Treino, dieta, remédio, terapia: quando adotar cada método para emagrecer?
Segundo levantamento de 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 62% dos adultos em nosso país estão com excesso de peso —condição que aumenta o risco de diversos problemas, como diabetes, pressão alta, infarto, AVC, dores nas costas e nas articulações etc.
Em busca de mais saúde, boa parte das pessoas tenta emagrecer e não consegue —também há os que conseguem e depois engordam tudo novamente (o famoso efeito sanfona). Mas por que perder peso e manter-se magro é tão difícil? Há muitas respostas para essa questão, mas entre as principais está a falta de orientação adequada.
O excesso de peso tem diversas causas, entre elas má alimentação, sedentarismo, questões emocionais, fatores genéticos e alterações hormonais e metabólicas. Por isso, é muito importante que a pessoa que deseja emagrecer com saúde tenha um acompanhamento multidisciplinar, feito por profissionais como médico, nutricionista, psicólogo, profissional de educação física etc. Esses especialistas vão ajudar a definir quais as abordagens mais indicadas para você . A seguir, explicamos as principais deles.
Reeducação alimentar
Mudanças na alimentação devem ser adotadas por todas as pessoas que desejam perder peso e ter saúde. E nada de encarar dietas muito restritivas. Um processo de emagrecimento saudável exige uma reeducação alimentar, com mudanças no cardápio que podem ser sustentadas para o resto da vida.
O ideal é sempre seguir um plano alimentar elaborado por um nutricionista. Para definir um cardápio saudável, que tenha fácil adesão e gere resultados, o profissional vai levar em consideração sua necessidade calórica diária, rotina e gostos.
A nutricionista Vívian Borges, especialista em obesidade, cirurgia bariátrica e nutrição clínica e terapêutica nutricional, que atende no Instituto de Tratamento da Obesidade Dr. Bruno Mota, em Maceió, diz que um plano para perda de peso deve ser composto, basicamente, por "comida de verdade": frutas, legumes, verduras, raízes e proteínas de boa qualidade —carne, peixe, frango, laticínios, feijão, grão-de-bico, lentilha etc.
"A pessoa deve evitar o consumo de fast-food (pizza, hambúrguer, coxinha etc.) e de alimentos industrializados ultraprocessados (lasanha congelada, nuggets, macarrão instantâneo), além de outros produtos ricos em gordura, carboidratos refinados e açúcar, como refrigerantes, sucos de caixinha, bolos, sorvetes, doces", indica Borges.
Acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico
Muitas vezes, a pessoa que busca emagrecer não consegue manter uma boa alimentação por causa de questões emocionais, pois acaba descontando sentimentos como ansiedade, estresse, tristeza e até alegria na comida (consumindo alimentos pouco saudáveis e/ou em excesso). Nesses casos, o acompanhamento com um psicólogo e/ou psiquiatra pode ajudar a lidar melhor com as emoções e minimizar a chamada "fome emocional".
Beatriz Pini, psicóloga do Instituto de Medicina Sallet, especialista em transtornos alimentares pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e membro da Sbem (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) apontou situações que indicam que a pessoa que busca emagrecer precisa de acompanhamento profissional para cuidar da saúde mental:
- Você está com excesso de peso há um longo tempo e já tentou emagrecer várias vezes, mas sempre teve dificuldade para conseguir ou para manter os resultados;
- O ganho de peso aconteceu após algum fato que gerou grande sofrimento emocional, como a perda de um emprego, de um animal de estimação ou de um ente querido;
- A pessoa foi diagnosticada com transtornos como ansiedade, estresse crônico ou depressão;
- Apresenta episódios frequentes que remetem a um quadro de compulsão alimentar, como ficar beliscando o tempo todo, mesmo sem fome;
- Sempre acorda no meio da madrugada para comer --ou come muito no fim da noite, mesmo depois de jantar;
- Come escondido e em grande quantidade;
- Após exagerar em uma refeição, sente-se culpada e, para compensar, faz alguma grande restrição (fica o dia todo sem comer ou corta um determinado alimento).
O tratamento psicológico também auxilia na melhora da relação com o corpo e da autoestima, além de treinar habilidades sociais, como aprender a dizer não a alimentos não saudáveis oferecidos por outras pessoas.
