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4 coisas que ainda não sabemos sobre as vacinas contra a covid-19

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Lívia Inácio

Colaboração para VivaBem

23/07/2021 04h00

A busca pela vacina contra a covid-19 impulsionou avanços científicos em tempo recorde: a produção de conhecimento foi uma das maiores da história recente em todo o mundo. Mesmo assim, há ainda muito a ser desvendado quando o assunto é o Sars-CoV-2 e suas vacinas.

Não sabemos, por exemplo, por quanto tempo ainda vamos conviver com o vírus, ou por quanto tempo nossa imunidade contra ele pode durar. Enquanto a pandemia não chega ao fim, a ciência concentra esforços na solução de alguns desses mistérios. Veja quatro perguntas que ainda precisam ser respondidas pelos especialistas:

vacinação - iStock - iStock
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Duas doses serão suficientes para imunizar?

Sim, mas ainda não está claro por quanto tempo essa proteção conferida pelas vacinas pode durar. Um estudo publicado na revista Nature, por exemplo, apontou que as fórmulas dos imunizantes de Moderna e Pfizer, que utilizam a tecnologia do RNA mensageiro, podem gerar imunidade duradoura, mas o período exato de cobertura ainda segue indefinido.

O biomédico Diego Tanajura, professor do Departamento de Educação em Saúde da UFS (Universidade Federal do Sergipe), acredita que outras vacinas provavelmente tenham esse mesmo efeito de longo prazo, mas é importante aguardar mais estudos para ter certeza.

Mas a aplicação de novas doses não está totalmente descartada. A Pfizer já anunciou que o nível de anticorpos começa a cair após seis meses da aplicação e, embora a proteção contra casos graves ainda se sustente, talvez seja necessária a aplicação de uma terceira dose —especialmente frente às novas variantes, que não param de surgir pelo mundo.

E, mais recentemente, um estudo em pre-print e feito apenas em laboratório (ou seja, que ainda não foi revisado pelos colegas acadêmicos e considerado ainda preliminar) mostrou que a vacina da Janssen, de dose única, parece ter menos eficiência frente à variante Delta, e talvez necessite de mais uma dose de reforço também.

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As vacinas atuais protegem contra todas as variantes?

Por enquanto, sabemos que todos os imunizantes distribuídos no Brasil conseguem evitar a forma grave e a morte pela covid-19 causada pelas quatro variantes de preocupação já identificadas.

A preocupação mais recente, no entanto, atende pelo nome de variante Delta, considerada extremamente contagiosa. Não é para menos: estudos mostram que em Israel, por exemplo, a taxa de eficácia dos imunizantes contra a covid-19 sintomática leve caiu em torno de 20%, segundo Tanajura.

De qualquer forma, o surgimento de novas cepas tem levado especialistas a acreditarem que a vacina precise ser reaplicada periodicamente para evitar novos surtos da doença. A cidade de São Paulo, por exemplo, já anunciou que pretende fazer isso a partir de janeiro de 2022.

Segundo a bióloga Patrícia do Rocio Dalzoto, professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), se uma variante sofrer mutações que alterem suas proteínas de superfície, em geral reconhecidas pelos anticorpos produzidos após a imunização, será necessário atualizar as fórmulas.

"É o que acontece com a vacina contra a gripe, atualizada todos os anos", exemplifica.

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Quando as crianças serão vacinadas?

Embora não exista uma data prevista para a vacinação das crianças no Brasil, a ciência está perto de chegar a um parecer final sobre a segurança dos imunizantes entre esse público. Segundo Tanajura, a Pfizer foi aprovada para quem tem entre 12 e 15 anos, e já existem testes verificando a viabilidade da aplicação em outras faixas etárias.

A CoronaVac também está avançada e estudos de fase 1 e 2 mostram que, dos 3 aos 17 anos, ela é segura e capaz de gerar anticorpos. "O próximo passo é finalizar os testes de fase 3 e, se tudo der certo, iniciar a imunização", diz o especialista.

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Quando vamos atingir a imunidade coletiva?

Infelizmente, a pergunta de um milhão de dólares permanece em aberto. Os cientistas acreditam que entre 70% e 80% da população do mundo precisa estar vacinada para controlarmos a pandemia. Mas isso pode variar de acordo com o número básico de reprodução da doença, o chamado R0.

O coronavírus de Wuhan, por exemplo, tinha um R0 de 3 —o que significa que cada pessoa era capaz de passar o vírus para mais três indivíduos. Nesse caso, eram necessários 66% de vacinados para controlar a situação. Já a variante Delta apresenta um R0 de 6. Nesse caso, estima-se que seja necessário 83% das pessoas vacinadas para atingir a imunidade coletiva.

No entanto, como nenhuma vacina é 100% eficaz, alguns especialistas estimam que, diante de variantes como a Delta, o ideal seria ter pelo menos 98% de indivíduos vacinados —o que é, sem dúvida, um grande desafio tanto regional como mundialmente.

Outra questão importante é que a imunidade de rebanho, como também é conhecida, pode não ser permanente mesmo após ser alcançada. Se uma região do mundo não conseguir parar o contágio, as chances de que o vírus continue mutando são altas —e novas variantes podem, a qualquer momento, conseguir vencer a barreira imposta pelas vacinas.

É por isso que a vacinação deve ser encarada como meta coletiva e não individual. "Vejo muitos falando em tomar várias doses para se proteger, mas a melhor forma de salvar a si mesmo e sua família é incentivar a imunização de todos e assim reduzir a transmissão", defende Mauro Tamessawa, infectologista e professor de medicina da UP (Universidade Positivo).

Em resumo: quanto mais gente longe do vírus, mais perto estaremos de uma luz no fim do túnel.