Anvisa autoriza estudo de medicamento contra a covid citado por Bolsonaro
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou hoje a realização de estudo clínico para avaliar a segurança e eficácia do medicamento proxalutamida na redução da infecção viral e no processo inflamatório causado pelo coronavírus.
A proxalutamida foi citada ontem pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como tratamento da covid-19. É mais um medicamento sem eficácia comprovada apoiado pelo presidente.
Na saída do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, Bolsonaro diz ter lido estudos do CDC (Centro de Controle de Doenças) dos Estados Unidos, sem citar quais foram, e pediu que fossem feitos estudos com a proxalutamida no Brasil. Ele também afirmou que iria se encontrar hoje com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para tratar sobre a droga.
Segundo a Anvisa, o estudo de fase 3 será realizado com participantes ambulatoriais do sexo masculino que apresentam sintomas leves e moderados da covid. Os voluntários serão de Roraima (12 pessoas) e de São Paulo (38). O estudo é patrocinado pela empresa Suzhou Kintor Pharmaceuticals, da China.
Além do Brasil, os testes serão realizados na Alemanha, Argentina, África do Sul, Ucrânia, México e Estados Unidos.
Proxalutamida é estudada para câncer, mas não foi aprovada
A proxalutamida é um medicamento anti-androgênico que impede que células do corpo reconheçam os hormônios andrógenos. Ele é estudado para o tratamento de cânceres (próstata e mama), mas segundo o virologista Rômulo Neris, que foi selecionado para estudar a covid-19 com uma bolsa da Dimensions Sciences, nem sequer para o tratamento do câncer a droga chegou a ser aprovada.
"Ao contrário de outras drogas estudadas contra a covid-19 como a cloroquina e a ivermectina, a proxalutamida não é um reposicionamento de um fármaco, ou seja, ele não é utilizado para tratar outra coisa e está sendo testado para a covid. Ele ainda está em fase de testes para casos de câncer de mama e próstata resistente à castração", explica. "Está na fase 3 dos testes no câncer de próstata e na fase 1 para o câncer de mama."
A primeira fase de testes seria de estudos pré-clínicos, não existem estudos mostrando o papel da droga em laboratório que comprovem se há ou não algum efeito direto no sentido de impedir a replicação do novo coronavírus. Tampouco existem estudos em modelo animal para saber qual é a tolerância e distribuição do medicamento, que são parâmetros importantes antes de se iniciar os testes em humanos.
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