Topo

Sem calendário único, RJ opta por "pacto" e cidades vacinam de 30 a 55 anos

Vacinação contra a covid no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes/Reuters
Vacinação contra a covid no Rio de Janeiro Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

02/07/2021 04h00

O estado do Rio de Janeiro anunciou nesta semana que fez um "pacto" com todos os municípios: vacinar com a 1ª dose toda a população adulta até o fim de agosto. Mas, até agora, os municípios têm mantido ritmos completamente distintos em relação à faixa etária vacinada, o que pode impedir o êxito da pactuação.

Levantamento feito pelo UOL mostra que, até o dia 29 de junho, há municípios vacinando pessoas de 34 anos e outros vacinando pessoas com 56 anos. Diferentemente de outros estados, como São Paulo, o Rio de Janeiro nunca instituiu um calendário único para guiar a vacinação dos municípios.

Depois de vacinar os grupos prioritários definidos pelo PNI (Plano Nacional de Imunização), como idosos (60 anos ou mais), profissionais de saúde e pessoas com condições de saúde que podem agravar o quadro da doença, as chamadas comorbidades, cada município iniciou a vacinação por idade, a partir de 59 anos.

Na capital fluminense, a data que marcou esse início foi 31 de maio. Mas há municípios do interior que começaram a vacinar esse grupo há menos de uma semana, quase um mês depois.

Atualmente a maioria (64%) dos municípios do Rio de Janeiro vacina na faixa entre 40 e 50 anos, inclusive a capital. Mas há outros 26% que ainda estão vacinando acima de 50 anos.

Outros cinco municípios vacinam pessoas entre 30 e 40 anos, e São Gonçalo, o segundo maior colégio eleitoral do estado, já vacina pessoas de 30 anos.

Há ainda três municípios sem informações atualizadas sobre qual grupo está recebendo a primeira dose.

Todo o combate à pandemia no Rio de Janeiro foi uma sequência de desastres e decisões sem nexo algum. Na capital, abrir bares e escolas no meio da segunda onda [da pandemia] foi um absurdo."
Miguel Nicolelis, professor da Universidade Duke

Pactuação para atingir meta

De acordo com o secretário de saúde do Rio de Janeiro, Alexandre Chieppe, realmente não há uma proposta a ser seguida por todos. O que é divulgado, explica o secretário, é uma pactuação, um comprometimento dos municípios em vacinar a população o mais rápido possível.

A gente fez avaliação da população vacinada, da previsão de fluxo de vacinas enviadas pelo Ministério da Saúde, e ouvimos os municípios sobre suas perspectivas de vacinação, capacidade de vacinar em tempo curto."
Alexandre Chieppe, secretário de saúde do Rio de Janeiro

Mas os seis meses de campanha de vacinação até aqui mostram que não há qualquer sanção ou fiscalização para que isso aconteça. O UOL já mostrou que há municípios do Rio de Janeiro que não conseguem alimentar as bases do Ministério da Saúde, que registra o número de pessoas vacinadas.

O pacto mais atual entre estado e municípios define que pessoas de 35 anos ou mais serão vacinadas até o final de julho e pessoas de 18 anos ou mais até o final de agosto.

Mais vacinas e mais trabalho

Para Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunização, é preciso dar atenção a todas as faixas etárias para que a vacinação seja eficaz. Ele considera que o principal problema no ritmo da vacinação, não só no Rio de Janeiro, seja a falta de doses.

Tivemos um primeiro semestre ruim e vacinamos uma pequena parcela da população. Nossa dificuldade em avançar e ter mais vacinados não é falta de capacidade, mas de doses."
Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunização

Chieppe avalia que houve problemas na distribuição de doses até então, para deixar todos os municípios "na mesma página". De acordo com o secretário de saúde do Rio de Janeiro, o estado pretende distribuir as doses proporcionalmente para municípios que receberam menos, até agora.

Os municípios que estão mais atrasados estão, ou por dificuldade de atualização do sistema, ou porque receberam menos doses. A tendência é que, proporcionalmente, estes recebam agora mais doses para todos chegarem juntos no final."
Alexandre Chieppe, secretário de saúde do Rio de Janeiro

O secretário destaca que, por ser um pacto, a meta de aplicar a 1ª dose em agosto não é definitiva e nem representa o atingimento de imunidade coletiva. "Depois existem dois trabalhos: a segunda dose, e buscar quem não se vacinou durante a campanha".

Capital antecipa calendário

Enquanto isso, o prefeito Eduardo Paes (PSD) anunciou que a capital do Rio de Janeiro terá o calendário antecipado mais uma vez. Até o dia 17 de julho, pessoas com 37 anos serão vacinadas. Antes, a previsão era de que essa idade recebesse a primeira dose no início de agosto.

A possibilidade de terminar a vacinação antes de 31 de agosto é muito grande. Quem sabe em meados de agosto possamos terminar a vacinação com a 1ª dose para a população acima de 18 anos e nos concentrar na 2ª dose", disse Paes em entrevista à GloboNews.