'Minha tosse incomodava colegas de trabalho', conta paciente com asma grave
Durante anos, a aposentada Sandra Humel, 51, sofreu com falta de ar e uma tosse persistente que causava incômodo não só a ela, mas também aos colegas de trabalho, com quem passava a maior parte do tempo. Na pior fase, ela tinha dificuldades para fazer coisas básicas do dia a dia, como levantar da cama e tomar banho. Sandra já sabia que tinha asma, mas não uma asma grave, o que fez toda diferença quando isso foi constatado: recebeu o tratamento correto e passou a ter uma vida normal novamente.
"A primeira vez que apresentei um problema pulmonar foi aos 40 anos de idade. Acordei um dia com um mal-estar como se fosse uma gripe, tive febre, tosse, secreção e falta de ar, fui para o hospital e descobri que estava com pneumonia.
Recebi alta e fiz o tratamento em casa, mas com o passar dos dias percebi que continuei tossindo muito e com bastante secreção. Procurei um pneumologista, fiz alguns exames, mas não foi constatado nada de diferente. O médico me passou alguns remédios, melhorava um pouco e depois voltava a piorar, principalmente em época frias, como outono e inverno.
A tosse era constante, tossia o dia todo e notava como isso incomodava meus colegas de trabalho. Era constrangedor. Às vezes ia até o banheiro para tossir e tirar a secreção. Minha mesa vivia lotada de mel, xaropes naturais, bala de hortelã, de menta.
As pessoas eram sutis nos comentários, mas percebia um desconforto: 'Nossa, você está ruim, não para de tossir', e aí me traziam alguma coisa para tentar aliviar, mas não adiantava.
Dois anos depois da pneumonia e da tosse que não cessava, comecei a sentir uma leve falta de ar quando subia uma escada, uma rua mais íngreme, quando andava mais rápido. Fui levando até que um dia fui tomar banho e senti muita falta de ar.
Cheguei ao hospital com a saturação muito baixa, 82%, precisei de oxigênio e fiquei internada. Essa foi a primeira das 12 internações que tive com crises de asma. Foi ali que eles identificaram a doença.
A asma não tem cura, mas tem controle, os médicos queriam descobrir qual era a causa para indicar o melhor tratamento e foi justamente essa a maior dificuldade. Durante cinco anos, fiz todos os tipos de exames e passei em sete pneumologistas, alergista, gastroenterologista e até infectologista em busca dessa resposta.
Enquanto não encontrava, fui levando minha vida da melhor maneira possível mesmo com a doença dificultando meu dia a dia. Na vida social sofri alguns impactos, não me divertia mais como antes quando ia às festas, não dançava e ficava a maior parte do tempo sentada. Também diminui o ritmo de passeios após passar mal em uma viagem que eu e meu marido fizemos para Porto Seguro (BA).
Outra parte ruim era ficar internada, não gostava de hospital, só ia quando não estava aguentando mais. Por exemplo, o certo era tomar medicação três vezes ao dia, mas tomava quatro ou cinco por conta própria para tentar me manter minimamente estável para conseguir cumprir minhas obrigações.
No início, os sintomas foram brandos, tossia, sentia falta de ar e ficava cansada quando falava um pouco mais durante os treinamentos e as reuniões que participava no trabalho. Mas, com o tempo, a situação foi piorando de forma geral.
Na pior fase da doença, dormia sentada com três travesseiros para poder respirar. Levantar da cama, ir até o banheiro, tomar banho, varrer a casa eram coisas que me exigiam muito esforço e que às vezes eu nem conseguia fazer. Já precisei da ajuda do meu marido para me trocar, por exemplo.
No trabalho, ficava praticamente 8 horas sentada, fazia meu horário de almoço na mesa para não ter que levantar, meus colegas me traziam a marmita, carregavam a minha mala com o computador e eu faltava muito por conta das internações.
A empresa foi vendo minhas limitações e adequando as funções. Parei de fazer treinamentos, não participava mais de tantas reuniões, e trabalhei de casa por um período.
