Fiocruz, exige um intervalo máximo de 12 semanas entre as duas doses.

Para completar o esquema vacinal no tempo sugerido em bula, seria preciso distribuir quantidade similar de imunizantes para segunda dose até o fim de setembro. Contudo, faltam ser entregues 21,3 milhões de doses de AstraZeneca com essa finalidade para não haver déficit.

A análise foi feita pelo analista de dados Apolinário Passos, de acordo com as tabelas de distribuição de vacinas divulgadas pelo Ministério da Saúde, com dados atualizados até o dia 20 de junho.

De julho a setembro, aproximadamente 40 milhões de doses de AstraZeneca devem ser entregues ao PNI (Plano Nacional de Imunização), de acordo com a projeção divulgada semanalmente pelo Ministério da Saúde.

Ou seja, de todas as vacinas AstraZeneca a serem recebidas pelo PNI até setembro, ao menos 53% devem ser destinadas à segunda dose de quem recebeu a primeira até 20 de junho. A análise considera distribuição, não quantidade de vacina aplicada na população.

Em julho, está prevista a entrega de 41 milhões de doses, de todos os laboratórios, ao Ministério da Saúde. É um aumento pouco significativo em relação aos 39 milhões de doses de todo o mês de junho — a soma não considera doações, como o recente lote de 3 milhões doados pelos EUA ao Brasil.

Com isso, a tendência é de recuo na média alta de vacinação em primeira dose para suprir a demanda de segundas doses de AstraZeneca. Não há previsão de quantidade equivalente de doses de outros laboratórios à quantidade recordista de doses da vacina de Oxford que foram aplicadas em junho.

A situação pode melhorar a partir de agosto. Nos meses de agosto e setembro, o Ministério da Saúde espera receber cerca de 130 milhões de doses de vacinas de todos os laboratórios, incluindo AstraZeneca/Oxford. O volume alto pode elevar o ritmo de vacinação em primeira dose sem atrasar o fechamento do esquema vacinal desses meses.

O cálculo da média de vacinados por dia é feito com base nos dados do consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, obtidos nas secretarias estaduais da saúde.

Outros cenários possíveis

Há ainda a possibilidade de aumentar o período entre doses para manter o ritmo, mas especialistas acreditam que é uma opção arriscada para resolver o eventual problema.

Temos que perseguir o prazo da segunda dose conforme foi estudado e pesquisado nos ensaios clínicos. Não é recomendável estender sob o risco de termos problemas. Esse atraso da segunda dose já foi ventilado, mas não está sendo considerado plausível em nenhum lugar do mundo."
Tiago Feitosa de Oliveira, médico Sanitarista e professor da Universidade Católica de Pernambuco.

Desde abril, o Brasil enfrentou algumas crises por falta de segunda dose da Coronavac — falta de insumos e interrupção na produção foram os principais motivos.

Além disso, há registros em todos os estados de pessoas que não voltaram aos postos de vacinação para tomar a segunda dose. Para Oliveira, "o sistema não foi ativo o suficiente para buscar essas pessoas".

Outra possibilidade para não interromper a média alta de vacinação nem deixar pessoas sem segunda dose é mesclar vacinas produzidas em laboratórios diferentes, como dar a segunda dose de Pfizer a quem tomou a primeira dose de AstraZeneca.

Mas os estudos sobre a mistura de vacinas ainda estão sendo analisados, e não há qualquer decisão ou orientação do Ministério da Saúde sobre isso.

'Corrida do bem' ameaçada

Nesta semana, São Paulo enfrenta um problema de abastecimento nos postos. Na terça-feira (22), a aplicação foi suspensa na capital por falta de imunizante — 400 dos 520 postos de vacinação ficaram sem doses no dia anterior. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o motivo foi a alta adesão nos grupos por idade.

Desde então, todos os dias há registro de postos sem doses na capital. Na sexta-feira (25), o UOL identificou ao menos 15 postos "aguardando recebimento" de doses para imunizar a população.

A alta demanda e os problemas que ela pode gerar podem jogar água nos planos de governantes. Nas últimas semanas, além do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), os governadores Flávio Dino (PSB-MA) e Eduardo Leite (PSDB-RS), e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, (PSD), utilizaram a internet como palco para uma "discussão saudável" sobre quem vacinará a população primeiro.

O médico infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira Imunizações, avalia que a "corrida do bem" deveria levar em consideração todo o cenário: não adianta terminar primeiro se houver menos de 70% da população vacinada.

O indicador de avançar o calendário tem que ser o de ninguém ter ficado para trás nos grupos anteriores. Nem sempre quem vacina mais rápido está vacinando melhor."
Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações

Tiago Oliveira concorda. Para ele, o avanço rápido corre o risco de ser ilusório se governantes não observarem a cobertura vacinal.

"O que tem que acontecer é um avanço seguro, sem deixar as pessoas para trás, garantindo fechamento de ao menos 70% de todo o público-alvo a cada vez que o calendário avance."