Remédios para enjoo podem causar inquietação e ansiedade; entenda o porquê
"Sensação de morte, pior sensação que já senti na minha vida. Arranquei o soro e saí que nem louca gritando que eu ia morrer." "Putz, eu me debatia na maca gritando 'eu preciso correr, preciso correr' enquanto tentava arrancar a agulha do meu braço com minha mãe."
Os relatos surgiram de um post feito no Twitter após uma internauta citar o remédio Plasil, utilizado para amenizar enjoos, e as histórias de quem teve um "surto".
Antes é preciso ficar claro que, na verdade, não é bem um "surto psicótico", mas sim o que os médicos chamam de "reação extrapiramidal", que são sintomas que geralmente aparecem em distúrbios ou doenças que comprometem o sistema neuronal —envolvido no controle do tônus e da postura.
Essa reação ocorre em cerca de 5% da população e entre os principais sintomas estão os espasmos musculares, movimentos involuntários nos olhos e na língua, rigidez muscular, dificuldade para falar e andar, inquietação, ansiedade e nervosismo.
As principais "vítimas" são os que tomam antipsicóticos, principalmente os mais antigos, como o haloperidol (Haldol), mas os efeitos também podem aparecer, em menor escala, com drogas para combater náuseas, como a metoclopramida (Plasil) e a bromoprida (Digesan), além de outros tipos de medicamentos.
Na publicação feita na rede social, o médico psiquiatra e professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Luís Fernando Tófoli, explica que esse efeito ocorre principalmente quando o medicamento é injetado na veia.
"Não é um surto psicótico, mas uma crise de ansiedade aguda. É horrível, mas a pessoa não fica exatamente louca", disse. "Uns mais azarados vão ter esses efeitos também com o comprimido, mas é bem mais raro."
Mas por que isso acontece?
Primeiro, é preciso entender o termo "extrapiramidal". Os sistemas piramidal e extrapiramidal são cadeias de neurônios do Sistema Nervoso Central ligadas aos movimentos do corpo humano. O primeiro é responsável pela movimentação voluntária, por isso, lesões nesse sistema podem causar paralisia ou perda de força. Já o sistema extrapiramidal é responsável pela parte automática, ou seja, movimentos feitos sem pensar, como os necessários para falar ou caminhar.
"A reação extrapiramidal (ou sintomas extrapiramidais) diz respeito a sintomas que geralmente aparecem em distúrbios ou doenças que comprometem esse sistema neuronal, que está envolvido no controle do tônus e da postura", explica Francisco Paumgartten*, médico e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz).
Esse conjunto de neurônios se comunica com ajuda de neurotransmissores como a dopamina — entre as funções, está relacionada aos pensamentos, à liberação de prolactina (o que permite a amamentação) e aos movimentos.
Em pacientes com pensamentos psicóticos ou náuseas, esses medicamentos podem ser extremamente úteis. Mas certas pessoas podem ter, também, esses efeitos colaterais desagradáveis ao utilizá-los. Entretanto, o surgimento desses efeitos colaterais vai depender do medicamento, da dose e da suscetibilidade do paciente.
A boa notícia é que esses efeitos passam assim que a substância sai do organismo. A ruim é que muita gente demora para associar a manifestação aos remédios, inclusive médicos.
Como tratar a reação reação extrapiramidal
Quando a reação é grave, a conduta médica é administrar um antídoto, sendo o mais comum o biperideno, uma droga antiparkinson. Alguns médicos também usam sedativos ou benzodiazepínicos para aliviar os sintomas de inquietação até que o medicamento que causou a reação saia do organismo.
Se você já teve uma reação extrapiramidal, é importante citar a ocorrência em consultas e formulários médicos. Em caso de internações de emergência, os familiares podem fazer a observação para a equipe de atendimento.
Sempre que um paciente apresentar algum sintoma estranho após o consumo de qualquer medicamento é importante falar com o médico que fez a prescrição. Isso inclui sensações que a princípio não parecem ter relação com o tratamento, como ansiedade e agitação.
O que paciente também pode fazer
No caso de um remédio usado por conta própria, pode-se consultar o farmacêutico, ou buscar os centros de assistência toxicológica (Ceatox) de cada Estado. O Disque-Intoxicação, criado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atende pelo número 0800-722-6001.
A Anvisa também possui um sistema de farmacovigilância, que engloba atividades relativas à detecção, avaliação e prevenção de efeitos adversos e outros problemas ligados aos medicamentos. A notificação, pelos profissionais de saúde, é voluntária, mas os pacientes também podem enviá-las pelo Notivisa.
O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.
* Com informações de reportagens publicadas no dia 25/05/2018 e 25/05/2018.
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