Sempre fui uma pessoa calma, paciente, nunca fui de ficar reclamando, acho que isso me ajudou a lidar com a doença. O apoio e cuidado do meu marido, da família, dos amigos e da empresa foi importante, mas saber que de alguma forma causava um incômodo para eles me chateava.
Em 2019, meu pneumologista me diagnosticou com asma grave. Segundo ele, o diagnóstico foi feito com base na quantidade de medicação que eu precisava para controle da doença. Estava com a dose otimizada de vários remédios e isso já seria suficiente para controlar a asma leve, o que não aconteceu comigo.
Vivia em crise, continuava com falta de ar, tosse, chiado no peito, tinha limitação para fazer exercícios. Além disso, tive várias internações seguidas e fazia uso sistêmico de corticoide.
A partir do momento que a minha asma foi classificada como grave, o médico me indicou tratamento com imunobiológico e meu corpo respondeu super bem. Parei com todos os sintomas e não tive mais crises. Tomo injeção uma vez por mês e faço acompanhamento periódico.
Passei a ter uma vida normal e fiz algumas mudanças em busca de mais equilíbrio. A primeira delas foi me aposentar. Tinha um ritmo de trabalho intenso, juntando com os problemas que tive por causa da asma ao longo dos anos, o processo se tornou extremamente cansativo.
Como já tinha tempo de contribuição, decidi me aposentar para ter mais qualidade de vida. Também mudei para uma casa de campo com piscina no interior de São Paulo e tenho desfrutado de tudo que posso. Nado, caminho 4,5 km por dia, durmo deitada, limpo a casa.
Sentir o ar entrando no pulmão sem dificuldade e sem ajuda é maravilhoso. Sou grata por respirar, respirar é vida, é leveza, é felicidade".
Entenda a asma grave
A asma é uma inflamação dos bronquíolos, que são os "canais" que levam o ar até os alvéolos, locais em que ocorrem as trocas gasosas. Como esses "canais" ficam inflamados e inchados, a passagem do ar fica prejudicada, dificultando a entrada e saída de ar dos pulmões.
A asma é classificada em leve, moderada e grave, não tem cura, mas tem controle. Os principais sintomas são falta de ar, desconforto respiratório, chiado no peito e dor no peito (opressão torácica) quando não está controlada.
A asma leve é quando o paciente utiliza a medicação padrão para controle, que é uma dose baixa do corticoide inalatório ou até o corticoide associado inalatório associado a um broncodilatador de longa duração, mas ambos com dosagens mínimas. O paciente está controlado e segue sua vida normalmente.
O diagnóstico da asma grave também leva em consideração a quantidade de medicamentos para controle. Quanto mais remédios, mais grave ela é. Na asma grave, a pessoa utiliza o corticoide inalatório em dose alta, associado a um broncodilatador e uma terceira medicação e, mesmo assim, ela continua entrando em crise.
Nesses casos, é comum que a pessoa procure a emergência com mais frequência, necessite ficar internada com regularidade, inclusive na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Esses pacientes também podem ter dificuldades no dia a dia, como tomar banho, caminhar ou arrumar a cama. No entanto, é importante esclarecer que é possível ter uma asma grave controlada.
Segundo a SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), a asma grave pode causar ataque súbito acompanhado com parada respiratória. Na maioria dos casos, os sintomas aparecem com mais de um dia de evolução e se devem à associação de fatores como falta do uso de medicamentos de controle, falta de adesão ao tratamento e de consultas regulares com o médico para seguir um plano de ação em caso de crises.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2019, 262 milhões de pessoas no mundo viviam com asma, sendo que de 5% a 10% desses pacientes têm asma do tipo grave. No total, ocorreram mais de 46 mil mortes relacionadas à doença globalmente.
No Brasil, cerca de 20 milhões de pessoas convivem com diferentes formas da doença. A asma é a terceira ou quarta causa de hospitalizações pelo SUS (Sistema Único de Saúde), conforme o grupo etário, tendo em média 350 mil internações anualmente.
Fonte: Rafael Faraco, médico pneumologista da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia).
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