Somos atraídos por quem é parecido conosco ou com nossos pais?
Resumo da notícia
- Inconscientemente, buscamos nos outros uma série de características familiares
- O interesse tem a ver também com dificuldades iguais às passadas com os nossos pais
- Porém, biologicamente, por razões evolutivas e curiosidade, o diferente pode nos despertar interesse
Você já notou como existem casais em que os pares são tão parecidos (e não somente na aparência) que acabam confundidos com irmãos? Ou se estiver numa relação amorosa, como suas discussões tendem a ser semelhantes com as de seus pais, ou com as que tinha com eles? Em 1994, a Disney até acrescentou isso em "O Rei Leão". "Você começa a parecer o meu pai!", esbraveja Simba para Nala, sua companheira, no primeiro desentendimento entre os dois.
Pois essa curiosidade que o filme levantou, mas não aprofundou, a ciência tenta explicar. De acordo com estudos da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, publicados entre 2010 e 2018 no periódico científico Personality and Social Psychology, a partir de resultados obtidos em experimentos com voluntários, os pesquisadores demonstraram que o cérebro humano tende a se interessar, inclusive do ponto de vista sexual, pelo que lhe parece mais familiar.
"Muitas vezes, somos atraídos por alguém que é parecido conosco ou com nossos pais porque, de maneira inconsciente, reconhecemos uma série de características que herdamos e priorizamos", explica Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista em sexualidade pelo InPaSex (Instituto Paulista de Sexualidade). E sem a presença de quem amamos, a projeção do afeto e a atenção dada a esse "date" é ainda maior.
Atração também por conflitos
O interesse que alguém nos desperta tem a ver com seu físico, sua personalidade, suas expressões e falas (que podem remeter tanto a nós como a nossos pais), mas também atitudes específicas que nos desafiam pelas similaridades com outras que não foram muito agradáveis para nós. Pode parecer estranho, mas, de acordo com Perin, sentimos atração ou damos mais chances para relações que instigam situações difíceis iguais às passadas com os nossos pais.
Lembra-se de Simba já na fase adulta fugindo de suas responsabilidades como rei? Nesse sentido, seu relacionamento com Nala o ajudou a resgatar a figura de seu pai Mufasa e compreender seus puxões de orelha. "Todos nós saímos principalmente da primeira infância com algumas 'feridas' e, muitas vezes, essas relações novas, inconscientemente, nos possibilitam tentar resolver conflitos que ficaram para trás, recomeçar de onde paramos, para nos superarmos".
Nesse processo de "reparação", busca-se no outro por traços geralmente difíceis da mãe ou do pai e que se relacionam com reprovações, medos, ciúmes. "É uma questão que tem muito a ver com as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud", acrescenta Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista com mestrado pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Freud conceituou o complexo de Édipo para explicar que dos 3 aos 5 anos, as crianças competem com os pais do mesmo sexo e a partir daí suas relações e escolhas futuras são influenciadas.
Mas nem todos pensam igual
Baseada no processo de evolução humana para explicar comportamentos, percepções (o que inclui a beleza), identificação e seleção de parceiros, a psicologia evolucionista moderna, no entanto, propõe que todos (em maior ou menor grau) têm "repulsa", e não atração, por quem lembra a nós ou os nossos pais. Seu argumento é que adaptações psicológicas evolutivas nos fazem preferir as diferenças, visando genes saudáveis e a sobrevivência de nossa espécie.
São dois opostos, mas que se complementam e fazem muito sentido, opinam os especialistas. De acordo com eles, podemos buscar por pessoas parecidas numa tentativa de resolução de conflitos, mas do ponto de vista biológico, muitas vezes até por novidade, sentimos atração física e sexual por quem apresenta características bastante ou completamente diferentes das nossas. Mas em se tratando de interesses e posicionamentos divergentes, pode não dar certo.
É que ao contrário de quando existe alguma compatibilidade, mesmo que desafiadora, o inteiramente antagônico não só dificulta transpor questões preexistentes, como impulsiona outras novas, tornando o relacionamento difícil. "Mas, em psicologia, tudo é relativo, trata-se de subjetividade e vivências individuais. Há pessoas que podem buscar diferentes formas de se relacionar ou se limitam a viver o campo erótico e tudo bem", aponta Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves e com passagem pelo HC (Hospital da Cidade), em Salvador.
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