Desenha enquanto fala ao telefone? Entenda essa estratégia do cérebro
Resumo da notícia
- Desenhos produzidos inconscientemente podem servir para memorizar e recordar conversas
- Eles ajudam a manter o foco na fala do interlocutor e são uma reação motora a algo estimulante
- Ao contrário dos desenhos criados de forma racional, são muito mais íntimos e complexos
Rostos, formas geométricas, animais, figuras incompreensíveis. São tantas as possibilidades de interpretarmos no papel o que escutamos ao telefone. Geralmente, só damos conta da "arte" produzida após encerrarmos a ligação ou rabiscarmos com caneta o que não devíamos, como correspondências, bordas de livros, documentos e até exames médicos deixados por perto.
Os especialistas ouvidos por VivaBem sugerem algumas hipóteses para esse comportamento involuntário e, portanto, inconsciente. Poderia, por exemplo, ter a ver com a memória de procedimento, ou implícita, que armazena informações por meio de estratégias não verbalizadas, mas adquiridas por habilidades, procedimentos (motores, sensitivos e intelectuais) e hábitos repetidos constantemente.
"Às vezes, para armazenar uma informação, quanto mais coisas são associadas, como desenhar automaticamente ao telefone, mais fácil é para o cérebro resgatar essa memória depois. Nesse caso, é só pegar o papel e se lembrar do que foi conversado com determinada pessoa", explica Fellype Freitas, psiquiatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Prática melhora a concentração
Em chamadas muito longas e sem contato visual, apenas com voz, é mais fácil nos sentirmos entediados ou desconcentrados. Nesse cenário, desenhar poderia funcionar como uma maneira encontrada pelo cérebro de se manter ocupado e estabelecer foco no assunto do interlocutor. A mente pode até vaguear, mas sobre o que está sendo apresentado, e não a respeito do que está ocorrendo em volta, como na TV, na janela ou mesmo nas redes sociais.
"É uma forma de se manter no presente e direcionar a atenção ao que está sendo dito, na medida em que se produz um material lúdico e interativo", acrescenta Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista mestre em psicologia clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e professora no CEP/SP (Centro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo).
Também é uma reação motora a uma experiência que pode ser muito empolgante ou cause expectativa e ansiedade. Malzyner compara com o caso de pessoas que falam ao telefone, mas andando de um lado para outro, o que ainda segundo ela também é uma forma de se manter atento ao que está sendo falado. Acontece quando recebemos estímulos incompletos, nos quais não são utilizados todos os sentidos, e o cérebro busca encontrar lógica e regular as emoções.
Desenhos revelam sobre nós
Desenhar sem se dar conta parece algo sem grande importância, mas nos permite estabelecer uma conexão com o nosso eu interior, como num exercício de imersão. Ele imprime percepções, sentimentos e até reações e características da personalidade no papel, a respeito do que estamos vivendo ou imaginando sobre o que ocorre do outro lado da linha, com o outro (sua situação, seus pensamentos e expressões), e a realidade circundante naquela experiência.
"Desenhos são formas de expressão e quanto mais falantes durante as interlocuções, mais detalhados são, pelo menos é o que observamos com crianças", informa Marcia Almeida, doutora em educação e contemporaneidade pela Uneb (Universidade do Estado da Bahia). Segundo ela, as formas atribuem significados que nem sempre são compreendidos por parâmetros adultos, que muitas vezes se preocupam mais com o resultado de uma imagem produzida do que com todo o processo de elaboração".
Mesmo sem perceber, até os traços mais simples, feitos às pressas, transmitem um sentido meditativo específico, de acordo com o que está sendo conversado. É diferente de quando se desenha de maneira racional. Durante uma atividade artística, busca-se um passatempo ou representar o que se gosta ou vê e o objeto em questão geralmente é neutro ou não carrega um significado emocional tão forte. Desenhos de telefone são inconscientes e profundos.
Conheça alguns do mais comuns e examinados e compare com o que você registra no papel:
- Bonecos de palitinhos: representações humanas bem básicas, podem sugerir que o humor do autor esteja oscilante e que ele não esteja num bom momento para conversar. Desenhos muito pequenos indicam introspecção, vulnerabilidade e desejo de escapar de afazeres;
- Formas geométricas: carregam diversos sentidos. Quadrados e triângulos de que a pessoa está falando o que pensa e com bastante determinação. Círculos teriam a ver com empatia e sociabilidade, e espirais, com momentos criativos, confusos ou que precisam ser contornados;
- Partes do corpo: olhos, principalmente grandes, podem denotar busca por uma solução específica. Quando direcionados para a direita, indicam futuro, sonhos; para esquerda, passado, recordações. Já bocas ou lábios estão relacionadas a desejos, fala reprimida e até risadas. Sobrancelhas arqueadas, com desconfiança, mas também erotismo, dramaticidade;
- Elementos da natureza aleatórios: quando são bichos pode ser tratar de uma identificação, como leão = valentia. Ondas do mar, com desejo de mudanças, de se mexer no lugar; estrelas, com sucesso, exibicionismo; natureza (flores, árvores, sol sorrindo), com alegria e satisfação;
- Assinaturas: relacionam-se com o ego, mas a análise depende do estilo. Grandes e largas, com extroversão; do contrário, introversão. Inclinadas podem indicar necessidade de contato com o outro. Com ornamentos, interesse em seduzir. Traços rígidos, com poder, firmeza. As legíveis, com facilidade de se expor, e as ilegíveis e riscadas por cima, com insegurança e não aceitação.
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