Vacinas não causam autismo nem doenças; conheça 9 mitos sobre imunização
É graças às vacinas que muitas doenças estão erradicadas (caso da varíola) ou mantidas sob controle (como a poliomielite) ao redor do mundo. Consideradas desde o século 20 as principais aliadas na prevenção de cerca de 30 enfermidades, elas também são as grandes responsáveis pelo aumento na expectativa de vida ao nascer. No Brasil, entre 1940 e 1998, o ganho foi de cerca de 30 anos.
Mesmo assim, são muitos os mitos e notícias falsas ligados ao tema, movimento que ganhou ainda mais força com a pandemia e os imunizantes desenvolvidos de forma emergencial para combater o novo coronavírus.
Para se ter uma ideia, um levantamento produzido pela União Pró-Vacina, grupo de instituições ligadas à USP (Universidade de São Paulo) Ribeirão Preto, identificou aumento de 383% em postagens com conteúdo falso ou distorcido envolvendo a vacina contra a covid-19 entre maio e junho de 2020.
A seguir, desmistificamos nove mitos envolvendo vacinas. Confira:
1. Vacina causa autismo?
Não. Essa crença surgiu porque, em 1998, um estudo realizado pelo médico inglês Andrew Wakefield, e publicado na conceituada revista científica The Lancet, associou a vacina tríplice viral, utilizada no combate ao sarampo, caxumba e rubéola, ao transtorno do espectro autista. A explicação que ele deu foi a de que o imunizante causava inflamações intestinais nas crianças e, a partir disso, desencadeava um processo no cérebro que levava ao autismo.
O caso provocou rebuliço no mundo todo e fez as taxas de vacinação despencarem, sobretudo na Europa. Mais tarde, no entanto, descobriu-se que houve fraude na pesquisa e o autor foi criminalmente responsabilizado e teve o registro médico cassado. O artigo foi retirado dos arquivos da publicação. Posteriormente, inúmeros trabalhos concluíram que a relação entre o transtorno e as vacinas não existe.
2. Vacina é feita com feto humano abortado?
Não. As vacinas de vírus inteiros de fato precisam ser "cultivadas" em células com rápida capacidade de multiplicação, como as embrionárias, e que podem ser de animal (incluindo de humanos) ou vegetal.
Na década de 1960, cientistas retiraram algumas células de poucos fetos de abortos legais e as replicaram em laboratório para a realização de estudos. Ao longo do tempo, elas se multiplicaram e geraram novas linhagens, sendo utilizadas até hoje na produção de vacinas e também de medicamentos.
Mas, atenção: é importante dizer que as gestações não foram interrompidas para fornecer material para pesquisa científica e não existe uma rede de aborto focada em retirar bebês do útero para esse fim.
Além disso, as células em questão servem apenas para cultivar os vírus contra os quais a vacina vai agir e os imunizantes passam por processos de purificação que eliminam possíveis vestígios de células embrionárias.
3. Vacinas garantem menos imunidade do que pegar a doença?
Não. As vacinas são preparadas especialmente para ativar o sistema imunológico e fazê-lo produzir os anticorpos necessários para combater algumas doenças específicas. Sendo assim, ao ser "invadido" por vírus ou bactéria no futuro, o corpo estará pronto para combatê-lo.
Esse mecanismo gera uma resposta similar à das infecções naturais, com a vantagem de que não faz a pessoa adoecer e nem a expõe aos riscos de possíveis complicações e morte.
Vale lembrar que, mesmo conferindo imunidade efetiva, alguns imunizantes precisam ser reaplicados ao longo da vida e, dependendo da doença, o indivíduo pode adoecer mais de uma vez, mesmo que já tenha apresentado infecção prévia.
4. Vacina da gripe causa gripe?
Não. A vacina da gripe (causada pelo vírus influenza) usa o microrganismo inativado em sua composição, incapaz de provocar a doença.
No geral, os sintomas que a pessoa apresenta logo após receber a dose são provenientes de algum problema que já estava incubado, podendo ser a própria gripe. E são duas as explicações para isso: a temporada de circulação do patógeno é também a de vários outros vírus respiratórios, aumentando as chances de adoecer.
Além disso, a vacina leva cerca de 15 dias para fazer efeito e produzir os anticorpos desejados, o que significa que antes disso ainda é possível se contaminar.
