Velhice é fase cheia de eventos marcantes; saiba como enxergar o lado bom
A vida é feita de etapas. Para o idoso, o envelhecimento é um período de transições, que não são poucas e podem ser bem difíceis.
Aposentadoria, mudança de casa para a dos filhos ou para uma instituição de longa permanência e perda de entes queridos costumam ser eventos que mais os afetam. Mas há outros e que podem levar ainda à ansiedade e depressão.
"Confrontar o idoso a deixar de executar atividades que lhe colocam num lugar de sujeito produtivo, por exemplo, é como impô-lo a deixar de existir. Teimosia e resistência são então tentativas que ele tem de provar a sua existência", afirma Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves e com experiência pelo HC (Hospital da Cidade), de Salvador.
De acordo com um artigo médico publicado este ano por pesquisadores das Universidades Columbia e Adelphi, nos Estados Unidos, cerca de um terço dos aposentados têm dificuldades para se ajustar à falta de trabalho, enquanto muito do estresse e da frustração inerentes a mudanças de casa parecem surgir quando sentem que perderam o controle da situação, vão para longe do entorno familiar ou não sabem o que esperar do novo ambiente.
"Mudanças também podem ser bem complicadas para idosos que se alimentam mal, fumam ou consomem álcool. Se fazem isso há dezenas de anos, será bem difícil fazê-los deixar de lado", aponta Natan Chehter, geriatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo (SP), acrescentando que alguns podem reagir tão mal que até buscam se distanciar da família.
As perdas também comprometem muitos aspectos do idoso. Diminuem sua interação social, podem alterar a situação financeira, o sono e as atividades diárias básicas, especialmente após a morte de um familiar próximo ou de um amigo.
Nos dois anos após a morte da esposa, a taxa de mortalidade dos homens tende a aumentar, especialmente se o falecimento foi inesperado ou traumático, e a taxa de suicídio entre eles é 5,25 vezes maior do que entre as mulheres idosas.
Como evitar os impactos?
Para que o idoso não "entregue os pontos", por assim dizer, é preciso suporte e adaptação. Se no artigo científico citado no início da reportagem cerca de um terço dos aposentados enfrentam um período difícil, dois terços deles não.
Isso significa que se adaptaram. Nesse sentido, mentoria para aposentadoria e psicoterapia podem ajudar a se planejarem. Há ainda empregadores e agências comunitárias que oferecem serviços desse tipo. Pesquise a respeito e procure ajuda especializada.
Quanto aos idosos lúcidos, mas que respondem mal à mudança de residência ou querem continuar como estão, principalmente os que dependem de acompanhamento, assistentes sociais, junto com a família, podem ajudá-los, avaliando suas opiniões, inclusive para propor modificações na casa em termos de acessibilidade, conforto e segurança.
Contratar um cuidador também pode ser uma opção, pois dispensa uma adaptação a um ambiente novo.
Mas se for preciso mudar de residência para a casa de alguém, ou uma instituição, mesmo uma pequena preparação pode ajudar a diminuir o estresse.
É indicado que idosos nessa condição conheçam as novas instalações com antecedência, assim como as redondezas e encontrem os novos vizinhos, colegas de quarto, enfermeiros e moradores, se possível.
"É muito importante incluir o idoso nas mudanças, mostrar a ele as novas necessidades de sua vida, os porquês, as alternativas e acima de tudo ouvi-lo. Hábitos e costumes tão enraizados são marcos que dão sentido ao ciclo de sua vida e 'quebrá-los' de repente pode levá-lo a encarar que a vida perdeu sentido", explica Daniella Dualib Uvo, psicóloga da Clínica Maia (SP).
Lutos normalmente se resolvem de três meses a um ano sem tratamento medicamentoso. No entanto, quando muito prolongados, a ponto de o idoso ficar infeliz o tempo todo e incapaz de realizar atividades diárias básicas, ou se falar em suicídio, é necessário que seja examinado o quanto antes por um médico.
Nesse cenário é necessário aconselhamento e serviços de apoio (por exemplo, grupos para viúvos), bem como medicamentos para ansiedade ou depressão. Os responsáveis precisam estar atentos às mínimas alterações de comportamento.
Veja também pelo lado bom
Apesar de o envelhecimento ser marcado por mudanças difíceis, há também muitas que são boas e positivas. A começar pela aposentadoria, não ter uma jornada de trabalho como antes pode significar novas atividades, passatempos, leituras, viagens, amizades e tempo para se exercitar.
A companhia do cônjuge, dos filhos, amigos e netos pode servir como estímulo para não ficar parado, manter vínculos e ter vários propósitos de vida.
Como a tendência é que com a idade nos acomodemos, ter planos contribui para que queiramos o nosso bem e tenhamos mais atenção com a alimentação, com os horários para dormir e acordar, com o consumo de bebidas e cigarros, com o corpo e a mente.
Portanto, busque aprender ou se dedicar a algo que sempre sonhou e nunca teve oportunidade quando jovem: um novo idioma, tocar piano, disputar competições, fazer voluntariado e por aí vai...
"Estar em contato com mudanças, atividades, experiências é altamente importante para o cérebro constituir novos aprendizados e para o desenvolvimento. A vida só acaba quando termina nosso último dia, é preciso agir positivamente", afirma Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental - SP).
Em se tratando de mudar de casa, pode ser um momento oportuno para aproveitar a família, transmitir seu conhecimento à criançada, que faz companhia e ajuda principalmente a incentivar as habilidades e a exercitar o cérebro do idoso, e até conhecer gente nova e interessante.
Casas de repouso, por exemplo, oferecem uma socialização muito positiva.
Podem ser também até uma oportunidade para o idoso que é viúvo se apaixonar. Relações amorosas ajudam a saúde física, psíquica e emocional e a superar lutos, além de serem bons marcadores.
Manter-se sexualmente ativo na terceira idade também eleva a sensação de prazer e bem-estar, pois estimula a produção dos hormônios.
Mulheres que continuam a se masturbar e a transar relatam ter menos dores durante a penetração e sentem mais desejo.
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