Futebol: estudo mostra como preparação afeta desempenho de chutes
Uma revisão de estudos científicos publicada por pesquisadores brasileiros aponta que algumas estratégias de aquecimento, como alongamento dinâmico, podem preparar bem os jogadores de futebol para realizarem chutes a gol.
Por outro lado, exercícios físicos intensos têm impacto negativo na velocidade que a bola atinge durante o chute.
Já o consumo de bebidas com carboidratos em uma partida pode contribuir para que o atleta consiga manter um nível adequado de desempenho do chute nos momentos finais de um exercício físico prolongado, como é o caso de um jogo de playoff.
Esses apontamentos estão no artigo Acute Effects of Warm-Up, Exercise and Recovery-Related Strategies on Assessments of Soccer Kicking Performance: A Critical and Systematic Review, publicado na revista Sports Medicine. Dentre os estudos incluídos, dez examinaram os efeitos agudos do aquecimento, 34 verificaram os impactos de exercícios físicos e 21 exploraram as estratégias relacionadas à recuperação.
A habilidade de chutar a bola é essencial no futebol, principalmente quando se tenta marcar gols. No Campeonato Brasileiro 2020, por exemplo, os três times mais bem colocados até a 30a rodada tiveram 162, 132 e 169 chutes a gol, cada um, respectivamente, e marcaram 50, 48 e 51 gols durante esses jogos.
Características individuais como maturidade, nível de habilidade e gênero dos atletas podem ter influência no desempenho, mas as intervenções de treinamento e recuperação também contribuem para obter melhores resultados.
A revisão dos estudos científicos é parte da tese de doutorado de Luiz Henrique Palucci Vieira, realizada com apoio da FAPESP, no Laboratório de Pesquisa em Movimento Humano (Movi-LAB) da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Bauru.
A orientação é do professor Fabio Augusto Barbieri, coordenador do Movi-LAB. Participou do estudo o pesquisador Paulo Santiago, também apoiado pela FAPESP.
"A velocidade da bola no chute é afetada negativamente por protocolos de exercícios físicos intensos [por exemplo, corridas intermitentes ou esforços incrementais até a exaustão], enquanto os efeitos do repouso passivo, como a pausa no intervalo, não afetaram a velocidade. A precisão do chute e a velocidade da bola podem ser aprimoradas por meio de uma rotina de aquecimento, incluindo modalidades de alongamento dinâmico, enquanto o consumo de uma bebida com carboidratos pode ajudar a manter a velocidade da bola após exercícios prolongados", escrevem os pesquisadores no artigo.
E completam: "Os resultados desta revisão podem ajudar a informar pesquisas futuras e intervenções práticas na tentativa de testar e otimizar o desempenho de chutes no futebol", fazendo a ressalva da necessidade de mais investigações, sobretudo com jovens esportistas.
Nesse sentido, o projeto de Vieira já contempla para as próximas etapas mais estudos experimentais com o objetivo de mapear os efeitos que técnicas de preparação e de recuperação do atleta têm em seu desempenho nos chutes no futebol.
Em um primeiro momento, os pesquisadores estão analisando o impacto de características individuais, como a qualidade do sono do esportista, e acompanhando também a atividade cerebral (especificamente aquela ligada ao córtex) durante a execução de uma tarefa de chutes de média distância.
"O trabalho é bastante inovador no quesito aplicabilidade, já que busca diferentes informações, usando métodos e conhecimentos da neuromecânica, para tentar melhorar a performance de jogadores de futebol. Um exemplo é o acompanhamento que está sendo feito em relação à atividade cerebral durante a preparação e realização do movimento do chute. Poucas pesquisas no mundo fizeram isso", destaca Barbieri à Agência FAPESP.
Na segunda etapa do projeto, também serão testados os resultados da aplicação de duas técnicas geralmente utilizadas na prática do futebol - a potencialização pós-ativação (PPA) e a aplicação de gelo - na mecânica do movimento do jovem jogador e em sua performance.
Durante os anos de 2019 e 2020, chutes de esportistas jovens (sub-17) de um time do interior de São Paulo foram filmados utilizando câmeras de slow motion para examinar os movimentos dos membros inferiores e o resultado de seus chutes (como velocidade da bola e precisão). "Ao longo deste ano, vamos seguir com a pesquisa para elucidar os fatores que interferem nos padrões da habilidade de chutar, de modo que seja possível concluir as análises dos dados obtidos e encaminhá-los para divulgação", diz Vieira.
Segundo o doutorando, ainda há dificuldade de a academia ter acesso a clubes profissionais brasileiros de futebol para parcerias em pesquisas e ciência, sendo necessário maior abertura e colaboração para ter avanço em termos científicos e do desempenho dos atletas, já que as revistas científicas da área têm dado prioridade a publicações com aplicações práticas reais.
Metodologia
Para chegar ao universo de estudos analisados na revisão, o grupo partiu de mais de 10 mil títulos de pesquisas, após uma busca sistemática da literatura realizada até julho de 2020 no PubMed, Web of Science, SPORTDiscus, Scopus e ProQuest.
Depois de uma ampla triagem, 73 trabalhos foram considerados elegíveis, mas 52 estudos eram adequados. Todos trataram de jogadores de futebol do sexo masculino.
Segundo Vieira, ainda há um número muito reduzido de pesquisas científicas tendo como alvo atletas do sexo feminino. "Esse também é um dos caminhos que esta parte da ciência precisa entrar", afirma.
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