Por que algumas pessoas choram de felicidade ou quando têm crise de riso?
Resumo da notícia
- O choro comunica e seu mecanismo é o mesmo na tristeza ou alegria, com sutis diferenças
- Além da influência psíquica e emocional, as lágrimas também podem vir de reações físicas
- Humanos são os únicos que choram de emoção, mas nem todos, e isso pode ser modulado
Bebês choram quando querem avisar aos pais que estão com fome ou desconfortáveis, eles não sabem falar. Já os adultos, quando tristes, aflitos ou com dor, choram quando tentam expressar e não conseguem segurar o que sentem —e isso sinaliza que precisam de amparo. Pode-se dizer então que o choro tem uma serventia evolutiva: ele comunica e fortalece os laços sociais pela sobrevivência.
Quando espontâneo, intenso ou muito bem encenado, causa empatia no outro. Mas não só se "beneficia" quem chora em público. Não há consenso, mas para alguns médicos, sobretudo psiquiatras, diferente dos repressores de angústias, quem chora "lava a alma" e libera tensão, estresse, dor, obtendo algum alívio para racionalizar melhor sua situação e tomar decisões.
Agora, chorar de rir ou de felicidade tem semelhanças e diferenças de quando se está triste. Em comum, tem a ver com o que sentimos e empatia por acontecimentos alheios. Mas, em vez de sofrimento, sentimos prazer, e nos reconhecemos em situações positivas, engraçadas. Somado a isso, tanto na tristeza como na alegria somos influenciados pelas diversas reações do organismo, e podem se manifestar individualmente ou até mesmo se cruzarem.
Por que choramos de rir ou de emoção?
Quando choramos após assistir a um comercial de TV fofo ou depois de gargalhadas em série, como ocorria frequentemente com a atriz e humorista Nair Bello, é porque antes o sistema límbico, uma área do cérebro responsável pela identificação e gerenciamento do que sentimos e nossas reações, foi ativado pelas emoções e liberou a produção do neurotransmissor acetilcolina.
Esse neurotransmissor percorre o sistema nervoso parassimpático, uma das divisões do sistema nervoso, avisando para diversas áreas que funcionam involuntariamente, inclusive as glândulas lacrimais, de que o organismo precisa retornar a um estado emocional estável e de equilíbrio. Chorar então faz parte desse agir, é uma estratégia de regulação emocional, assim como a diminuição das frequências respiratória e cardíaca, da pressão arterial e da adrenalina.
"Mas o lacrimejar também pode vir da dificuldade de escoamento da lágrima pelo sistema de drenagem", explica Rita de Cássia Lima Obeid, oftalmologista especialista em plástica ocular e vias lacrimais do Hospital Cema, em São Paulo. A acetilcolina também eleva a produção de muco e entope o nariz, então a lágrima não consegue descer, se acumula e transborda. "Ou também vir de um reflexo involuntário [comum na gargalhada, no bocejar], decorrente da contração dos músculos ao redor dos olhos, que por sua vez estimulam a glândula lacrimal".
Nem todo mundo chora
Animais produzem lágrimas, mas apenas quando os olhos deles estão secos, sensibilizados, a maneira como manifestam seus sentimentos não é igual a nossa. Eles uivam, abanam o rabo, pulam no dono, piam bastante. Os primatas são mais parecidos conosco, sorriem, a exemplo dos chimpanzés, sentem cócegas e se expressam bem facialmente. Porém, diferente de todos os seres, os humanos são os únicos que conseguem chorar de emoção e ainda na fase adulta. Mas não quer dizer que em uníssono.
"Nem todo mundo chora, nem quando está triste nem quando está feliz. O choro geralmente é uma expressão da tristeza, mas podemos sorrir quando estamos tristes também. Portanto, o choro está mais associado, digamos, há quem seja muito sensível", afirma Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo, e especialista pelo HC-USP (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo).
Por isso, sua relação com empatia. Quem não experimenta ou não se identifica com as mesmas emoções do outro, não vai chorar. Tem parte nisso e influencia bastante a maneira como se é criado. Há quem aprendeu desde pequeno a não demonstrar seu lado mais íntimo, por indicar uma fragilidade, por exemplo. Ou que travam por não saber reagir diante das emoções de alguém. Pode ter a ver também com traumas, não querer chamar atenção e personalidade.
Dá para controlar o choro?
Se uns não choram facilmente, há outros que escutam direto para "segurar a emoção", como se fosse possível. Mas é. Júlio Barbosa Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião com especialização pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles), garante que, embora a ativação das glândulas lacrimais seja involuntária, dá para tentar controlar o gatilho por trás.
"As emoções modificam muitas glândulas da gente, assim como quando também estamos excitados ou apreensivos e a boca seca por falta de saliva". Mas é possível aprender a modulá-las. "É o mesmo princípio usado com as frequências cardíaca e respiratória, trabalhadas em aulas de meditação, por exemplo. Com choro é parecido, como bem sabem os atores", diz.
Nos bastidores, com auxílio de mentores, eles treinam muito a habilidade de estimular o cérebro com sensações e imagens que mentalizam associadas a seu texto, ou referências reais e lembranças afetivas marcantes, que podem ser tristes, ou emocionantes, e assim conseguem ser convincentes em cena. Mas entre estimular lágrimas e contê-las, a segunda decisão ainda é mais difícil. É que entregue às emoções, o eu inconsciente e primitivo é quem assume o comando.
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