Culpa do DNA? Doenças comuns no idoso podem passar de pai para filho?
Hereditariedade é a transmissão de características de ancestrais para seus descendentes por meio dos genes. Ela influencia desde a cor dos olhos à predisposição ou existência de doenças.
No que compete às doenças que são comuns nos idosos por frequência de diagnósticos —mas não exclusivas a eles—, os genes têm sua parcela, mas elas também são adquiridas e pioram ao longo da vida devido às escolhas próprias poucos saudáveis e fatores ambientais e que incluem tabagismo, etilismo, obesidade, exposição à radiação, poluição, dieta imprópria, entre outros.
"Em se tratando de doenças cardíacas, nem todas são hereditárias, mas a genética pode influenciar profundamente o sistema cardiovascular e afetar muitos dos fatores de risco", explica João Vicente, doutor em cardiologia e médico do InCor (Instituto do Coração) da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Ele cita como hereditárias as cardiomiopatias (doenças que afetam o músculo cardíaco), canalopatias (que causam distúrbios no ritmo cardíaco), doenças da aorta, síndrome e distúrbios do metabolismo do colesterol e outras anomalias que podem ser silenciosas e só serem diagnosticadas tardiamente, após um infarto ou AVC (acidente vascular cerebral).
"Não temos como precisar com exatidão quantas gerações podem persistir com os genes desfavoráveis, porém sabemos que a relevância tem redução com o passar de cada geração. Vale lembrar que somos combinações genéticas e em cada geração novas combinações podem ocorrer", ressalta Ricardo Nishimori, mestre em ciências nutricionais pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e médico da família na Clínica Personal, da Central Nacional Unimed.
Para além do coração...
No Brasil, as duas principais causas de mortalidade em idosos são as doenças cardiovasculares e as neoplasias, que englobam todo crescimento acelerado de tecido e podem resultar em câncer.
A maior parte dos tumores é esporádica, isto é, sem correlação com herança genética, mas estima-se que de 5% a 10% tenham e ainda existem alguns fatores genéticos que tornam determinadas pessoas mais sensíveis à ação de agentes ambientais que causam o câncer.
"Chamamos de síndromes de câncer hereditário. Nesses casos, geralmente se observa o surgimento de tumores mais precocemente, maior risco de aparecimento de novos tumores ao longo da vida e comumente história familiar de câncer", aponta Renata Velame, oncologista e oncogeneticista do HP (Hospital Português da Bahia), em Salvador.
Múltiplos genes influem na suscetibilidade de se apresentar cânceres de mama, próstata e ovário —e que estão entre os mais comuns em idosos. Mas, de novo, o câncer é uma doença multicausal e a própria idade acima de 60 anos é fator de risco para seu desenvolvimento.
Em se tratando de outras doenças, como hipertensão, diabetes mellitus, osteoporose, artrose e Alzheimer, também são influenciadas pela herança genética e pelo estilo de vida.
"Sabemos que o fator genético é bem relevante na grande maioria das doenças neurológicas, como Coreia de Huntington, Parkinson e Alzheimer precoce, que aparece antes dos 65 anos", informa o neurocirurgião Júlio Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia).
O peso dos hábitos
Doenças relacionadas a mutações genéticas patogênicas geralmente ocorrem de forma agressiva, ou ainda incomum quando comparadas aos casos não-hereditários.
"Quando o componente hereditário é bem forte, a manifestação tende a aparecer mais em pacientes jovens, antes dos 60 anos", complementa Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Também nem sempre uma pessoa com histórico familiar favorável a doenças irá desenvolvê-las. No Parkinson, apesar de quem tem parentes de primeiro grau, como pai, mãe ou irmãos, o risco de se desenvolver é dobrado, o número ainda assim é considerado baixo, gira em torno de 1 a 1,5% dos casos gerais.
Para doenças cardíacas é importante saber com precisão a idade dos parentes próximos que apresentaram infarto agudo do miocárdio, por exemplo, pois, os médicos consideram que acima de 55 anos para homens e 65 anos para mulheres a hereditariedade é pouco relevante.
Quando um número considerável de membros são portadores de uma mesma doença, deve se considerar a hipótese de exposição deles a uma causa comum. No caso dos tumores, tabagismo, dieta rica em carne vermelha, etilismo, obesidade, sedentarismo, exposição solar exacerbada e até infecções virais, como as por HPV e Epstein-Barr podem aumentar o risco.
No Alzheimer, a mesma coisa. Havendo um ou mais casos na família, alguns genes que podem ser herdados dos pais podem acabar associados a outros motivos, como idade avançada, falta de exercício mental, hipertensão, diabetes, colesterol alto (alguns dos fatores relacionados a hábitos considerados modificáveis) e aumentar a probabilidade de desenvolver a doença.
O que fazer e como diagnosticar?
É importante levar em consideração se há patologias com fundo hereditário e, em caso positivo, prevenir e prestar atenção aos fatores que contribuam, pois como já citado o meio é capaz de mudar o funcionamento dos genes e levar a muitas alterações.
Há casos, como na Síndrome de Marfan, relacionada a problemas cardiovasculares principalmente na fase adulta e em idosos, em que os descendentes dos pacientes requerem acompanhamento regular.
No que compete a tumores, idem. Desta forma podem ser tomadas medidas de redução de risco, como uma cirurgia preventiva em relação ao câncer de mama e ovário, por exemplo.
Pereira e Velame citam que existe a indicação de testes genéticos e exames precoces de acordo com as doenças relatadas e os próprios médicos dentro de suas especialidades se responsabilizam por quando iniciar e com que intervalo as avaliações deverão ser realizadas.
"Para descobrir se existe um quadro de osteoporose em desenvolvimento, é preciso fazer densitometria óssea (exame para determinar perda de massa óssea) regularmente. Se existe qualquer deformidade mecânica, como um joelho mais aberto, uma pisada diferente, também é importante cuidar o quanto antes para não haver desgaste precoce de articulação", sugere Alexandre Stivanin, ortopedista da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia).
"A questão do Alzheimer ser hereditário não altera de forma pontual as orientações e condutas médicas. A orientação para todos os pacientes, independente do histórico familiar, é o cuidado com um estilo de vida", informa Nishimori.
Sempre que houver dúvidas, temores ou indícios a respeito de uma predisposição hereditária, procure um especialista.
Após os 60 anos, visitas ao geriatra devem ser, no mínimo, anuais, pois a partir dessa fase inicia-se o declínio das funções.
Como o organismo diminui a produção e a absorção de muitas substâncias é preciso manter uma dieta balanceada, praticar atividades físicas, exercitar o cérebro e, eventualmente, com prescrição, se medicar e se suplementar.
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