Exercício físico
A atividade física é importante para ter mais saúde e deve ser praticada regularmente por todas as pessoas que querem emagrecer —e também por quem não tem esse objetivo. Isso porque, além de proporcionar um gasto calórico que contribui para a perda de gordura, o exercício físico ajuda a controlar a glicemia (nível de açúcar no sangue), a pressão arterial e o perfil lipídico (nível de colesterol e triglicérides), reduzindo o risco de diabetes, hipertensão, infarto, AVC.
A recomendação atual da OMS (Organização Mundial da Saúde) é realizar, ao menos, 150 a 300 minutos de atividade física moderada por semana, ou 75 a 150 minutos de exercício intenso. Para cumprir essa meta vale somar tudo: correr, nadar, pedalar, fazer musculação e até movimentações do dia a dia, como subir escadas, passear com o cachorro, caminhar até a padaria.
"Mas não se apegue a esses números. Se não for possível cumprir esse tempo, realize o quando de atividade física conseguir. Isso já vai contribuir para a melhora da saúde e a perda de peso, desde que o treino esteja associado a uma boa alimentação", diz Raphael José Perrier Melo, mestre e doutor em educação física pelo Programa Associado de Pós-Graduação em Educação Física da UFPE (Universidade de Pernambuco) e professor da UniNassau (Centro Universitário Maurício de Nassau), no Recife.
O professor ressalta que, principalmente no início, o mais importante é buscar modalidades que você realmente gosta de praticar, não o treino da moda que "detona mais calorias". "Caso a atividade não traga prazer, é grande o risco de a pessoa desistir após um curto período."
Outro benefício da atividade física para o emagrecimento é que ela estimula a produção de substâncias no organismo que geram bem-estar e melhoram o humor, reduzindo o nível de estresse, a ansiedade e sintomas depressivos. Isso ajuda a pessoa a equilibrar as emoções e reduz a "fome emocional".
Remédios para emagrecer
"Os medicamentos são indicados para a maioria dos indivíduos que sofrem de obesidade e, ao longo dos anos, não conseguiram perder peso somente com dieta e atividade física", afirma Marcio Mancini, endocrinologista da Sbem regional São Paulo e responsável pela Unidade de Obesidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O especialista explica que o uso de remédios que auxiliam no emagrecimento ainda pode ser indicado a pessoas que além do excesso de gordura apresentam outras doenças crônicas, como pressão alta e diabetes, e não conseguem controlar esses problemas só com mudanças na alimentação.
No Brasil, entre os medicamentos mais usados no tratamento da obesidade estão:
- Sibutramina, que aumenta a saciedade por meio de ações nas regiões cerebrais que controlam o apetite;
- Liraglutida, substância semelhante a um hormônio produzido no intestino. Ela ajuda a controlar o nível de açúcar no sangue e retarda o esvaziamento gástrico, fazendo com que a digestão seja mais lenta. Tudo isso inibe o apetite;
- Orlistate, que reduz a absorção de gorduras no intestino.
Em casos mais graves e mais crônicos, pode ser que mesmo depois de emagrecer a pessoa precise continuar tomando a medicação para evitar o efeito sanfona. O tratamento com remédios deve sempre ser feito com orientação médica, para minimizar riscos à saúde e efeitos colaterais. Também é essencial que o paciente mude hábitos: melhore a alimentação e pratique exercícios.
Cirurgia bariátrica
Geralmente, é recomendada para pessoas que já tentaram emagrecer várias vezes e não conseguiram —ou voltaram a engordar— e têm o IMC (Índice de Massa Corporal) igual ou maior que 40; ou que têm o IMC igual ou maior que 35 com problemas de saúde associados, como doenças no coração, nos rins, no sistema digestivo, síndrome metabólica.
Há três tipos básicos de cirurgia de redução de estômago:
- Restritivas Visam diminuir o tamanho do estômago e, consequentemente, a ingestão de alimentos;
- Disabsortivas Em geral, alteram pouco o tamanho do estômago, mas desviam o trânsito intestinal, diminuindo a capacidade de absorção dos alimentos --o que exige grande controle de micronutrientes ingeridos, para não gerar déficit no organismo;
- Mistas Consideradas padrão ouro pela Sbem, reduzem a capacidade do estômago e contam com um discreto desvio no trânsito intestinal, diminuindo pouco a absorção de alimentos.
Macini ressalta que, mesmo com a cirurgia, se o paciente não mudar hábitos, não tiver um acompanhamento psicológico e não fizer uma reeducação alimentar, em longo prazo pode recuperar todo o peso perdido. A atividade física também é fundamental para prevenir grande perda de massa magra.
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