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Enxerto de tecido no corpo não é tudo igual e tem indicações específicas

Enxerto pode ser de pele, gordura, nervo, osso, fáscia, tendão, derme e cartilagem - iStock
Enxerto pode ser de pele, gordura, nervo, osso, fáscia, tendão, derme e cartilagem Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

26/08/2021 04h00Atualizada em 26/08/2021 13h33

Queimaduras de 3º grau, feridas traumáticas, úlceras venosas, falhas teciduais decorrentes da retirada de tumores, são diversos os motivos graves que podem demandar uma reconstrução cirúrgica com enxerto de tecido.

Esse recurso é usado quando não se consegue um fechamento com curativos, sutura simples, retalho cutâneo local e a perspectiva de recuperação não é boa, havendo cicatrização demorada, dores, aspecto estético deformado e risco de contaminação.

Thiago Calado Pereira, cirurgião plástico pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da DaVita Serviços Médicos, explica que os enxertos podem ser classificados de acordo com a origem do tecido utilizado: autoenxerto (quando é retirado do próprio paciente), aloenxerto ou homoenxerto (de outro indivíduo, mas da mesma espécie) e xenoenxerto (proveniente de outras espécies, como tilápia e suínos).

Podemos realizar enxertos de vários tecidos, como pele, mas ainda gordura, nervo, osso, fáscia, tendão, derme e cartilagem.

São diversas opções

pele de tilápia queimadura - Divulgação - Divulgação
Pele de tilápia aplicada sobre queimadura para diminuir dor e acelerar cicatrização é um tipo de enxerto
Imagem: Divulgação

Os enxertos também podem ser classificados em simples ou compostos. Os primeiros são constituídos por um único tipo de tecido e os segundos por mais de um, como os enxertos condrocutâneos (pele e cartilagem) e dermogordurosos (pele e gordura), por exemplo. Tem mais. Em se tratando dos enxertos de pele, podem ser divididos em pele total ou pele parcial.

Os de pele total contêm a epiderme (camada mais superficial da pele) e toda a espessura da derme (camada localizada sob ela) e são utilizados mais para pequenas lesões, principalmente em face, axilas e mãos.

"Os enxertos de pele total são um pouquinho difíceis de pegar, pois é preciso de mais suprimento sanguíneo na área receptora. Sua sobrevivência depende de vascularização e ela precisa ser boa", informa Alan Landecker, cirurgião plástico membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica).

Já os enxertos de pele parcial contêm a epiderme e parte da espessura da derme e podem ser subdivididos em fino, médio e grosso. Quanto mais estreito, mais rápida a área doadora se regenera, melhor a sua aparência e maior a chance de o enxerto ser "nutrido" e se fixar na área receptora.

Se beneficiam com esse tipo de enxerto principalmente regiões como dorso, tórax e abdome, que são mais extensas e não têm tanto risco de complicação por retração.

A pele usada pode ser retroauricular (situada atrás da orelha), da prega inguinal (inferior do abdome), da região medial do braço, da região supraclavicular (localizado acima da clavícula) e se for para um enxerto do tipo total requer ter a área de sua extração costurada, diferente da área doadora dos enxertos de pele parcial e que tem capacidade de se regenerar sozinha.

Extração e recolocação

Em geral, havendo indicação médica e boas condições clínicas, qualquer pessoa, em qualquer faixa etária, pode ser submetida a esse procedimento de retirada e colocação de enxerto. No tratamento de queimaduras, por exemplo, se observa de recém-nascidos a idosos.

Claro que pacientes nestes extremos de idade exigem particularidades no tratamento, normalmente por menor tolerância a sangramentos e riscos de infecção e, nos idosos, de trombose venosa.

Nariz após retirada de tumor, carcinoma, câncer no nariz, câncer de pele, enxerto - iStock - iStock
Imagem: iStock

Em se tratando da enxertia de pele total, o procedimento pode ser realizado sob anestesia local e em consultório médico devido à sua área ter pequenas dimensões. Agora, o enxerto de pele parcial, indicado para cobertura de áreas extensas de perda de pele, afetadas por traumas, tumorações grandes ou queimaduras, é feito sob anestesia geral ou loco-regional.

"Quando a necessidade de cobertura for maior do que a quantidade de pele obtida por esse método [parcial], esse enxerto poderá ser aumentado em sua área por um processo chamado de expansão, através de um aparelho manual chamado mesher graft, que transforma as lâminas de pele em malhas, ganhando assim aumento em várias vezes a sua área", aponta Ana Carolina Guimarães Rocha, cirurgiã plástica pela FM-UFBA (Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia) e professora de cirurgia ambulatorial na Afya Educacional.

O que esperar depois?

Uma vez escolhida a área de pele ideal, o fragmento para enxerto então é recortado, customizado em formato e dimensões do local em que será aplicado e por ser desprovido de vascularização (essa é a principal diferença entre enxertos e retalhos), ao ser aplicado necessitará de aporte sanguíneo para que não necrose.

Na área de onde saiu, sobra uma cicatriz, que, dependendo, pode ser atenuada com uma dobra de pele, ou implante de pelos.

Áreas doadoras com cicatriz hipertrófica podem demandar uso de malhas compressivas. Quanto à cicatrização das receptoras, tanto os enxertos de pele total como parcial e laminada necessitam, além de curativo fechado e imobilização por 5 a 7 dias, mais uma semana de proteção com uso de gaze não aderente e dentro de cerca de um ano não receber exposição solar (a fim de se evitar alterações de cor e textura), e caprichar na aplicação de hidratantes.

"É todo um processo de recuperação. Porém, mesmo assim, não se compara à pele normal, fica cicatriz, fibrose. Na área doadora, quanto mais profunda a retirada, mais sequelas também. É uma cirurgia reparadora para casos bem sérios, então o resultado estético não é perfeito", lembra Wendell Uguetto, cirurgião plástico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).