Pesquisa: mesmo vacinados, maioria dos idosos mantém isolamento social
A pandemia trouxe muitas restrições para todos nós, no entanto, os idosos, sobretudo no início, quando ainda não havia vacina, eram os que mais preocupavam os órgãos de saúde. Parte dessa população, porém, se conscientizou diante do cenário e dos riscos que corriam, caso fossem infectados, e segue se cuidando até hoje.
Isso é o que mostra uma pesquisa realizada pela Unicid (Universidade Cidade São Paulo) em conjunto com docentes e pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro), Faculdade de Medicina de Jundiaí, UPE (Universidade de Pernambuco), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Universidade de Otago (Nova Zelândia) e Hospital Albert Einstein (SP), que integram a Rede de Pesquisa Remobilize. O estudo visava investigar o impacto imediato da pandemia na mobilidade e saúde de idosos brasileiros.
A pesquisa vem sendo realizada virtualmente e por telefone, tendo iniciado em maio de 2020 e vai se estender acompanhando os idosos por um período de 18 meses. Na primeira onda, o estudo contou com a participação de 2.482 idosos com 60 anos ou mais, de 22 estados do Brasil, com uma segunda onda que contou com a participação de 1.118 idosos em agosto a outubro de 2020.
Já em 2021, participaram da pesquisa 940 idosos, de fevereiro a abril, e no segundo semestre terá uma última fase de avaliação para captação de informação pós-vacina. Para o estudo é importante saber qual será o comportamento de mobilidade dos idosos após serem vacinados. 3,4% disseram não pretender tomar vacina.
Idosos de todas as regiões do Brasil responderam, porém, a predominância de participação ocorreu no Sudeste, com 50,3% de respostas, sendo a maior parte de mulheres, 73,6%, contra 26,4% homens.
Aproximadamente, 57% relataram ter duas ou mais doenças, entre elas, osteoporose, artrite, asma, doença arterial, insuficiência cardíaca, infarto, parkinson, diabetes, doença gastrointestinal, depressão e AVC.
Segundo os dados de 2021, mesmo os idosos estando vacinados, a maioria continua evitando sair de casa sem necessidade.
Ainda segundo a pesquisa, em maio de 2020:
- 80% dos entrevistados estavam seguindo as medidas de restrição social;
- 46,9% só estavam saindo quando totalmente inevitável;
- 29,3% estavam isolados completamente;
- 11,4% saindo e tomando cuidado;
- 8,9% estavam recebendo visitas;
- 2,8% alegaram que não mudaram a rotina;
- somente 0,5% ainda saem para caminhar.
Já em 2021:
- 82% estão seguindo as medidas de restrição social:
- 49,3% só estavam saindo quando inevitável;
- 10,3% seguem totalmente isolados;
- 19,1% relataram estar saindo para trabalhar com cuidado;
- 9,2% permaneceram em casa, mas recebendo visitas;
- 2,8% não mudaram a rotina;
- 3,3% estão saindo apenas para caminhar.
A pesquisa apontou uma queda significativa na mobilidade: os idosos passaram a se deslocar menos na vizinhança, na cidade e fora dela, desde o início da pandemia, em março de 2020.
"Todos os idosos reduziram seus espaços de vida, mas o impacto foi maior para idosos que moravam sozinhos, com idade entre 70 e 79 anos, e aqueles que se declararam de cor preta. Outras variáveis associadas à mudança na mobilidade nos espaços de vida, em menor grau, foram ser mulher, ter baixa escolaridade e baixa renda", explica Monica Perracini, professora de doutorado e mestrado em fisioterapia da Unicid e consultora externa em dois projetos na OMS (Organização Mundial de Saúde).
Segundo os levantamentos, cerca de 87% dos idosos antes da pandemia circulavam pela vizinhança, número que caiu para 53% logo no começo da pandemia e aumentou para 68% em 2021.
De acordo com Perracini, ficar em casa e restringir a mobilidade pode ter consequências desastrosas para pessoas idosas, como diminuição da força e resistência muscular, equilíbrio e flexibilidade, aumentando a dificuldade para fazer atividades do dia a dia.
"Claro que é preciso que os idosos sigam as recomendações enquanto não temos a segurança de que a pandemia no Brasil está controlada. Porém existem consequências pouco divulgadas e que também precisariam estar recebendo atenção das autoridades e gestores de saúde", avalia a especialista.
Como ficaram os tratamentos médicos?
Segundo o estudo, 41,6% dos idosos continuaram os tratamentos médicos, sendo 7,6% em casa; 29,5% fora de casa e 4,5% por telemedicina.
O trabalho também apontou um total de 35 internações frequentes pelos participantes. Sendo 11 por covid-19, 2 por pneumonia, 8 por cirurgias, 3 por quedas, 2 por ansiedade, 1 falta de ar, 3 por infecção urinária, 3 problemas cardíacos e outras. Dos internados 37% foram para UTI, e o tempo de internação variou de 1 a 46 dias.
"A interrupção de tratamento tem um impacto negativo na saúde e funcionalidade das pessoas idosas. Muitos idosos que já tinham limitações funcionais e doenças crônicas interromperam tratamentos de reabilitação, por exemplo. Isso contribui para perdas funcionais e, de alguma forma, isso sobrecarregou cuidadores familiares e pagos, que também tiveram sua rede de suporte drasticamente diminuída no período da pandemia", aponta Perracini.
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