5. O mercúrio presente nas vacinas é perigoso para a saúde?
Não. Algumas vacinas multidose (com mais de uma dose por frasco) têm na sua composição o timerosal, um composto orgânico que contém mercúrio e é usado como conservante. Mas a concentração é baixíssima e ele é eliminado rapidamente pelo organismo, sem riscos à saúde —a própria OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o uso na fabricação dos imunizantes.
Já se especulou também que o mercúrio presente no timerosal poderia causar autismo em crianças, devido a quantidade supostamente excessiva recebida nos primeiros meses de vida. Mas nenhum estudo jamais comprovou essa relação. Mesmo em locais onde a substância foi retirada das vacinas (como Dinamarca e Califórnia, nos EUA), os casos de autismo não só não caíram como aumentaram.
6. Tomar mais de uma vacina no mesmo dia sobrecarrega o sistema imunológico?
Não. Algumas vacinas, como as compostas por microrganismos inativados ou mortos e as combinadas (contra mais de uma doença), podem ser administradas no mesmo dia. É um procedimento normal e previsto no PNI (Programa Nacional de Imunização) —bebês, por exemplo, chegam a receber no primeiro ano de vida até oito imunizantes diferentes simultaneamente.
Os especialistas garantem que isso não sobrecarrega o sistema imunológico, não traz riscos à saúde e que uma vacina não interfere na outra.
As únicas que não devem ser aplicadas juntas são as feitas de vírus vivo atenuado, como febre amarela, tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), varicela (catapora) e tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela). Essas precisam de um intervalo de 30 dias entre uma e outra.
7. A vacina aplicada nas clínicas particulares é melhor do que a dos postos de saúde?
Não. As vacinas aplicadas em clínicas particulares e postos de saúde costumam apresentar diferenças em temos de formulação e tecnologia empregadas, o que pode ter reflexo nos possíveis efeitos adversos, tornando-os menos ou mais intensos. No entanto, todas são seguras e têm eficácia similar.
Vale reforçar que os serviços privados também oferecem uma lista mais extensa de imunizantes do que o SUS (Sistema Único de Saúde). Além disso, a vacinação realizada nos postos segue as diretrizes do PNI, que visa a saúde e a imunização coletiva, enquanto a das clínicas particulares, determinada pela SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), visa a proteção individual.
8. Vacinas contra a covid-19 não são seguras porque foram desenvolvidas rapidamente?
Não. Várias das metodologias empregadas na produção das vacinas contra a covid-19 são conhecidas e usadas há muito tempo no mundo todo, como o uso de vírus inteiros inativados. Outras têm sido estudadas ou já estão sendo administradas em certos países há alguns anos —caso do RNA mensageiro (ou mRNA).
A agilidade no desenvolvimento se deu porque o planeta enfrentou uma ameaça sem precedentes e que exigiu uma resposta rápida. Também é importante reforçar que todos os imunizantes aprovados de forma emergencial para uso contra o novo coronavírus passaram obrigatoriamente por rígidos testes e seguiram todas as etapas necessárias, algumas delas realizadas em humanos, para confirmar tanto a segurança quanto a eficácia, e os dados obtidos foram avaliados por especialistas independentes e entidades regulatórias.
9. Vacina contra a covid-19 altera o DNA?
Não. A vacina de RNA mensageiro não tem a capacidade de provocar alterações genéticas. Antes de explicar o porquê, é preciso entender como esse imunizante atua: ao invés de conter vírus atenuado ou inativo na formulação, ele carrega o código genético do patógeno (o RNA), cuja função é fazer com que as células sintetizem uma proteína que estimula a resposta imunológica do corpo em caso de ataque.
Todo esse processo acontece no citoplasma das células e não no núcleo, onde fica o DNA humano. Além disso, o RNA se degrada rapidamente no organismo, não sendo incorporado pelo corpo, o que significa que ele não provoca qualquer interferência no nosso código genético.
Fontes: Flávia Velger Cohen, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Quinta D'Or e presidente da Câmara Técnica de Infectologia dos hospitais do Rio de Janeiro (Regional RJ); Maria Fernanda Reis e Silva Thees, gerente de avaliação de produtos biológicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); Paulo Sérgio Ramos, médico infectologista e chefe do DIP (Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias) do Hospital das Clínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco); e SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
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