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Brasil poderia ter impedido 400 mil mortes por covid, diz epidemiologista

Pedro Hallal lidera estudo a fim de quantificar a escala do desastre da pandemia no país - Jefferson Rudy/Agência Senado
Pedro Hallal lidera estudo a fim de quantificar a escala do desastre da pandemia no país Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Colaboração para o VivaBem

29/06/2021 09h39Atualizada em 29/06/2021 11h38

O Brasil poderia ter salvado 400 mil vidas — o que corresponde a cerca de 80% das mortes por covid-19 — se tivesse implementado medidas de distanciamento social mais rígidas e lançado o programa de imunização mais cedo, disse Pedro Hallal, professor na Universidade Federal de Pelotas que lidera um estudo para quantificar a escala do desastre da pandemia no país, ao jornal britânico The Guardian.

O governo federal e, mais especificamente, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) são responsáveis por esses números, segundo Hallal. "Não foi o governo federal que disse que a pandemia era uma 'gripezinha'. Não foi o governo que incentivou as pessoas a saírem sem máscara, nem quem disse que a vacina pode transformar você em um jacaré. Foi tudo o presidente, e é sua responsabilidade", acrescentou.

Bolsonaro é um crítico do uso de máscaras e já divulgou mentiras usando uma pesquisa distorcida para indicar que o equipamento era prejudicial às crianças e citando que a máscara reduz a oxigenação, o que não é verdade.

Cerca de 95 mil a 145 mil mortes ocorreram devido à demora do país em adquirir vacinas, estima o epidemiologista, que disse que a média de mortalidade por covid-19 é mais de quatro vezes maior no Brasil do que no resto do mundo: 2.345 por milhão no Brasil contra 494 mundialmente.

O Brasil registrou ontem 658 mortes de covid-19, totalizando 514.202 vidas perdidas desde o início da pandemia.

O programa de nacional de imunização começou no final de janeiro e o Brasil chegou à marca de 25,59 milhões de pessoas que completaram o esquema de vacinação contra a covid-19 ontem, o que corresponde a 12,09% da população nacional. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, com base nas informações fornecidas pelas secretarias estaduais de saúde.

Na semana passada, Hallal esteve na CPI da Covid e rebateu a comemoração de senadores da comissão que apoiam o presidente sobre os 16 milhões de recuperados da pandemia. Na visão do cientista, comemorar o número de recuperados é o mesmo que celebrar a goleada da Alemanha sobre o Brasil na copa de 2014.

"A afirmação de que o tratamento precoce salvou um número "xis" de vidas é absolutamente equivocada e vou reforçar o que eu disse ao senador Heinze: comemorar 16 milhões de curados é como comemorar o gol do Brasil para a Alemanha, no jogo que foi 7 a 1 para a Alemanha. 16 milhões de curados significa que 16 milhões delas ficaram doentes, então não é motivo para comemoração", disse ele na ocasião.

Recentemente, ao fazer um balanço sobre a comissão, o relator, senador Renan Calheiros (MDB), afirmou que todas as teses de investigação foram comprovadas até agora. Como exemplos, ele citou a comprovação da existência de um Ministério da Saúde paralelo e de que o governo não quis comprar vacinas.