Restrição calórica altera negativamente a microbiota intestinal, diz estudo
Um estudo publicado no periódico Nature mostrou que dietas muito restritivas podem alterar de forma negativa a microbiota intestinal. A pesquisa foi liderada por cientistas do Departamento de Endocrinologia e Doenças Metabólicas da Charité Universitätsmedizin Berlin (Alemanha) e do Departamento de Microbiologia e Imunologia da University of California San Francisco (EUA).
Embora pequeno, a análise revelou que a baixa ingestão de calorias tem uma influência relevante na formação e manutenção da microbiota intestinal. No caso, os cientistas notaram um aumento da quantidade da bactéria Clostridioides difficile, conhecida por provocar inflamação intestinal (chamada de colite) e diarreia.
"Nossos resultados ressaltam que o papel das calorias no controle de peso é muito mais complexo do que simplesmente quanta energia uma pessoa está consumindo", disse Peter Turnbaugh, professor associado de Microbiologia e Imunologia e autor sênior do estudo, em comunicado. "Descobrimos que essa dieta de baixíssimas calorias alterou profundamente o microbioma intestinal, incluindo uma diminuição geral das bactérias intestinais."
Como o estudo foi feito?
A pesquisa foi dividida em duas etapas e durou 16 semanas. Na primeira, 80 mulheres acima do peso, obesas e pós-menopausa foram selecionadas. Metade foi submetida a uma dieta considerada extrema: só era permitida a ingestão de 800 calorias por dia e na forma líquida. A outra metade manteve-se na mesma rotina.
Como esperado, o grupo que restringiu as calorias perdeu peso. Mas a microbiota dos indivíduos também mudou, com uma queda na quantidade de microrganismos e na diversidade deles. Vale lembrar que o intestino possui milhões de microrganismos, e cada microbiota é diferente da outra.
Para a segunda parte do estudo, os cientistas transplantaram amostras de fezes pré e pós-dieta em ratos geneticamente modificados e sem microbiota intestinal. A dieta dos animais não foi modificada.
O resultado mostrou que os animais que receberam as amostras pós-dieta perderam mais de 10% de massa corporal, enquanto os outros permaneceram com o mesmo peso
Uma análise posterior na microbiota dos ratos mostrou uma abundância da bactéria C. difficile. A proliferação do microrganismo costuma se manter sob controle graças à presença dos sais biliares secretados durante a digestão de gordura; ou seja, uma dieta restritiva, particularmente sem gorduras, acaba comprometendo esse controle.
Por que isso é importante?
Embora seja um estudo pequeno e nenhum dos participantes— humanos ou ratos— tenha apresentado problemas de saúde pela alteração da microbiota, os cientistas acreditam que, caso continuassem na restrição alimentar, esse quadro poderia mudar.
E, embora a presença da bactéria C. difficile tenha mostrado impacto positivo na perda de peso, eles reforçam que essa não é uma estratégia saudável para quem deseja emagrecer— já que, em altos níveis, o microrganismo pode prejudicar a saúde.
A relevância da análise está em entender que as bactérias presentes no intestino têm um papel importante no controle do peso corporal, e podem, quem sabe, ajudar indivíduos que precisam perder peso, mas encontram dificuldades no processo.
"Várias linhas de pesquisa mostram que o microbioma intestinal pode impedir ou aumentar a perda de peso", disse Turnbaugh. "Queremos entender melhor como as dietas comuns para perda de peso podem impactar o microbioma e quais são as consequências para a saúde e as doenças", afirma.
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