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Somente a vacinação não deve parar a delta, diz epidemiologista britânico

O britânico também chamou a atenção para distribuição desigual de doses de imunizantes entre os países - Dado Ruvic/Reuters
O britânico também chamou a atenção para distribuição desigual de doses de imunizantes entre os países Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Colaboração para o VivaBem

17/08/2021 09h26Atualizada em 17/08/2021 12h12

O matemático e epidemiologista britânico Adam Kucharski, uma referência nas análises sobre os rumos da pandemia no mundo, prevê que "a vacinação por si só provavelmente não consegue parar a [variante] delta". Em entrevista ao jornal O Globo, ele também chamou a atenção para distribuição desigual de doses de imunizantes entre os países.

"As vacinas que apareceram são melhores do que a gente podia imaginar, tanto em termos de eficácia quanto no número [de opções]", disse. "E é realmente chocante que possamos acabar tendo mais mortes depois de a vacina ser inventada do que antes. Isso é algo que provavelmente poucas pessoas imaginariam lá atrás se soubessem quão boas essas vacinas seriam", completou.

O epidemiologista explicou que a variante delta, primeiramente identificada na Índia, elevou os padrões do que os países precisam fazer. E isso está além de vacinar em níveis muito elevados.

Segundo ele, o mundo começará a vivenciar uma divisão entre os países que quiserem retomar uma vida mais normal e aqueles que manterão medidas restritivas. Os primeiros, conforme Kucharski, deverão conviver com surtos de covid-19 como efeito colateral dessa decisão. Os demais, por outro lado, podem ter restrições por anos.

O britânico também explicou que, nesse momento, seria possível já ter vacinado todas as pessoas dos grupos de risco e todos os profissionais de saúde do mundo. Isso, no entanto, não aconteceu, devido a "uma série de escolhas dos países".

Kucharski lembrou que, com uma alta cobertura vacinal, por mais que ainda tenhamos que conviver com a doença, ela não será "catastrófica" como quando não tínhamos imunizantes. No entanto, com a quantidade de países que ainda enfrentam essa ameaça, a epidemia acaba sendo alongada e "dá incentivo para o vírus se adaptar e se espalhar, por meio de variantes, inclusive entre as populações vacinadas".

Perguntado sobre a situação do Brasil, que tem retomado as atividades em alguns estados e cidades mesmo com baixa cobertura vacinal, o britânico disse entender a dificuldade encontrada em "manter as restrições para sempre". No entanto, defende que os países tenham "flexibilidade na tomada de decisão", porque a delta pode espalhar rapidamente mesmo em locais que vacinaram muito, como no Reino Unido e nos EUA.

"Os países precisam ficar de olho na situação e estar preparados para mudar de direção se houver sinais de que é cedo para a reabertura", explicou.