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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


'Mãe, de onde vêm os bebês?'. Veja como falar sobre sexo com crianças

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Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

25/08/2021 04h00

Mais cedo ou mais tarde, quem tem filhos vai se deparar com perguntas que vão desde a origem dos bebês até as razões da diferença entre a anatomia de meninos e meninas. Para respondê-las de forma natural e compreensível —e, assim, iniciar o processo de uma educação sexual saudável aos pequenos —, busque seguir alguma das estratégias a seguir. Vale lembrar que crianças esclarecidas e informadas tendem a ser mais responsáveis e confiantes e a adiar colocar o assunto em prática até que se sintam maduras e preparadas.

Construa um canal de diálogo com as crianças

Não há nada mais normal que, desde a tenra infância, meninos e meninas demonstrem curiosidade sobre o próprio corpo e desejem compreender como "entraram e saíram da barriga da mamãe". O ideal é que, à medida que as dúvidas vão surgindo, você responda com naturalidade. Construir um canal de diálogo com os filhos é fundamental para que se desenvolvam com uma ideia positiva sobre o sexo, sem medos ou tabus. Além disso, conversar e elucidar certas questões são ações producentes para evitar que as crianças acessem informações erradas ou deturpadas. Se não souber responder certas coisas (jamais subestime os impulsos curiosos dos pequenos!), fale que vai se informar e explique o mais rápido que puder.

Adote uma linguagem adequada

Qualquer conteúdo que envolva sexualidade deve ser abordado de forma natural, sempre adequando a linguagem empregada à faixa etária e à capacidade de compreensão. Se a criança é bem pequena, tudo bem usar "apelidos" como "pipi" ou "pepeca", por exemplo, ou outros termos de costume da família. À medida que o filho for crescendo, no entanto, o ideal é apresentar as palavras corretas: pênis, vulva, vagina. Livros para a faixa etária também costumam ajudar na hora de elucidar certas dúvidas, principalmente se tiverem o embasamento de pediatras e/ou psicólogos infantis.

Solucione dúvidas de forma compreensível

A criança costuma entender explicações simples. Uma tática aconselhada por especialistas para não só entender direito o que ela deseja saber, mas identificar se está pronta para ouvir o que planeja responder, é fazer a ela outra pergunta. Pode até ser uma pergunta bem básica, como "o que você acha que é isso?" ou "como você pensa que acontece?". Esqueça historinhas como abelhinhas ou cegonhas, já que apenas respostas sinceras produzem confiança e credibilidade. Explique de onde saiu a "semente" (ou espermatozoide) para justificar como ela cresceu na barriga, por exemplo. Com esclarecimentos assertivos e honestos, você satisfaz a curiosidade e permite que a criança confie em você.

Oriente sobre privacidade desde cedo

Embora adultos mais conservadores evitem pensar no assunto, o fato é que as crianças a partir de 3 ou 4 anos identificam sensações prazerosas ao se tocarem. Gritar, xingar, bater na mãozinha ou castigar são atitudes repressoras que podem gerar confusão —e até um comportamento futuro reprimido. Converse e explique que, apesar de gostoso, mexer "lá" é algo que não se faz na frente dos outros, assim como ir ao banheiro. Além de ensinar os primeiros conceitos sobre privacidade, aproveite para instruir que, a não ser quem cuida de seu filho ou sua filha e ajuda com a higiene, outras pessoas não devem mexer na região. Dar essas informações desde cedo é de grande ajuda para a prevenção de abusos.

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Três atitudes para evitar

Fugir da conversa

O desconforto em responder até a mais simplória das curiosidades pode ter a ver com a própria infância dos pais, que muitas vezes foi calcada em repressão e conservadorismo. Em alguns casos, a dificuldade de alguns pais e mães de falar sobre sexo se deve ao fato de que eles não têm nenhuma base teórica ou modelo para a conversa. Em vez de evitar o diálogo e seguir coibindo o assunto, para criar crianças saudáveis, confiantes e com autoestima é necessário descortinar o véu das repressões, combater as crenças equivocadas ou limitantes aprendidas e se dispor a buscar informação para cumprir o papel de educar.

Acreditar que falar do tema vai incentivar o início da vida sexual

Não são poucas as pessoas que sentem o receio de que qualquer conversa sobre o tema em casa sirva como um incentivo à prática sexual precoce. Porém, na verdade, o resultado é justamente o oposto. Conforme pesquisas científicas, crianças e adolescentes que receberam informações completas e verdadeiras tendem a retardar o início da vida sexual e são menos suscetíveis à gravidez precoce e à contaminação por IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis).

Achar que não dialogar vai frear a curiosidade

Não, não vai. A tendência é que a criança ou o pré-adolescente busque as informações pelas quais anseia em outras fontes —nem sempre confiáveis ou seguras.

Fontes: Danielle H. Admoni, psiquiatra da infância e adolescência na Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); Deborah Moss, neuropsicóloga especialista em comportamento infantil e mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo); Mariana Bonsaver, psicóloga do Hospital e Maternidade Pro Matre, em São Paulo (SP); Stella Azulay, diretora da Escola de Pais XD, educadora parental pela Positive Discipline Association e especialista em análise de perfil e neurociência comportamental pela Faculdade Belas Artes, em São Paulo (SP).