Bolsonaro diz que vai pedir investigação sobre preço da CoronaVac
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse hoje, em entrevista à Rádio Banda B (PR), que vai pedir investigação sobre o preço da CoronaVac estipulado pelo Instituto Butantan.
Bolsonaro alega ter recebido documentos da Sinovac com uma oferta direta para comprar por US$ 5 a dose da vacina, enquanto o Butantan vendeu por US$ 10. A vacina foi desenvolvida em parceria pelas duas empresas, sendo que o instituto brasileiro produz e comercializa o imunizante no Brasil.
O presidente não mostrou os documentos com a proposta, mas disse que irá encaminhar para o TCU (Tribunal de Contas das União). Ele disse ainda que acionou a CGU (Controladoria Geral da União) e o Ministério da Justiça sobre o assunto. O UOL tenta contato com o Instituto Butantan e colocará posicionamento assim que receber a resposta.
"Chegou documentação que a empresa que fabrica a CoronaVac, da matriz que fornece o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) na China, oferecendo agora para nós a vacina a US$ 5. Por que metade do preço agora? O que aconteceu com o Butantan?", questionou
Bolsonaro disse que "não está acusando ninguém de corrupção", mas usou expressões como "enorme preocupação" e "assustador" para se referir ao assunto. Ele disse que também enviou um ofício ao Butantan pedindo explicações.
"Pode ser que não haja nada de errado nisso tudo, mas o Butantan nunca nos apresentou as planilhas de preço, com toda a cadeia. Temos uma questão a ser investigada", disse.
Em nota, o Butantan disse que o consórcio Covax Facility ofertou vacinas da Sinovac ao Ministério da Saúde a preço de custo, já que era destinado a países de alta vunerabilidade.
"A negociação entre o Butantan e o Ministério da Saúde passou por todas as etapas legais, incluindo a apresentação da planilha de custos da vacina para as equipes técnicas do Governo Federal, em reunião no mês de outubro de 2020", diz o Instituto. "O valor final das vacinas ofertadas pelo Butantan inclui todas as despesas ordinárias diretas e indiretas, incluindo o preço pago à SinoVac, os custos de importação (taxa de administração, frete, seguro do produto, tributos e impostos), os custos de produção (envase, recravação, rotulagem e embalagem), custos dos testes de qualidade, administrativos e regulatórios, armazenagem e transporte."
"O Butantan, portanto, se responsabiliza por todas as etapas que se referem à vacina, e entrega o produto pronto no armazém do Ministério da Saúde. O Instituto Butantan mantém vários canais abertos com a sociedade civil, órgãos públicos e de controle, respondendo a todos os questionamentos desde o início do processo, com o intuito de colaborar com o aumento da transparência tão necessária neste momento do país", continuou.
A declaração de Bolsonaro vem dias depois de uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelar que, em reunião fora da agenda, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello negociou a CoronaVac com intermediários pelo triplo do preço.
Na ocasião, o Butantan disse que é a representante oficial da CoronaVac no Brasil não há intermediários autorizados para negociar o imunizante. O mesmo foi dito pela SInovac, em nota divulgada no dia 18 de julho.
"A vacina contra Covid-19 CoronaVac é desenvolvida, fabricada e distribuída pela Sinovac Ltd. No Brasil, apenas o Instituto Butantan, nosso parceiro exclusivo, pode comprar a CoronaVac. Qualquer informação divulgada por qualquer empresa sem autorização da Sinovac não tem qualquer importância legal", disse a nota.
Ataques à CoronaVac
Na entrevista, Jair Bolsonaro voltou a fazer ataques à CoronaVac, colocando em dúvida a eficácia da vacina mesmo sem apresentar provas. Ao ser questionado se aceitaria a oferta da Sinovac para comprar as vacinas por US$ 5, o presidente disse que muitas pessoas estão recusando o imunizante nos postos de saúde, embora os relatos desta prática sejam de algumas ocorrências pontuais.
Bolsonaro ainda voltou a mentir sobre o imunizante não ter comprovação científica, e afirmou que a eficácia da CoronaVac "está lá embaixo" e que ela tem dado problemas "em muitos países", devido aos casos de reinfecção. Contudo, a vacina não impede a infecção pela doença, e sim, evita que a covid-19 evolua para um caso grave.
"Não adianta comprar X milhões desta vacina se o povo não quer tomar", disse Bolsonaro, que ao longo da pandemia tentou desacreditar a CoronaVac por diversas vez, inclusive vetando uma compra acertada entre Ministério da Saúde e Butantan no último trimestre de 2020. Na ocasião, ele falou em "vacina chinesa do Doria", referindo-se ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político.
As vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil foram autorizadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em caráter definitivo —caso da Pfizer e da AstraZeneca — ou de forma emergencial —como a CoronaVac e a Janssen. Todas elas passaram por avaliações do órgão regulador que comprovaram a sua eficácia, qualidade e segurança, após testes clínicos com milhares de pessoas.
A CoronaVac apresentou eficácia geral de 50,38% para prevenir casos de covid-19, 78% para prevenção de casos leves e 100% para casos moderados e graves da doença.
Nos testes, realizados com 13.060 pessoas, nenhum voluntário vacinado contraiu uma forma grave da covid-19 se contaminado. As taxas de eficácia do imunizante são semelhantes às verificadas em vacinas que já fazem parte do PNI (Plano Nacional de Imunização), como a da gripe.
Apesar da declaração de Bolsonaro de que a população não quer receber a CoronaVac, segundo dados do Ministério da Saúde, das 128,4 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 já aplicadas no Brasil, 38,8% foram doses da CoronaVac.
A vacina chinesa envasada pelo Butantan deu a largada na campanha de vacinação contra o coronavírus no Brasil em 17 de janeiro deste ano. O Butantan já entregou 57,6 milhões de doses da CoronaVac ao Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde e promete totalizar 100 milhões de doses do imunizante entregues à pasta até o final do mês que vem.
*Com informações do Estadão Conteúdo e da Reuters
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